Trata-se da ministra Maria Cristina Peduzzi, primeira mulher a presidir o Tribunal Superior do Trabalho (TST), que tem fortes laços com a cidade criada por JK. Nascida no Uruguai e naturalizada brasileira, ela fala um pouco sobre a capital dos brasileiros.
Qual a principal diferença da Brasília da infância/adolescência da senhora e da Brasília de agora, e do que a senhora mais sente falta?
Vim morar em Brasília em 1973. Era uma cidade substancialmente administrativa, de porte médio em termos populacionais, muito segura e fraterna. As pessoas buscavam convivência com os amigos, porque poucos tinham família aqui. O trânsito era tranquilo, era fácil encontrar estacionamento. As diferenças são expressivas, não só em Brasília, mas em todo o Distrito Federal. Ambos cresceram em progressão geométrica, sendo hoje dos maiores centros do país. Desenvolveu-se o comércio, a indústria, o ensino, a prestação de serviços. Vivemos numa metrópole, com os benefícios (atividade cultural, diversão, ensino e serviços) e os problemas típicos das grandes cidades (insegurança e congestionamento no trânsito). Mas o ponto positivo é que Brasília era e é uma cidade muito boa para morar, destacando-se pelo bom clima, beleza, vegetação fértil e promotora de encontro entre as pessoas oriundas dos mais diversos estados da federação.
Qual é o lugar preferido da senhora em Brasília?
Há belos lugares em Brasília, destaco em especial o Parque da Cidade e o Jardim Botânico, onde se pode usufruir de momentos de lazer, a arquitetura de Oscar Niemeyer e o urbanismo de Lúcio Costa.
Se a senhora pudesse, o que mudaria em nossa cidade?
Não me ocorre propor mudanças. Concordo, entretanto, com a análise de Oscar Niemeyer de que Brasília não deveria ser tombada, uma vez que passa por inúmeras metamorfoses que precisam de adaptações urbanísticas e arquitetônicas, como toda cidade de grande porte.
Qual Brasília a senhora deseja para os seus netos?
Eu desejo uma cidade sem violência, tranquila para se viver e conviver com os entes queridos e amigos. Também almejo que Brasília seja um polo cultural para que todos tenham na própria cidade a melhor formação intelectual e profissional.
Como se sente sendo a primeira mulher a presidir o Tribunal Superior do Trabalho desde a sua criação?
Não tenho como negar o orgulho que me dá a contingência histórica de ser a primeira mulher a presidir o Tribunal Superior do Trabalho. O fato contém o simbolismo de transmitir a milhões de meninas e mulheres a mensagem de que elas são capazes e podem realizar seus sonhos, propósitos e desejos. Comunica-se à sociedade que a mulher atingiu um cargo na hierarquia superior do Poder Judiciário Trabalhista Brasileiro, refletindo a realidade da presença feminina em postos de liderança no país.
Trata-se de uma mensagem emancipatória para as mulheres brasileiras, sejam elas estudantes, juízas, advogadas ou trabalhadoras em diversas áreas. Por outro lado, tenho a oportunidade de devolver ao Poder Judiciário o conhecimento e a experiência que adquiri no trajeto e no curso da minha vida profissional, sempre objetivando uma prestação célere e eficiente.
Como a senhora vai fazer para prevenir e pacificar conflitos num momento de ânimos tão acirrados?
A Justiça do Trabalho efetiva suas competências por meio da resolução judicial e da implementação de meios alternativos de solução dos litígios, como a conciliação e a mediação nos dissídios coletivos. Nessa linha, buscarei priorizar o exercício da atividade fim pelo Poder Judiciário e trabalhar para que a prestação jurisdicional seja sempre célere e efetiva e promova segurança jurídica.
A senhora falou em seu discurso de posse sobre os desafios da Justiça do Trabalho diante dos avanços tecnológicos. Quais são esses desafios? E os servidores da Justiça do Trabalho estão treinados para enfrentá-los?
O mundo vive a 4ª Revolução Industrial, que tem como marco a economia sob demanda, ou seja, só é produzido o bem ou serviço conforme a necessidade de um consumidor. Além disso, as relações de trabalho ganharam novas feições por serem intermediadas pelas plataformas digitais em modelos diversos da tradicional relação de emprego.
As demandas advindas da 4ª Revolução Industrial são reais e as novas formas de gestão e organização do trabalho são modificadas com velocidade, comportando disciplina normativa para garantir segurança jurídica. Os servidores da Justiça do Trabalho são nomeados após rigoroso processo seletivo, que avalia competências necessárias ao exercício dos cargos. Temos um corpo de juízes e servidores habilitado e em constante aperfeiçoamento. Assim, acredito que a Justiça do Trabalho está apta a lidar com os desafios dos avanços tecnológicos.
Informações do Jornal de Brasília