Exército pode cortar 1/3 do total de recrutas

Com contingenciamento, Força avalia dispensar 25 mil de 80 mil soldados e reduzir expediente

Com parte de seus recursos contingenciada, o Exército poderá ser obrigado a dispensar pelo menos 25 mil dos 80 mil recrutas no início de outubro, antecipando a primeira baixa, que estava prevista para dezembro. Caso não haja descongelamento de verbas, a Força também prevê reduzir operações militares e cortar expediente dos que ficarem.

A dispensa dos soldados, prevista em todo o País, tem como consequência direta o agravamento do quadro de desemprego. A situação é mais grave em cidades do interior em que jovens dependem do trabalho nos quartéis.

A situação foi discutida na semana passada pelo Alto-Comando do Exército em Brasília, com a presença de 16 generais. O presidente Jair Bolsonaro tem sido informado das dificuldades. 

Nesta sexta-feira, 16, ao embarcar para Resende (RJ), onde participa, neste sábado, 17, de cerimônia de entrega de espadins aos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o presidente citou a situação dos militares.

“Nós estamos aqui tentando sobreviver ao corrente ano. Não tem dinheiro. Eu já sabia disso e fui fazendo milagre, conversando com a equipe econômica com o que podemos fazer para sobreviver. O Exército vai entrar em meio expediente, não tem comida para dar ao recruta, que é filho de pobre”, disse.

Bolsonaro acrescentou que “a situação em que nos encontramos é grave, não há maldade da minha parte, não tem dinheiro, só isso, mais nada”. Na visita do presidente à escola onde estudou, os generais, mais uma vez, pretendem tratar do tema com o chefe do Executivo.

A situação no Exército foi agravada com o contingenciamento, no primeiro semestre, de R$ 180 milhões que seriam destinados a despesas. Segundo os militares, a redução contínua no orçamento da Força – neste ano é de R$ 620 milhões, mesmo valor de 2009 –, futuramente pode comprometer até mesmo gastos do dia a dia, como contas de luz, gás, telefone, combustível e até munição.

Na quinta-feira, 15, em seu discurso na transmissão do cargo de secretário de Economia e Finanças do Exército, o general Marcos Antônio Amaro advertiu que “os insuficientes recursos no orçamento para aquisição e manutenção dos meios e para desenvolvimento das atividades da Força vêm reduzindo a sua operacionalidade a patamares inadequados às suas missões constitucionais e subsidiárias”.

Amaro assumiu o Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, no lugar do general Luis Eduardo Ramos, que foi alçado a ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro.

Alternativas.

Embora a redução do expediente seja uma das alternativas discutidas para conter gastos, a medida é considerada pouco efetiva. Isso porque a economia de um dia parado – R$ 2 milhões – é pequena diante do montante que a Força precisa para pagar suas contas. O Exército tem 653 unidades militares e, mesmo que a maior parte delas suspenda as atividades, não é possível se deixar de operar os batalhões de fronteira, as escolas e os hospitais. 

A dispensa de recrutas é tratada como mais eficaz. Além da baixa em outubro, o Exército também discute antecipar as baixas previstas apenas para janeiro e março de 2020.

Outra consequência da falta de recursos é que o Exército não deve conseguir atender a pedidos para emprego da tropa em situações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), como as recentes operações no Rio, durante a Olimpíada de 2016.

Informações do Jornal O Estado de São Paulo/Estadão.