O Sudoeste sofre com uma série incomum de crimes. Episódios de violência acentuada, como casos de assaltos à mão armada, alguns em plena luz do dia, têm assustado moradores e comerciantes do bairro tido como um dos mais seguros do Distrito Federal. A rotina de apreensão e medo prejudica a economia local e restringe a vida social dos habitantes. Por outro lado, autoridades argumentam que o temor das vítimas de reportar os delitos à polícia compromete o combate à violência e agrava as estatísticas na região.
De janeiro a abril deste ano, o balanço criminal da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) demonstra que, em comparação ao mesmo período de 2016, o Sudoeste testemunhou aumento de 35,5% na quantidade de roubos a pedestres. Só em março, foram 17 assaltos a pessoas que passeavam pelo bairro, um crescimento de mais de 41% em relação ao ano passado. Furtos em veículos, por sua vez, também aumentaram quase 9%.
Em menos de uma semana, dois estabelecimentos foram assaltados na região. Na última terça-feira, ladrões invadiram uma loja de eletrônicos e levaram, segundo a polícia, 20 celulares e dois tablets. Um dos homens estava armado. “Só tínhamos sido roubados uma vez, de madrugada. Jogaram uma pedra na vitrine e levaram caixinhas de som. Assalto com arma, nunca”, contou a gerente da loja. “Trabalho aqui há oito anos. A violência aumentou demais.”
O Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF) contabiliza, em 2017, 350 crimes contra diferentes estabelecimentos, 14% a mais de roubos a comércios da capital, se comparado a 2016. “Realmente, a criminalidade está muito alta”, diz o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, que reclama de assaltos a estabelecimentos do Sudoeste à noite. “São arrombamentos de lojas de tênis, joalherias, celulares.”
Aos 44 anos, Sérgio Santana vive no bairro há duas décadas. Desde 2010, ele percebe enfraquecimento na segurança. “Sempre evito ser o último a sair do restaurante. Só quando tem movimento, eu permaneço.” Na avaliação do advogado, a solução para diminuir a violência passa pelo aumento das rondas de policiais militares na vizinhança onde mora. O posto da PM, instalado no bairro, está com as portas fechadas há meses.
Convívio com o medo
Em entrevista ao Correio, o subsecretário de Gestão da Informação da SSP-DF, Marcelo Durant, argumenta que não é preciso sofrer violência para conviver com o medo. “No DF, cerca de 20% da população é vítima de crimes todos os anos. O medo acomete 85%. Naquela avenida central do Sudoeste, só de se ver pessoas que não são vistas cotidianamente gera uma sensação de incerteza”, apontou.Para Durant, as queixas dos moradores por conta da falta de policiamento ostensivo podem ser explicadas, em parte, pela recessão por que passa o Brasil. “Sem dúvida, estamos passando por uma crise econômica. Agora, a Polícia Militar perdeu muito do seu efetivo”, lamentou. A SSP-DF considera fundamental que as vítimas reportem os crimes à polícia. “Em duas regiões, por exemplo, podem acontecer a mesma quantidade de crimes. Se uma registrou e a outra, não, a que registrou vai ser priorizada”, alerta Durant. “É muito importante que esses crimes sejam registrados para a gente conhecer o tamanho do problema e dar a ele o devido tratamento.”
Depoimentos
“A violência em Brasília e no Entorno está um caos. O Sudoeste ainda é uma ilha segura, mas os delinquentes estão vindo para cá. Como há muito mais áreas carentes que policiais, eu vejo que eles estão retirando os agentes desses lugares um pouco mais seguros e colocando-os em outro local. Aqui no Sudoeste, diminuiu muito o policiamento. Antigamente, você via os policiais andando em duplas, via mais rádio-patrulhas, carros rodando. O que nós vemos hoje é o Detran multando. Bem ou mal, a polícia ostensiva dá aquela sensação de segurança. Isso não está ocorrendo.”
Carlos Henrique Arouck, 55 anos, funcionário público e morador do Sudoeste
“Surpreenderam-me muito os assaltos dessas últimas semanas no comércio do Sudoeste. A princípio, foi uma surpresa não só para mim, mas para todos os moradores. Porque não havia relatos de violência no bairro, não é de costume a falta de segurança. Nós estamos em alerta, redobramos a segurança e temos contado com o apoio das câmeras de proteção do condomínio. Tenho notado que, depois dos dois últimos assaltos, aumentou o policiamento. A violência pode ser evitada com segurança na hora de abrir e de fechar o comércio.”
Jéssica de Oliveira Guimarães, 25 anos, gerente de uma loja no Sudoeste
“Ultimamente, o Sudoeste parece que está perigoso. Não ouvíamos falar de violência, mas agora só se ouve falar de assaltos. Eu trabalho aqui há12 anos e raramente passa policial. Passou agora há pouco. Eles passam duas, três vezes por dia. Antigamente, havia esse posto policial, mas agora acabou. O policiamento na rua resolveria o problema, pois os bandidos ficariam com medo de fazer alguma coisa. Eu trabalhava em um mercado, no Paranoá, que já foi assaltado 22 vezes. Perdi até o medo.”
José Alves de Sousa, 58 anos, funcionário de um restaurante do Sudoeste
Fonte: Correio Braziliense – Texto de Lucas Fadul – Especial para o Correio /Revista