Em cada dez famílias brasileiras que vivem em favelas, sete já tiveram a renda reduzida devido a crise causada pela pandemia do novo coronavírus, segundo pesquisa divulgada hoje (24) pelo Instituto Locomotiva/ Data Favela. O estudo ouviu 1,14 mil pessoas em 262 comunidades em todos os estados do país.
O instituto estima que 13,6 milhões de pessoas vivam em favelas no Brasil. No estado do Rio de Janeiro, de acordo com a pesquisa, 13% da população vive nesse tipo de comunidade. Em São Paulo, são 7%, em Pernambuco, 10%, e no Pará 17%.
Preocupações
Os riscos à saúde trazidos pelo novo coronavírus são uma grande preocupação para 66% dessa população. Ao mesmo tempo, a apreensão em relação a perda de renda desse período é uma grande preocupação para 75% dos moradores de favelas.
Quase a metade, 47% das pessoas que vive nessas áreas, trabalha por conta própria, seja como autônomo ou profissional liberal. O índice de quem tem carteira assinada é consideravelmente menor, 19%, e ainda há 10% que estão desempregados.
Mais gastos, menos renda
Para se preparar para os reflexos que a crise tem trazido para a economia doméstica, 79% disse que já cortou gastos dentro de casa. Porém, para 84% das famílias que têm filhos, os gastos aumentaram agora que as crianças deixaram de ir à escola.
Sem renda, as pessoas dizem que o próprio cuidado com a saúde pode ficar prejudicado. A grande maioria, 72%, disse que não tem economias às quais possa recorrer, enquanto 15% têm poupança para um mês. Por isso, 86% das famílias teriam dificuldades para comprar comida dentro de um prazo de até um mês se tiverem que ficar em casa. Sendo que 32% já preveem que será complicado comprar alimentos em uma semana.
“Por mais que isso soe alarmista, esse quadro pode indicar uma situação de convulsão social num futuro próximo”, alerta o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles. Para ele, são necessárias políticas que mantenham o padrão de vida dessa população. “Cesta básica ajuda, mas é, de novo, um morador da cidade, dizendo para o morador da favela o que ele tem direito. Mais efetivo seria transferir renda diretamente para que eles pudessem comprar o que precisam”, enfatiza.
Edição: Aline Leal/Denise Griesinger