O dia 31 de março de 1964 voltou ao centro das atenções nesta terça-feira (31), 56 anos depois da derrubada do governo de João Goulart (1919-1976) e a instauração do regime militar no Brasil. Alguns senadores criticaram manifestações do vice-presidente, Hamilton Mourão, e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, em comemoração ao aniversário do golpe e usaram suas contas no Twitter para defender a democracia. Outros reforçaram a posição dos membros do governo e parabenizaram as Forças Armadas pela ação que, segundo eles, teria evitado “um golpe comunista”.
Em sua conta no Twitter, Hamilton Mourão publicou uma mensagem para afirmar que há 56 anos as Forças Armadas “intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população”. Fernando Azevedo e Silva divulgou nesta segunda-feira (30) uma nota para lembrar o aniversário do golpe militar e defendeu que o “movimento” foi um “marco para a democracia brasileira” e uma reação “às ameaças que se formavam àquela época”.
Ao compartilhar a mensagem de Mourão e endossar suas palavras, Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) parabenizou os militares por ações passadas e atuais.
“Parabéns aos militares de ontem e de hoje. Muito obrigado por tudo que fizeram e continuam fazendo pelo nosso Brasil!”, escreveu.
Segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), graves violações de direitos humanos foram praticadas entre 1964 e 1985. Ao menos 434 mortes e desaparecimentos foram confirmados pelo órgão criado pela Lei 12528/2011 e que funcionou entre 2012 e 2014, durante o governo Dilma Rouseff. Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), a memória de Mourão sobre a ditadura é diferente da “das mães que tiveram seus filhos assassinados nos porões da ditadura”.
“O golpe militar de 31 de março de 64 levou o Brasil a um atraso de 21 anos em sua história. Nem mesmo crianças foram poupadas. Defender esse regime nefasto é atentar contra a memória, verdade e justiça de todos nós, o povo brasileiro”, criticou.
Segundo alguns veículos de comunicação, o presidente Jair Bolsonaro também teria lembrado o aniversário do golpe militar de 1964 na saída do Palácio da Alvorada na manhã desta terça e afirmado que “hoje é o dia da liberdade”.
De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é formado em História, o período sob comando dos militares (1964 a 1985) foi marcado pela supressão de direitos e representou um ataque à democracia.
“Autoritarismo, assassinatos, covardia. O golpe de 1964 marcou a história do país como um tenebroso período. Quem apoia um dos maiores ataques à vida humana que já ocorreram não está apto a viver em sociedade. Temos ódio e nojo à ditadura, e sempre teremos!”
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou em sua conta em uma rede social que o dia 31 de março de 1964 foi início de um longo período de repressão, mortes e torturas:
“O golpe de 64 é marco para uma noite de 21 anos que caiu sobre o Brasil. É marco da supressão de liberdades e da própria democracia. É marco de torturas, desaparecimentos e mortes que são feridas abertas pra sempre na nossa história”.
Ataque à democracia, retirada de direitos e ausência de liberdade de expressão são algumas da característica do período conforme apontou o senador Weverton (PDT-MA):
“31 de março de 1964, dia em que a Constituição foi rasgada e direitos retirados. Uma data para nos lembrar do que não queremos. A democracia, com todas as suas falhas, nos permite o contraditório, liberdade e o exercício real da cidadania”.
Para Arolde Oliveira (PSD-RJ) as Forças Armadas impediram um golpe comunista no Brasil.
“Hoje comemoramos a contrarrevolução de 31/3/64, quando o povo nas ruas delegou às Forças Armadas a missão de impedir o golpe comunista no Brasil. Saúdo os companheiros de farda que como eu relembram aqueles dias de patriotismo. Reverencio a memória dos que já partiram.”
A tese de Arolde é rechaçada por outros senadores como Eliziane Gama (Cidadania-MA). Para ela, não é dia de comemoração, mas lembrar a data é importante para que o Brasil não mergulhe novamente em um período de exceção.
“Ditaduras sempre são abjetas. O dia 31 de março de 1964 marca a data de início de um período sombrio de nossa história, não podemos deixar que o golpe militar e a ditadura sejos esquecidos. Temos que lembrar para não deixarmos que isso se repita”, defendeu.
Também preocupado com uma possível escalada antidemocrática, Fabiano Contarato (Rede-ES) pediu atenção:
“Fiquemos atentos para que a pandemia não sirva de pretexto para as aventuras de candidatos a ditador. Aqueles que cultuam, desavergonhadamente, a ditadura e querem que o povo saia à rua correndo risco de morte!”
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)