Sempre que vejo reportagens como essa paro e reflito sobre a frase colocada em meu perfil. Um projétil percorre em alguns segundos grande distância e penetra facilmente o corpo humano. Destrói vidas, mata sonhos!
Agradeço a Deus por nunca ter tido problema ao efetuar disparos a “ermo” no início de minha carreira no serviço de rua. A falta de preparo e o medo de não ser visto como “operacional” me conduzia a isso todos os dias. A todo o tempo acreditava que deveria provar a minha equipe que eu estava pronto para tudo.
Hoje reconheço que praticamente todos os disparos foram desnecessários e poderiam ser evitados, mas em minha mente ainda era latente o “DISPARO DE ADVERTÊNCIA” aprendido no curso de formação. Mudou a lei, mas não a cultura internalizada em mim. Ela perdurou por muito tempo. Durante alguns serviços, em lugares mais estressantes, ainda tenho que lutar contra ela!
É importante refletirmos sobre isso, pois duas famílias foram atingidas pela tragédia. O desgaste emocional e financeiro é muito alto quando erramos!
O aprimoramento deve ser constante. A construção é diária!
Menino baleado por PM tem melhora
Ary Filgueira
Publicação: 16/08/2010 08:14
 O último boletim médico sobre o estado de saúde do garoto de 11 anos, atingido por um tiro nas costas no dia 7 deste mês, deixou os pais dele confiantes: “meu filho vai se recuperar”, desabafou o garçom Antônio Paulo, 38, ontem, por telefone. Ricardo* saiu do coma e, segundo a última avaliação dos médicos do Hospital de Base (HBDF), está 90% curado da pneumonia que contraiu. Mas a bala de pistola calibre .40 continua alojada na coluna da vítima. A Polícia Civil colheu material para examinar o solo no local do crime
O menino recebeu um tiro nas costas durante a abordagem policial ao grupo dele, na Fercal, em Sobradinho II. De lá para cá, muitas divergências nos depoimentos de policiais militares e amigos da vítima impedem à Polícia Civil de concluir se o caso trata-se de um acidente ou se o disparo efetuado pela arma do soldado Wander Martins de Souza, 38, lotado no 13ª Batalhão de Polícia Militar (Sobradinho), foi intencional.
Em depoimento, o policial militar alegou que a arma havia disparado após ele se desequilibrar e cair próximo ao local onde Ricado, o irmão de 18 anos e dois amigos estavam: na Quadra 12 do setor conhecido como Boca do Lobo. O “cascalho”, presente no solo acidentado da rua teria provocado o tombo dele. Mas os jovens foram unânimes em declarar que o soldado Wander chegou atirando na direção deles. A polícia espera esclarecer a questão com a conclusão do laudo de exame do local, realizado no dia do crime.
Alojada
O pai tem passado dias e noites no HBDF. Na semana passada, Ricardo piorou e foi induzido ao coma. Entubado e respirando com a ajuda de aparelhos, o menino teve, ainda, infecção no pulmão esquerdo. Desde ontem o menino respira normalmente e está consciente. `Hoje, eu fiz cócegas nas pernas dele, que sentiu`, contou Antônio, com a voz embargada.
Os médicos, no entanto, não puderam retirar a bala, alojada na coluna da vítima. A lesão, segundo Antônio, é grave. “A bala perfurou, segundo os médicos, uma das vértebras da coluna dele”, disse o pai. A informação não desanimou o garçom. Principalmente, depois da última conversa que os dois — pai e filho — tiveram no hospital. “Ontem, ele me disse que está confiante que vai voltar a andar”, revelou.
* Nome fictício por exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Fonte: Correio Braziliense