Promessa há pelo menos 20 anos, as obras do túnel de Taguatinga começarão a ser executadas nesta semana pelo consórcio Novo Túnel, escolhido por meio de licitação. Segundo o Governo do Distrito Federal, os canteiros serão instalados imediatamente após a assinatura da ordem de serviço pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), nesta terça-feira (14/1). A previsão de entrega é janeiro de 2022.
A expectativa é de que a passagem subterrânea desafogue o trânsito e evite a retenção de veículos nos semáforos das vias que cortam o centro da região administrativa. Ao todo, o investimento será de R$ 275 milhões, financiados pela Caixa Econômica Federal.
Os primeiros canteiros serão instalados nos próximos dias, para a fabricação das peças de concreto armado. Escavações começam logo depois do período de chuvas. O projeto prevê duas vias subterrâneas para quem segue até Ceilândia, pela via Elmo Serejo, além de uma pista alternativa pela superfície para o centro de Taguatinga. Com isso, o fluxo na avenida superior seria destinado a veículos de transporte público.
Ao fim da obra, os carros que estiverem na Avenida Elmo Serejo, sentido Plano Piloto, passarão pelo túnel até a Estrada Parque Taguatinga (EPTG). Já quem passar pela região em direção a Ceilândia descerá pelo túnel até o início da Via Estádio, voltando à superfície logo após o viaduto da Avenida Samdu. Ao todo, a extensão viária será de 1.010 metros, com 830 metros cobertos (veja Túnel de Taguatinga).
A empreitada, no entanto, não é uma tarefa fácil. Para o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, precauções devem ser tomadas para evitar colapsos. “Precisa verificar onde estão os dutos enterrados, com precisão. E isso será difícil, porque Brasília não tem um cadastro atualizado. Mas é fundamental para que não saiam quebrando tudo e não dê problema de falta d’água, luz, porque interromperam dutos”, alerta.
Berberian ainda chama a atenção para a proximidade da obra de prédios da região. “O terreno de Taguatinga é colapsível e fraco, sem muita capacidade de suporte. Se o túnel passar muito perto das fundações de um edifício, ele pode ser afetado, gerando um afundamento desse prédio. O que é o grande problema da execução de túneis em grandes capitais”, explica. Ainda de acordo com Berberian, obras como o túnel de Taguatinga são propícias ao superfaturamento, em virtude de análises malfeitas ao longo do projeto. “O estudo geotécnico, com base em sondagens do solo, por exemplo, tem que ser muito bem-feito, para evitar futuros aditivos contratuais. Isso abre um flanco para a corrupção. Precisa tomar muito cuidado com isso. Tantas obras aqui ficam três vezes mais caras do que deveriam por causa destes aditivos”, afirma. O engenheiro, no entanto, destacou a necessidade da obra no local. “Precisa de uma intervenção lá mesmo. Só esperamos que seja tecnicamente correto.”
Trânsito
O trânsito na região será impactado diretamente pelas obras. No entanto, ainda não há um plano estratégico finalizado para diminuir os transtornos aos mais de 135 mil veículos que circulam pelo local. De acordo com o GDF, o projeto executivo da intervenção está sendo concluído, e serão iniciados testes de trânsito para diminuir o impacto na região central de Taguatinga. No entanto, ainda segundo o Executivo, mudanças efetivas só serão iniciadas a partir do início das escavações. Para o motorista por aplicativo Aleksander Pereira, 43 anos, o tempo da obra é um agravante no processo. “Vai ser transtorno demais da conta. Não tem jeito. Vão ser dois anos sofrendo. Quem mora em Ceilândia Sul, por exemplo, vai ter que aumentar o percurso”, disse o morador de Ceilândia. Para ele, no entanto, a construção deve melhorar o fluxo na região. “Para quem é motorista, depois do túnel pronto, vai ficar muito bom.”
Para Augusto Azevedo, 68, o prazo de entrega da obra não importa, desde que o fluxo na região melhore. “Vai provocar dificuldades no trânsito, mas tem que ter o sacrifício para vir a melhora depois. Toda obra é assim. Já está vindo tarde. O trânsito no centro de Taguatinga é muito intenso nos horários de pico. Então, merece uma passagem livre como o túnel, para quem vai pra Ceilândia e mais para a frente. Passa direto por baixo e vai embora. Uma obra dessa magnitude saindo é muito bom para todo mundo”, diz o taxista, que trabalha em um ponto próximo à Praça do Relógio.
Comércio
Os comerciantes da região aguardam o início das obras com apreensão, e a possível redução do movimento em frente às lojas preocupa. “Se eles bloquearem essas vias do centro de Taguatinga, a tendência é de que o comércio caia. Os clientes são transeuntes, pessoas que pegam ônibus para se locomoverem até outros lugares. Então, provavelmente, isso será afetado com as obras, e essas pessoas, que costumam andar no centro de Taguatinga, evitarão vir”, acredita Helvio Costa, 55, gerente de uma farmácia na região.
Meiri Jesus, 35, subgerente de uma loja no centro de Taguatinga, também acredita que haverá impacto nas vendas. “Em termos de comércio, vamos sentir muito a queda na movimentação. Aqui, tem pouca opção para o cliente estacionar o carro, por exemplo. Com essa obra, aí que vai ficar difícil mesmo para o cliente ter acesso às lojas”, reclama.
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Taguatinga, Justo Magalhães avalia a repercussão no comércio como ruim no começo, mas julga necessária a construção do túnel. “Com certeza, vai ter um impacto negativo no início, porque vai ter movimentação de terra, apesar de ser no subsolo. Vai ter problema, porque vão ter que isolar, naturalmente, a parte central. Mas é preciso. O que não dá é para ficar do jeito que está. Minha preocupação é se vai ser uma coisa célere. O governo tem que ter um cronograma muito bem elaborado para que não cause mais prejuízo ao comércio.”
Segundo o GDF, uma área arborizada será construída no local — com paisagismo, calçadas revitalizadas e os estacionamentos — e voltada para o comércio da região.
Detalhes da construção
Valor: R$ 275.744.558,87
Previsão de conclusão: 14/6/2021
Extensão: 1.010 metros (830 metros cobertos)
Escavação subterrânea: 160 mil metros cúbicos
Volume de concreto utilizado: 90 mil metros cúbicos
Quantidade de aço utilizado: 8 milhões de quilos
Contenções em parede diafragma: 65 mil metros quadrados