Durante o período que tenho estado trabalhando na parte operacional, Rádio Patrulha, na Cidade Estrutural, uma das cidades mais pobres e violentas do DF, tenho aprendido que todas as vezes que seguimos a lei, ou seja, trabalhamos dentro da legalidade o serviço flui muito bem. Terminamos sem nenhuma alteração, mas todas as vezes que “inventamos” ou queremos fazer algo a mais, sempre acaba dando algo errado.
É difícil uma abordagem naquela cidade, e raro uma que não tenhamos “alteração”, alguns poderiam me dizer, poxa Aderivaldo, mas “abordar” não é legal? Sim, mas a tal “da fundada suspeita é complicada” e os moradores de lá são diferenciados, muitos já são “clientes” antigos das forças policiais. Atualmente temos seguido um “cartão programa” que tem definido os locais onde “deveremos” ou que nos “recomendam” abordar, Fato que pode ser positivo ou negativo, as duas vezes que seguimos tal “cronograma” quase deu merda. Abordagem é algo a ser feito em “último” caso, é como um remédio que ao ser utilizado excessivamente vai fazendo com que as bactérias vão ficando mais fortes. Precisamos ter cautela.
Na cidade estrutural é um pouco diferente do que estou acostumado. A população parte para cima dos policiais, em defesa de “seus filhos”, “seus esposos”, “seus amigos”, sempre que estão sendo abordados. Lá é uma comunidade “unida”, normalmente surgem mulheres com crianças no colo e mães desesperadas, super protetoras, para “impedir” prisões ou abordagens de seus entes queridos. É lindo ver políticos sendo conduzidos sem algema, precisamos ver por lá, a única vez que fui “seguir” o “protocolo” do supremo, quase deu merda, a realidade é muito distante da teoria.
Não foi só uma vez que recebemos pedradas, ou que tivemos que sair as pressas de uma abordagem para não termos maiores problemas. Em uma última condução, o preso quebrou a parte interna da viatura, o “acrílico” que separava o cubículo da parte interna. O acrílico saiu voando quando nos feriu, bateu no volante e o maluco ainda queria pegar o patrulheiro. Quase causou uma acidente grave em uma pista de alta velocidade. Reparem bem no que eu disse, um “ACRÍLICO”. Nós que estamos nas ruas, estamos abandonados à própria sorte. Fazemos o que podemos, mas podemos muito pouco.
Cada dia que tenho estado nas ruas trabalhando tenho percebido como está distante o planejamento estratégico do governo do planejamento operacional ou da ação operacional propriamente dita. Quem esta na base nem sabe o que é “Viva Brasília”, o plano de marketing de uma empresa do governo que visa “trabalhar” os dados referentes a segurança pública no DF, ou o “Pacto pela Vida”, o sonho de alguns visionários que atuavam no sistema. Que está na base esta lutando apenas para sobreviver, pagar as contas e voltar para casa todos os dias, vivo, para no dia seguinte, se possível, tirar um voluntário ou um extra no final de semana.