O tradicional Festival Panorama, um dos principais eventos de artes do corpo, dança e performance do Brasil e da América Latina, promove este ano a primeira edição Jangada/Raft. A primeira parte, denominada Festival Panorama Jangada, terá início no próximo fim de semana, apresentando projetos artísticos criados por jovens da periferia do Rio de Janeiro. Para esta etapa foram recebidos 56 projetos que responderam ao edital publicado em fevereiro passado, com o objetivo de abrir oportunidades na pandemia do novo coronavírus para artistas da periferia carioca. Foram selecionados para essa primeira “flutuação” cinco criações fluminenses, informou hoje (20) à Agência Brasil o diretor de produção do festival, Rafael Fernandes.

O Festival Panorama teve a primeira edição em 1992. Só deixou de ser realizado em 2019, por falta de financiamento, e em 2020, devido à pandemia do novo coronavírus. No ano passado, foi feita somente uma maratona de leituras, que durou três dias. Ao longo da sua história, apresentou companhias e artistas nacionais e estrangeiros, com papel fundamental na construção da memória da dança e da arte contemporânea no Rio de Janeiro, bem como a importância da relação entre essa arte e o seu público.

Para retornar com a programação este ano, a organização teve a ideia da jangada. “O Panorama segue navegando nos mares revoltos de hoje, desta vez como uma jangada, carregando consigo cinco projetos do Rio de Janeiro”, manifestou a diretora-geral do evento, Nayse López. “É juntar vários pedaços para criar uma nova forma de apresentar as obras”, esclareceu Fernandes. “Essa jangada é a união desses artistas cariocas para reunir forças para superar as adversidades”, completou.

Ineditismo

Os cinco projetos escolhidos são Èdà (vídeo dança com cenas performáticas gravadas pelo território da Favela da Maré), O Berro (vídeo que aborda a realidade do cárcere do Brasil, com a participação de duas mulheres atingidas pelo sistema prisional e uma juíza criminalista), Práticas de Invasão (dança/paisagem que negocia com a condição de mundo que estamos vivendo), Elegbará (dança efêmera e visceral que dialoga com a cidade e faz das ruas um verdadeiro palco) e Museu dos MeninosSem título para uma radiocoreografia (experiência coreográfica através de palavras, som e música).

As obras escolhidas são todas inéditas e utilizam ferramentas audiovisuais, sendo que uma delas apresentará coreografia a partir de um áudio, outra será executada e transmitida ao vivo pela internet. Os projetos dos jovens e grupos da periferia do Rio foram selecionados por um coletivo do qual fazia parte a diretora-geral do evento, Nayze López, atendendo aos requisitos de qualidade artística, ineditismo e biografia dos artistas. “Nessa seleção, o objetivo foi esse: trazer novas caras. Acabou que foi uma seleção bastante jovem”, disse Rafael Fernandes. “Eles são jovens, mas não são inexperientes. Todos têm um currículo que a gente acredita que contribui artisticamente para a programação”.

A primeira parte do Festival Panorama Jangada/Raft, dedicada aos artistas do Rio de Janeiro, tem apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, por meio da Lei Aldir Blanc. O público pode encontrar as redes sociais onde serão exibidas as performances no site oficial do festival. No dia 24, às 17h, será transmitida a obra Práticas de Invasão; no dia 25, também às 17h, Museu dos Meninos. Nos dias 30, 1º e 2 de maio, será transmitido o projeto Elegbará, às 20h. No dia 1º de maio, será a vez da obra Èdà, às 20h e, no dia 2, encerrando a programação dessa primeira parte do festival, o público conhecerá o projeto O Berro, às 18h. Nos dias 25, 26, 28 e 2 de maio, as apresentações serão seguidas de “conversas flutuantes” ou bate-papos, com os elencos dos projetos.

Segunda flutuação

Rafael Fernandes explicou que as parcerias internacionais sempre foram importantes para o festival, bem como a exibição de obras de artistas estrangeiros para o público brasileiro, Mas, este ano, o propósito do Festival Panorama Jangada foi contribuir para a cena local, destacou. Na segunda etapa, que se desdobra no Festival Raft (jangada em inglês), a ideia foi firmar coproduções internacionais.

A edição do Festival Raft é patrocinada por teatros e produtores estrangeiros. Neste momento, está sendo realizada convocatória para seleção de dez artistas brasileiros, de todas as regiões do país, que se exibirão no festival, também no formato virtual, no final de agosto. O calendário será divulgado posteriormente. A exigência é que os projetos tenham sempre alguma relação com o corpo.

Ao final da edição, os coprodutores internacionais poderão escolher quais obras serão exibidas nos seus teatros e festivais no exterior, a princípio de maneira virtual, disse Fernandes. Segundo o diretor, essa é uma experiência de produção inédita no Brasil, que o Festival Panorama pretende desenvolver.