A notícia de que o tenente-coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Márcio Barbosa da Silva foi afastado das funções de chefia após ser alvo de investigação a fim de apurar se ele teria induzido uma subordinada ao suicídio repercutiu na corporação. Depois de o Metrópoles revelar o caso, PMs sob o comando de Silva procuraram a reportagem para denunciar supostos abusos do oficial que era o subcomandante administrativo nas regiões do Guará, Estrutural, Lago Sul e Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
A cabo Maria* (foto em destaque) relatou que sofria de depressão e tentou tirar a própria vida após uma discussão com o oficial. Já o sargento Marcos* denunciou Silva à Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) depois de sofrer intimidações por parte do superior.
A mulher, que pediu para não ser identificada, temendo represálias, é policial há 15 anos. Segundo ela, as perseguições tiveram início desde o curso de formação, quando Silva era um dos instrutores. Em 2015, a PM voltou a encontrar o tenente-coronel e se tornou subordinada dele.
“Sabemos que somos militares. Temos de seguir regras e adotamos uma postura diferente da dos civis. Mas ele [Silva] escolhe pessoas para perseguir. No meu caso, me humilhava e diminuía o meu trabalho”, contou a policial.
De acordo com Maria, a situação chegou ao limite quando ela foi entregar o atestado do psiquiatra no batalhão. A mulher passou a sofrer depressão e teve de ser afastada da função.
“Ele me viu protocolando o atestado e perguntou o motivo do meu afastamento, uma vez que, segundo ele, eu aparentava estar muito bem. Respondi que não queria falar sobre aquilo na frente de todos e pedi para irmos a um local privado. Ele começou a gritar e ameaçou me prender. Disse que eu ia para a Papuda. Tudo isso na frente da minha filha pequena. Foi tão constrangedor, que um policial precisou tirar minha filha de lá” Maria, cabo da PMDF
Remédios e internação
Maria conta que voltou para casa e tomou mais de 40 comprimidos de um antidepressivo. Quando o marido da militar chegou, ele a encontrou desacordada e ficou desesperado. A policial precisou de atendimento médico e chegou a ser internada.
A mulher contou que ficou destruída emocionalmente. “Minha filha viu um homem de farda gritando com a mãe dela. Foi o fim para mim. Ela considerava policiais como heróis”, ressaltou Maria. A PM ficou internada e seguiu afastada do trabalho por um ano. Hoje, ela ainda tenta superar o trauma.
Ainda de acordo com o relato, Maria ficou muito abalada ao saber que uma colega, também subordinada ao tenente-coronel Márcio Barbosa da Silva, havia tirado a própria vida no apartamento onde morava, no Guará II. “Quando a pessoa comete suicídio, ela não quer morrer, deseja apenas que aquela dor acabe de alguma forma. Só pensa nisso. Hoje, vejo que quase desisti dos meus quatro filhos e do meu casamento, tudo por causa desse homem”, disse.
Sindicâncias
O sargento Marcos também diz ter sofrido perseguição e retaliações por parte do tenente-coronel Márcio Barbosa da Silva. Após uma série de constrangimentos, o militar entrou com denúncia contra o oficial em maio do ano passado. Ele relata que os problemas começaram quando ele trabalhava no 4º Batalhão, em 2016.
No mesmo ano, Marcos fez uma representação ao comando da corporação, denunciando as más condições do posto policial da Vila Olímpica da Estrutural. Ele alegou que, quando chovia, entrava água na unidade, e apenas um policial era escalado para ficar no local.
À época, Silva teria alegado que o sargento quebrou a hierarquia e abriu sindicância para apurar se as informações eram verdadeiras. “Ficou provado que falei a verdade, e o processo foi arquivado. Mas, depois disso, o tenente-coronel passou a abrir diversas apurações contra mim”, disse Marcos.
Ainda segundo o sargento, quando o oficial soube que ele tinha apresentado denúncia à Promotoria de Justiça Militar do MPDFT, a situação piorou. “Ele pegou uma publicação que fiz no meu Facebook e abriu outra sindicância. Me ameaçou, dizendo que, se eu recorresse, as coisas iriam piorar.”
Humilhação
Meses depois, o sargento foi retirado das ruas e passou a executar funções administrativas ao lado de Silva. No primeiro dia de trabalho, o policial relata que, depois de se apresentar em posição de sentido ao oficial, foi humilhado pelo tenente-coronel na frente dos colegas.
“Ele me perguntou onde eu deveria estar trabalhando. Respondi: na Estrutural. Ele se aproximou e passou a colocar o dedo no meu rosto, fazendo um sinal negativo por diversas vezes. Por fim, disse que o meu lugar era na secretaria. Já que eu gostava de escrever [referindo-se à publicação do Facebook], eu ia passar a fazer os boletins do batalhão”, contou o militar.