Desengavetar o projeto de videovigilância em todo Distrito Federal é prioridade para o novo secretário de Segurança Pública, Edval de Oliveira Novaes Júnior. Incompleto, o “Big Brother” contra o crime é uma das promessas descumpridas pelo governo passado, de Agnelo Queiroz (PT), e seguia ignorado pela gestão Rollemberg (PSB). A retomada será feita com a reformulação do projeto inicial, custeada por R$ 4 milhões de verba complementar.
Apresentado em 2013 como um legado da Copa do Mundo de 2014, o projeto instalaria 835 câmeras em pontos estratégicos por todo DF, ao custo de R$ 26,3 milhões. No entanto, da mesma forma como a torcida verde e amarela ficou decepcionada com a derrota da seleção brasileira de futebol para a Alemanha por 7 a 1, os brasilienses também amargaram a decepção de ver o videomonitoramento ficar apenas na promessa.
Quatro anos após o começo do projeto, foram gastos R$ 15,6 milhões e somente 135 câmeras estão funcionando efetivamente. Aproximadamente 365 foram instaladas, mas não estão em operação devido a pendências técnicas diferentes. Segundo a Secretaria de Segurança, as poucas lentes em operação estão presentes na área central de Brasília, Samambaia, Ceilândia, Taguatinga, Águas Claras, Itapoã, Riacho Fundo I e II.
“Nós vamos fazer um trabalho intensivo para concluir esse projeto. A gente está tomando uma série de providências em relação ao contrato anterior para concluir o mais rápido possível”, afirma Edval de Oliveira. Segundo o secretário, a videovigilância será uma ferramenta de inteligência e prevenção contra crimes.
Formas de uso
“Vale para a prevenção, e te digo o seguinte: vale para vários outros órgãos de governo e não só para a Segurança Pública. Ou seja, essas câmeras poderão ser utilizadas também pela Agefis (Agência de Fiscalização do DF), pela Secretaria de Fazenda, por vários outros órgãos. Nossa ideia é potencializar o uso deste instrumento para o governo como um todo”, argumenta o secretário.
No caso da Agefis, as lentes poderão ajudar na luta contra o uso irregular dos espaços públicos. A Fazenda terá mais uma arma contra os ilícitos tributários e financeiros. Priorizando a inteligência no combate ao crime, o secretário também planeja melhorar o funcionamento do Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) da Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade).
Desperdício é insultante
Quem caminha pelas ruas cobra a conclusão do sistema de videovigilância. “O problema do nosso País, da nossa cidade, da nossa cultura, é que a gente têm boas ideias, boas soluções, mas não as coloca em prática. Cai no esquecimento. Vai passando o tempo e quando precisa, de fato, a gente não tem em nossas mãos a solução”, critica o técnico em ótica Klayton Bandeira. Na avaliação do morador do Guará, hoje a segurança pública deixa muito a desejar.
Bandeira trabalha há mais de 15 anos na área central de Brasília. Para ele, a região não é segura, principalmente após as 18h. “Se as câmeras estivessem funcionando, é lógico que aumentaria a sensação de segurança”, comenta. Segundo o técnico, a videovigilância deve ser associada a uma política de investigação e ação rápida das forças de segurança, conforme cada situação. Afinal, se o sistema se limitar a filmar por filmar, será mais um ralo para o desperdício de dinheiro público.
A promessa não cumprida é um tapa na cara da população, especialmente para as vítimas de crimes em locais onde o monitoramento deveria flagrá-los. O assistente administrativo Janderson Ramos da Mota relata esse desconforto. “Já vi casos de pessoas sendo assaltadas ao lado dos postes das câmeras no Itapoã. Teve o crime, depois não prenderam ninguém, não correram atrás dos bandidos. Já roubaram o carro de um amigo meu perto de uma câmera e ficou por isso mesmo”, desabafa o morador do Paranoá.
Crimes
O combate constante aos crimes contra a vida e a preocupação com os tipos criminais com tendência de crescimento norteiam a estratégia do novo secretário de Segurança. “O que sempre nos preocupa é a questão do homicídio. Sem dúvida nenhuma”, argumenta Edval de Oliveira. Atualmente, a pasta também redobrou os esforços quanto aos roubos a pedestres. Na leitura do secretário, a pasta conseguiu frear o aumento destes crimes, mas é necessário ainda mais trabalho para uma redução expressiva desta modalidade. Afinal, assaltos a pedestres influenciam expressivamente a sensação de insegurança da população.
“É um dos piores crimes que se possa ter. A questão do tráfico, por sua vez, é de mercado, oferta e procura. Enquanto tiver usuário, vai haver o traficante. E é muito complicado a gente atuar criminalmente nesta situação, porque existe, de certa forma, a tendência de se descriminalizar o usuário, criminalizando o traficante. Fica complicado para o trabalho da polícia”, pondera. Assim, o tráfico de drogas também é uma preocupação, pois a partir dele é gerada uma série de outros crimes atrelados à violência.
Fonte: Jornal de Brasília – Por Francisco Dutra