A transexualidade em crianças e adolescentes é tema de evento que está sendo realizado nesta sexta-feira (2), na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, para lembrar o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, celebrado em 17 de maio. O encontro Transdiversidade Infantojuvenil: desafios e possibilidades reúne defensores públicos e ativistas dos direitos trans. 

Segundo o coordenador do Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual (Nudiversis), da Defensoria Pública, Helder Moreira, a discussão é importante para que a sociedade entenda que “a pessoa trans não nasce aos 18 anos”. 

“É urgente falar sobre a existência de crianças e adolescentes trans, justamente para normalizar esse assunto dentro da nossa sociedade, para que essas pessoas consigam viver com maior qualidade de vida, tendo acesso à faculdade, conseguindo se formar, ter mais acesso à educação e a um lar mais harmonioso”, explica Moreira. 

Segundo o coordenador, a expectativa de vida das pessoas trans é de 35 anos, menos da metade da média da população brasileira. Os dados constam no Dossiê: Assassinatos e Violência Contra Travestis e Transexuais Brasileiras, que confirma o alto índice de violência apresentado pelo Trans Murder Monitoring (“Observatório de Assassinatos Trans”, em inglês), onde o Brasil ocupa o topo do ranking mundial de violência contra este público.  

“A porcentagem de pessoas que chegam à universidade é baixíssima. As pessoas trans são expulsas das suas famílias ainda na fase de criança ou adolescente e acaba entrando numa prostituição compulsória. A prostituição passa a ser o único caminho daquela pessoa”. 

O dossiê indica que as travestis e transexuais femininas constituem um grupo de alta vulnerabilidade à morte violenta e prematura no Brasil, com uma expectativa de vida de 35 anos, enquanto a da população em geral é de 74,9 anos. 

Transição

O cantor e influenciador digital Levi Aisar ficou nacionalmente conhecido quando tinha apenas 14 anos e participou da 4ª temporada do programa The Voice Kids, quando ainda se identificava como mulher e com seu nome de batismo, Lavínia Aisar. 

Foi pouco tempo depois, por volta dos 15 anos, que Levi começou a se entender como homem e começou sua transição de gênero, que foi concluída há alguns meses com a oficialização de seu novo nome. 

“A gente sempre sente, desde criança, uma confusão. A gente se sente diferente das outras crianças. Isso começou comigo desde cedo. Sempre pensei que tinha algo errado comigo, porque minha família não tinha muita informação sobre isso e era muito religiosa. Então nunca encontrei respostas e sempre lutei contra isso durante a minha infância.”

Levi contou à família que gostava de meninas quando tinha 14 anos, mas ainda demorou um pouco para que se reconhecesse como um homem trans. “Com a minha família foi bem difícil no começo. Eles não aceitaram muito. Fiquei um tempo sem contato com a minha família e comecei minha transição por mim mesmo. Hoje em dia eles me apoiam bastante”, relata. 

Agatha, de 8 anos, por outro lado, fez sua transição bem mais cedo, com apenas 4 anos. Sua mãe, Thamirys Nunes, acolheu e apoiou a filha nesse momento. Thamirys criou uma organização não governamental Minha Criança Trans e leva suas vivências para as redes sociais, onde tem 100 mil seguidores no Instagram. 

“São diversos desafios: o medo da violência, a insegurança de não saber até quando minha filha vai ser respeitada, quando ela não vai sofrer um ato de agressão, de preconceito. E também há o julgamento do outro, que olha para a minha maternidade e tenta achar uma causa ou efeito de eu ter uma filha trans. Tentam me deslegitimar, me colocar num papel disfuncional e não reconhecer o direito da minha filha existir e o meu direito de, enquanto mãe, acolher quem ela é e respeitar minha criança”. 

O evento será realizado até as 16h e os debates podem ser acompanhados pelo canal da Defensoria Pública na internet