O Vassourinhas voltou a desfilar suas cores por Brasília. Depois de 33 anos longe das ruas, o bloco animou a W3 Sul na tarde deste domingo (19) levando frevo, maracatu, coco e ciranda para foliões de todas as idades. Quem deu o tom da celebração à cultura nordestina foi a Orquestra Popular Marafreboi.
Fundado em 1967, o bloquinho é cria da saudade de pioneiros pernambucanos. E teve nos tradicionais Vassourinhas de Recife, Olinda e Rio de Janeiro a inspiração necessária para desfilar por 23 anos ininterruptos. Um dos organizadores da festa, o maestro Fabiano Medeiros se emociona ao falar da retomada do bloco.
“Brasília é um mosaico cultural. Temos grandes representações sonoras do frevo e do maracatu na região, mas sentimos que ainda era insuficiente”, avaliou. “Estamos falando de um dos poucos gêneros musicais tombados pelo Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, não é pouca coisa.”
A retomada do Vassourinhas de Brasília só foi possível graças a um financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no valor de R$ 20 mil. O bloco ainda contou com o apoio da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que levou uma tenda do programa Mão na Massa ao evento.
No espaço, o folião era convidado a aprender sobre o funcionamento do sistema de águas pluviais e sobre os impactos do descarte irregular de lixo. “Essa conscientização é fundamental para evitar entupimento de bueiros, alagamentos e transtornos de uma forma geral” declarou o presidente da companhia, Fernando Leite.
Além do trabalho educativo, a tenda da Novacap também presenteou a comunidade com copinhos de água mineral e a doação de 100 mudas de flores. A estudante Beatriz Ramalho, 26 anos, não pensou duas vezes ao pegar um vasinho para enfeitar sua casa. Só que a plantinha terá que me acompanhar na folia até a hora de ir embora”, observou. “É uma iniciativa muito legal, uma delicadeza com a população”.
Reconhecimento
Um grupo de foliões chamou a atenção no Vassourinhas de Brasília. Vestidos de verde e laranja, cerca de 100 garis do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) desfilaram no bloco. “Receber um convite para participar dessa retomada, depois de tantos anos, nos enche de orgulho”, comentou o diretor-presidente do SLU, Silvio Vieira. “Realmente o carnaval deste ano está tendo muita representatividade para nós, dentro e fora da avenida.”
Com acessórios e maquiagem caprichada, a gari Eleosina Dias era só alegria. A mulher de 57 anos trabalha limpando as ruas há dez anos. E nunca havia desfilado em um bloco de carnaval. “Foi uma experiência gratificante. É o reconhecimento do nosso trabalho, tão importante para a cidade”, disso. “E, como piauiense, estou duplamente feliz por poder celebrar minha raiz nordestina”.
Os profissionais do SLU tem atuado, durante o Carnaval, na campanha _Folião Cidadão Não Joga Lixo no Chão_. A ação está focada na conscientização da comunidade sobre o correto descarte do lixo. Um papa-recicláveis foi levado ao Vassourinhas de Brasília para receber latinhas, garrafas PET, papéis e papelões – outros 47 equipamentos iguais estão distribuídos em pontos estratégicos do Distrito Federal.
Memória cultural
A presença pernambucana no Vassourinhas de Brasília era evidente entre o público que encheu o trecho localizado na altura da 507 Sul. Entre bandeiras do estado nordestino e sombrinhas de frevo, famílias completas aproveitaram a festa para dançar, cantar e celebrar a cultura musical da região.
O professor José Paulo Costa mora na capital federal há 19 anos. Mas faz questão de aproximar os filhos brasilienses, um com 4 e outro com 8 anos, de suas raízes nordestinas. “Eles sabem dançar o frevo, conhecem as músicas de cor… E está sendo ótimo poder mostrar a cultura pernambucana para eles assim, ao vivo, em uma festa tão democrática”, apontou.
O Carnaval oficial do Distrito Federal recebeu cerca de R$ 12 milhões de investimento – foram R$ 5 milhões de recursos do FAC e R$ 2,8 milhões proveniente de emendas parlamentares. São esperadas mais de 1,5 milhão de pessoas em algum dos mais de 100 blocos autorizados a desfilar pelo DF.