João Paulo Mariano
Especial para o Jornal de Brasília
As entidades representantes da segurança pública do DF podem até discordar em diversos assuntos, mas são unânimes em dizer que há apenas uma expressão que descreve a situação da área no DF: colapso. Entre os diversos motivos que utilizam para exemplificar o problema estão a falta de gestão da pasta e a má utilização dos recursos que deveriam ser destinados aos policiais militares e civis. Enquanto isso, a população fica sem parte da assistência de que precisa e sem ter como contar com as forças de segurança em sua totalidade.
Sem ter como reagir, os moradores assistem atônitos a toda a discussão e temem um aumento ainda maior da criminalidade. Só no último fim semana (do dia 7 ao dia 9), foram dez homicídios e 15 tentativas nas regiões de Brazlândia, Gama, Riacho Fundo, Sobradinho, Paranoá e Plano Piloto.
E não parou no final de semana. Na manhã de ontem, por volta das 9h, Márcio Mendes da Silva, 34 anos, foi morto com um tiro na cabeça no meio da rua, no Itapoã. A Polícia Civil informou que há a suspeita que o autor seja um vizinho da vítima, de 27 anos. Moradores da localidade informaram aos policiais que, na noite de domingo, vítima e suspeito tiveram uma briga por motivo fútil. Márcio não teria gostado de como o suposto autor do crime olhava para ele. Na porta da residência do suspeito, a polícia encontrou uma porção de maconha e, em cima da cama, uma cápsula de revólver calibre 38 e uma touca ninja preta. A Polícia Militar informou que os vizinhos entraram na casa do acusado e quebraram alguns objetos.
Para o presidente do Sindicato dos Policiais civis do DF (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, essas situações devem continuar se o governo não priorizar a segurança pública. “A segurança está em colapso. Temos anunciado isso desde o início do governo. A segurança pública não é uma prioridade desse governo”, avalia o presidente que garante que, com isso, as investigações ficam atrasadas e os criminosos impunes. Assim, o aumento da criminalidade é inevitável. “O que deixa o criminoso preso é a investigação e não a prisão em flagrante. Com uma investigação bem feita e com provas, a pessoa fica presa por meses ou anos”.
Rodrigo Franco afirma que é preciso que o governo entenda a segurança pública como prioridade, injete mais recursos e que cada corporação faça o seu papel, a Civil investigando e a PM no policiamento ostensivo.
Versão oficial
Para a secretária de Segurança Pública, Márcia de Alencar, o último fim de semana foi atípico para este ano. Segundo ela, todas as medidas para a redução e elucidação dos crimes estão sendo adotadas. Márcia considera que a pasta busca implementar estratégias para diminuir a criminalidade e fazer a boa gestão da segurança do DF. A secretária garante que há uma iniciativa de integrar as forças de segurança para atuarem em algumas regiões do DF que apresentam altos índices. Essa, diz ela, é uma forma de mostrar que a gestão no DF funciona.
Em relação às críticas ao seu trabalho, Márcia de Alencar afirma que a função de um secretário de Segurança não é estar nas mesas de negociação trabalhistas ou sindicais, mas sim cuidar “das relações institucionais e da integração dos serviços com foco no fortalecimento das instituições”. Para ela, relações trabalhistas devem ser tratadas com a Casa civil, Planejamento e Casa Militar. “Nenhuma força é mais importante que a outra. O importante é fortalecer a comunidade”, conclui.
Partes não se entendem
“Em meus 19 anos de Polícia Militar, a segurança do DF nunca esteve pior. Não há plano de contenção da violência, nem policiamento ostensivo. Além disso, só tem polícia onde não há crime”, reclama o presidente da Associação do Praças, Policiais e Bombeiros Militares do Distrito Federal (Aspra), João de Deus. E adverte: “Ou o governo faz alguma coisa ou vai entrar em colapso”.
Para João de Deus, a principal medida neste momento seria a troca do titular da pasta de Segurança Pública, Márcia de Alencar. “Ela pode entender de muitas coisas, mas não consegue gerir a secretaria”, afirma.
O especialista em segurança pública e professor da Universidade Católica de Brasília Nelson Gonçalves lembra que a taxa de homicídios no DF não tem uma grande variação nos últimos 30 anos. Isso pode ser interpretado de duas formas: “Há uma estabilidade na má gestão. Os governos passados e, inclusive, os de agora, vêm gerindo mal o setor. Ou esse é um discurso oportunista em função dos problemas que sabidamente existem entre as forças de segurança e a secretaria”. No meio, diz ele, há a população que fica amedrontada vendo as taxas de criminalidade subirem em alguns momentos.
Fonte: Jornal de Brasília – 11/10/2016