A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, participou da abertura do Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde — organizado pelo Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) em parceria com o Hospital Sant Joan de Déu, de Barcelona —, nesta segunda-feira (24), em Brasília, e defendeu o uso da alta tecnologia em conjunto com a capacitação dos profissionais para melhorar e ampliar o atendimento às crianças que apresentam casos de doenças raras e complexas. “Nós, enquanto gestores e trabalhadores, estamos totalmente focados na ciência, na robótica, na medicina de precisão e no cuidado humanizado”, afirmou durante a abertura do evento.
Com o tema “Tecnologias para o cuidado e para a cura”, o congresso reúne, até a próxima sexta-feira (28), pesquisadores e autoridades científicas nacionais e de diferentes países (Espanha, Israel, Portugal, Estados Unidos, Letônia e Inglaterra). O objetivo é abordar a experiência do paciente, o cuidado centrado na família, a deficiência e o cuidado paliativo, entre outros pontos. Serão tratados também os avanços tecnológicos que permitem diagnósticos mais precisos e tratamentos individualizados.
A superintendente executiva do HCB, Valdenize Tiziani, destacou as inovações científicas e o ganho moral em uma sociedade que passou a proteger melhor a saúde das crianças: “O avanço tecnológico foi acompanhado pelo avanço no cuidado”, declarou. “Hoje, a criança não é mais um número de leito ou o nome de uma doença. Ela é tratada pelo próprio nome e a prioridade do atendimento passou a ser assegurada por instrumentos legais e robustos.”
Os desafios globais para o tema ficaram a cargo do representante da Organização Mundial de Saúde (OMS), Anshu Banerjee, que apresentou desde a evolução dos números de mortalidade infantil até o impacto causado pelas mudanças climáticas. “Crianças e adolescentes devem estar no centro do desenvolvimento de políticas de governo. Além disso, comunidades e famílias devem ser estimuladas a participar no planejamento e na implementação de políticas e programas de saúde para eles”, reforçou.
O congresso também tem o objetivo de proporcionar um ambiente de troca de conhecimentos para que cada profissional possa ouvir e aprender da experiência do outro e, assim, construir um novo saber ampliado na perspectiva das necessidades das crianças. “Precisamos lançar mão de todas as nossas pesquisas e fazer um intercâmbio com os outros países. Precisamos estar juntos com todos que estão participando do congresso, conhecer as experiências deles ver o que podemos desenvolver aqui. O Hospital da Criança é um celeiro de construção de pesquisas, de formação de profissionais”, reforçou a secretária de Saúde Lucilene Florêncio.
Para o presidente do Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe), Francisco Duda, o congresso é uma forma para os profissionais de saúde pediátrica buscarem o aperfeiçoamento do atendimento aos pacientes. “Que nós possamos crescer como pessoas e entender que, seja no Hospital Sant Joan de Déu, seja no Hospital da Criança de Brasília, a cada dia precisamos acordar pensando que a criança merece sempre o melhor de nós.”
O conselheiro sênior do Departamento Internacional do Hospital San Joan de Déu, Antoni Arias Enrich, pontuou que a cooperação entre hospitais como o San Joan de Déu e o HCB potencializa a capacidade de tratamento de crianças com condições complexas. “A atenção e os cuidados de saúde são locais, mas os problemas são globais. Estamos em um mundo multipolar. Cada vez mais é necessário cooperação entre países e entidades.”
Cuidados com a criança do DF
Durante o evento, a secretária de Saúde aproveitou para apresentar todos os esforços exitosos conduzidos pela pasta para ampliar e aperfeiçoar os atendimentos e serviços da pediatria. Entre eles, ela lembrou da ampliação do número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátricas, somando 94 em funcionamento.
Uma conquista que, segundo ela, só foi possível, entre outras ações, da parceria com o HCB, uma referência no tratamento a crianças da capital e que ampliou a oferta de 10 leitos para as crianças, em resposta ao aumento da demanda provocada pelas doenças respiratórias sazonais. “É uma honra poder dizer que o HCB é um hospital 100% SUS [Sistema Único de Saúde]. Abrimos leitos em tempo recorde e assim pudemos salvar muitas crianças”, complementou Lucilene.
A primeira-dama do DF e madrinha social do HCB, Mayara Noronha Rocha, também presente no evento, reforçou o investimento realizado para expandir o atendimento. “Quando a gente consegue avançar em inauguração de espaços físicos, na contratação de pessoal e no investimento em tecnologia, damos dignidade às famílias”, disse.
Na solenidade, foi lembrada ainda a ampliação do atendimento pediátrico nas unidades de pronto atendimento (UPAs) e a construção de novos hospitais em São Sebastião e no Recanto das Emas.
Ciência como aliada
No primeiro dia do congresso, o médico Renato Sabbatini do Hospital da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apresentou o caso de uma menina de 5 anos com síndrome de Retti, rara e de difícil diagnóstico. A paciente foi avaliada por oito profissionais sem que nenhum deles entendessem as causas da involução no desenvolvimento.
O estudioso em genética concluiu, após pesquisas, que hoje o tratamento é intrauterino. Sabbatini mostrou o crescimento dos estudos de genômica humana e as soluções da tecnologia, como a inteligência artificial, nos tratamentos das doenças raras e complexas num universo de nove mil doenças genéticas catalogadas.
O médico apontou o futuro na direção da medicina de precisão, individualizada. Ao final, comentou sobre o chatGPT, que é capaz de realizar textos para infinitas demandas na internet. Disse que pode operar no suporte de diagnósticos, receitas médicas, tratamentos até de doenças raras, mas sugeriu cautela: “Pode haver aumento de autodiagnósticos errados, automedicação que podem levar até mortes ou causar doenças pelo acesso inadvertido.”
Embora entusiasta do uso da tecnologia na saúde, Themis Reverbel, vice-presidente do Conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul, reconhece os cuidados que o tema requer e também elencou os avanços nas áreas da terapia gênica, robótica, inteligência artificial e engenharia de tecidos. “A inovação tecnológica proporciona diagnósticos ágeis, terapias menos invasivas e reduz custos de tratamentos. Sem falar que a telemedicina é importante no cuidado integral da saúde e organiza a atenção primária do Sistema Único de Saúde(SUS)”, defendeu.
*Com informações da Secretaria de Saúde (SES)
Fonte: Agência Brasília