Quem tem uma pequena noção sobre segurança pública e que estudou um pouco sobre a construção do Pacto pela Vida em Pernambuco rapidamente perceberá o fracasso do projeto Viva Brasília no Distrito Federal. Se olharmos outros estados que utilizam a mesma metodologia não teremos dúvidas.

A metodologia do Pacto pela Vida gira em torno de alguns eixos básicos. O primeiro deles é ter um recorte claro dos crimes que serão priorizados, por diversas vezes eu afirmei aqui que a mudança ocorre do “micro” para o “macro”. Alguns gestores não compreenderam isso na atual gestão da SSP. Os números demonstram que a gestão anterior sabia o caminho a seguir, a atual parece perdida. O recorte é sempre os Crimes Violentos Letais Intencionais, os famosos CVLIs. Por que isso? Simples! Por que a prioridade é a vida em qualquer lugar do mundo. Não interessa que estes crimes representem “apenas” 0,5% dos crimes cometidos no DF, como a gestora da pasta uma vez afirmou, estamos falando de vidas. Elas são prioridade e sempre serão prioridade.

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A proteção vida é uma prioridade sempre, com isso busca-se mecanismos para proteger a “vida” e isso incluí tentativas de homicídios, lesões que possam levar a morte, dentre outros crimes que possam atentar contra a vida. Depois vem a liberdade, por isso é importante focar em crimes que tire a liberdade das pessoas, damos como exemplo o sequestro, extorsão mediante sequestro e outros que sigam a linha. Neste ponto também incluí a liberdade sexual. Por isso os estupros devem ser prioridade também, mesmo que represente “apenas’ 0,7% dos crimes cometidos no DF. Parece fácil, mas é difícil fazer algumas autoridades compreender isso. Falar em Pacto pela  Vida é falar em “ações cirúrgicas” e não “generalistas”. Nossa dúvida é: somos especialistas ou generalistas?

Estupro

Sendo ações “cirúrgicas” é necessário qualificação. Por isso ao falar em Pacto pela Vida, necessariamente é preciso falar em potencializar as ações de inteligência e as ações de transformação de dados em conhecimento que precisa ser difundido, por isso a importância da análise criminal, das construções das manchas e da aplicação do policiamento exatamente onde os “sintomas” são mais evidentes. Neste sentido foi criada uma subsecretaria de gestão da informação e outra de Valorização Profissional, que difundiriam tal informação para a base. Como disse, não compreenderam isso, talvez nunca compreenderão, sabe por que? Simples. A maioria que está a frente hoje da pasta, não participou da gênese do pensamento. Não estão dentro da visão. São burocratas, em sua maioria, preocupados com cargos, não com ações efetivas de melhoria do sistema de segurança.

Resumo do Policiamento Inteligente

O último ponto na lista das prioridades do “combate ao crime” são os crimes contra o Patrimônio. Não que eles não sejam importantes, objetos furtados podem ser recuperados, e são em sua maioria no DF, a vida não. Como recuperar a vida de uma mulher que teve sua liberdade sexual violada? Os traumas irão acompanhá-la pela vida! Como recuperar a vida de uma pessoa que foi retirada abruptamente? Como fazer alguém esquecer o trauma de um sequestro? São estas perguntas que a sociedade precisa fazer para definir quais crimes deseja que as forças policiais priorizarão na prevenção e posteriormente na busca da autoria e materialidade. A imprensa também precisa participar deste debate para compreender quais matérias precisa focar.

Aderivaldo Cardoso é Especialista em Segurança Pública e Cidadania, Pós graduado pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, ex-Assessor Especial de Gabinete da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social e ex-Assessor Especial de Comunicação da Pasta.  Autor do Livro Policiamento Inteligente – Uma análise dos Postos Comunitários de Segurança Pública no Distrito Federal.