A onda de violência vem assustando moradores do Distrito Federal. Em uma semana, pelo menos oito casos, ocorridos em pontos diversos e à luz do dia, aumentaram as estatísticas e também o medo da população. Nem as áreas nobres da capital escaparam da ação dos bandidos e viraram palco de cenas de filme de bangue-bangue nos últimos dias.
Em 25 de maio, uma joalheria do Gilberto Salomão, no Lago Sul, foi atacada por um casal bem-vestido. Dois dias depois, os alvos passaram a ser uma joalheria e uma chocolateria no Sudoeste, outra área nobre de Brasília. No dia 29, novo caso, ainda mais chocante. Um PM reagiu a um assalto e acabou baleado na 703 Norte, quadra onde ocorreu o roubo a uma autoescola e troca de tiros em um estacionamento entre sexta (26) e sábado (27).
Pensa que acabou? Na quarta-feira (31/5), um tiroteio assustou pedestres nas proximidades do Sebrae e da Escola Americana, na L2 Sul. Do outro lado da cidade, porém no mesmo dia, outro PM reagiu a um roubo em Samambaia e matou um dos ladrões. Em Planaltina, a vítima da criminalidade foi uma menina de 15 anos, raptada e estuprada por três homens quando saía da escola. E o mês de junho já começou com mais um assalto à luz do dia, desta vez, no laboratório Sabin de Águas Claras.
A onda de insegurança não está poupando nem os deputados distritais. Cinco pessoas assaltaram a casa de um assessor do Bispo Renato Andrade (PR) nessa quarta-feira (31), na região do M Norte, em Taguatinga. O assalto ocorreu quando o servidor e mais quatro integrantes da família estavam em casa. Os bandidos agrediram as vítimas com coronhadas e as prenderam no banheiro.
O comerciante Aílton José dos Santos está entre as pessoas que foram vítimas da violência na última semana. No dia 27 de maio, a sua loja, Fênix Joias, foi roubada pela terceira vez em 15 anos. O empresário se queixa da falta de rondas da PM no Sudoeste.
“Ficou mais escasso o policiamento de uns dois anos para cá. Eles dizem que têm pouco policial, que sofreram com diminuição do efetivo”, ressalta Aílton (foto em destaque). Funcionária da joalheria, Rose Almeida passou a trabalhar com mais medo. “O Sudoeste sempre foi um lugar tranquilo e mudou de uns tempos para cá. Espero que aumentem a segurança”, cobra.

“Estamos assustados com os novos tipos de assalto. Agora, eles (bandidos) atacam bem-vestidos. Não tenho mais segurança na loja porque não faz mais diferença, nem as câmeras.”

Aílton José dos Santos, proprietário da Fênix Jóias

Recorrer ao 190, telefone de emergência da Polícia Militar, tem sido um recurso cada vez mais raro para os comerciantes do Sudoeste. O pedido de socorro policial é feito diretamente no 7º Batalhão da PMDF. Um grupo de WhatsApp foi criado pelos lojistas para a troca de informações, inclusive com a presença do comandante e outros profissionais da PMDF.
Nesta sexta-feira (2/6) haverá um novo encontro do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) para que a situação seja discutida. “Seria bom que eles voltassem com o policiamento em duplas e reativassem o posto policial aqui do Sudoeste”, reivindica Aílton dos Santos.
Terror
Também no Sudoeste, os funcionários da Fujiclik viveram momentos de terror no dia 27 de maio. Eles foram trancados no banheiro enquanto três assaltantes limpavam a loja. Os bandidos levaram pelo menos 20 aparelhos celulares do estabelecimento. “O Sudoeste não era assim. Aqui, os bandidos chegaram e agiram em poucos minutos e como se fossem clientes”, diz uma das funcionárias da loja, que prefere não ter o nome revelado.
Diante dos episódios mais recentes, a população fica ainda mais acuada. Funcionária do Sebrae da L2 Sul, local onde houve um tiroteio esta semana, a assistente administrativa Adriana Melo se apressa na caminhada entre a instituição e o carro. Tudo para não se tornar uma nova vítima dos bandidos. Em poucas palavras, ela resume o que tem sentido na cidade. “Está muito perigosa, seja em área residencial ou em colégios”, reclama.

A Polícia Militar garante que está fazendo a sua parte e mostra um reforço na área de segurança. Informa que, até o fim do mês, novas viaturas e 2 mil policiais devem ingressar na corporação. Diz também que semanalmente desloca policiais do serviço administrativo para colaborarem nas ruas e que tem se esforçado para identificar os dias, horários e locais de maior incidência dos crimes. O levantamento é feito a partir das ocorrências registradas nas delegacias da Polícia Civil.

O consultor em Segurança Pública George Felipe Dantas garante que o DF vive um “surto” de violência. “De outro lado, os órgãos de segurança pública vêm sofrendo com diminuições em seus quadros por causa dos aposentadorias, mortes e invalidez, e não existe reposição”, ressalta.
De acordo com o especialista, o surto de violência vem causando pânico geral. “É essa sensação na sociedade de fim do mundo, de Deus nos acuda, de socorro. Esse pânico moral traduz o que estamos vivendo. Um aumento na área de abrangência desses crimes”, assegura.
Estatísticas
Nos quatro primeiros meses deste ano, a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social registrou 2.968 roubos a pedestres e 169 roubos a comércio no Distrito Federal. As estatísticas diminuíram em comparação ao mesmo período de 2016.
Quando o recorte é por cidade, os números mais recentes divulgados se limitam aos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Nesse período, a região de Brasília registrou 597 ocorrências de roubo a pedestre. Destas, 248 foram na Asa Sul e 168 na Asa Norte.
De acordo com a Secretaria de Segurança, as estatísticas de roubos a pedestres aumentaram na Asa Norte, de 138, em janeiro e fevereiro do ano passado, para 168 casos no mesmo período deste ano. No Lago Sul, subiram de 10 para 19, em 2017.
 




Fonte: Site Metrópoles – Texto de IAN FERRAZ