O Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) deu alta para criança que nasceu com quatro rins. A menina Isis, de 1 ano de idade, precisou passar por uma cirurgia para retirar um dos órgãos extras: ainda nas ultrassonografias do pré-natal, descobriu-se que ela nasceria com uma malformação. O procedimento realizado no início do mês exigiu um acompanhamento constante até a alta. A menina continuará sendo acompanhada pela equipe do HCB.
“Aqui, posso dizer que somos especializados em raridades e esse caso é raro. Nos especializamos em tratar, tanto clínica como cirurgicamente, malformações congênitas”, afirma Hélio Buson, urologista-pediátrico coordenador da urologia pediátrica do HCB.
“Mais ou menos 10% de todas as crianças que nascem no mundo inteiro vão ter alguma malformação congênita, que podem acontecer em todos os órgãos do corpo humano. No caso de Isis, o quadro estava relacionado à estrutura que dá origem aos rins. A menina nasceu com quatro rins ao todo, dois em cada lado do corpo, sendo que os rins inferiores estavam ligados. A condição é chamada de ‘rins em ferradura’, por causa do formato adotado pelos órgãos unidos, mas que não oferece riscos a Isis.”
O fato de uma criança nascer com mais de dois rins, por si só, não é um problema. Porém, um dos rins de Isis estava obstruído, causando um inchaço que prejudicava os órgãos vizinhos. “Esse rim estava tão grande que impedia os outros órgãos de funcionar a contento. O intestino dela, o diafragma e os pulmões estavam completamente comprimidos por essa grande massa”, conta Buson.
A equipe do Hospital da Criança de Brasília realizou a drenagem do rim e, posteriormente, um procedimento cirúrgico para retirar o órgão, já que ele não tinha função. “Não há nenhum motivo para manter um rim que não filtra o sangue. Como ela tinha três outros rins que funcionavam muito bem, chegamos à conclusão que esse tinha que ser retirado, senão iria trazer prejuízos muito grandes para a saúde”, relata o médico.
Histórico de cirurgias complexas
Esta não é a primeira cirurgia complexa realizada pela equipe de urologia pediátrica do HCB. Desde 2019, o hospital faz procedimentos de correção de extrofia de bexiga utilizando a técnica de Kelley, com participação de médicos que integram o Grupo Cooperativo Brasileiro Multi-Institucional para o Tratamento de Extrofia de Bexiga pela Técnica de Kelley. Na segunda-feira (22), o procedimento deverá ser realizado – pela primeira vez, apenas por profissionais do HCB.
Além da urologia, o hospital também conta com experiências positivas em outras especialidades. Em novembro de 2023, foi realizada uma neurocirurgia para tratamento de epilepsia. Parte do procedimento foi feito com a paciente, uma adolescente de 18 anos, acordada: como a região do cérebro que precisava passar por ressecção ficava muito próxima da área responsável pela fala, a paciente precisou ser capaz de conversar durante a cirurgia.
“Nesses casos, a cirurgia normalmente começa com a sedação. O cirurgião expõe o cérebro, porque quer monitorizar a área da fala, saber se está fazendo sentido”, conta o neurocirurgião do HCB Paulo Leão.
A paciente foi diagnosticada com epilepsia aos 6 anos de idade e começou a ser tratada na rede pública de saúde, sendo transferida para o HCB logo que o hospital foi inaugurado. Depois de passar por consultas e exames, chegou-se à conclusão de que a cirurgia era recomendada. Como a adolescente poderia se chocar por estar acordada durante o procedimento, foi realizada uma simulação na véspera do procedimento, para que ela não se assustasse com o ambiente cirúrgico.
“Colocamos a paciente na maca, para ela saber como seria a cirurgia; esse preparo é muito importante para reduzir a ansiedade”, explica Leão. Com o sucesso da cirurgia, a adolescente recebeu alta alguns dias após o procedimento, seguindo em acompanhamento ambulatorial.
A equipe de cirurgia torácica do hospital também realizou procedimentos importantes. Em outubro de 2023, dois adolescentes passaram por esternectomia, para correção de peito escavado (pectus excavatum). A condição é caracterizada por um crescimento exagerado dos ossos das costelas, causando dor, falta de ar e limitação na realização de exercícios. A correção é feita com a inserção de barras de liga metálica, que “moldam” o tórax do paciente.
Segundo o cirurgião torácico do HCB Alberto Guimarães, os adolescentes em questão (que tinham 15 e 16 anos no dia da cirurgia) devem passar um total de três anos com as barras. As cirurgias foram feitas de forma minimamente invasiva, por meio de incisões de cerca de cinco centímetros. “É uma técnica que traz mais conforto, recuperação mais rápida, tem menos dor e menos reações inflamatórias, além de ter resultado estético mais satisfatório e trauma cirúrgico menor. A barra é feita para ter a vida mais normal possível, não precisa de fisioterapia”, explica Guimarães.
*Com informações do HCB
Fonte: Agência Brasília