Um estudo de pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) para se reduzir o contágio pela covid-19 nos transportes do estado após a retomada das atividades econômicas, recomenda medidas como incentivo aos deslocamentos a pé ou por bicicleta; o aumento da frota de ônibus e de barcas e a redução dos intervalos de trens e metrô.

O documento, encaminhado à Secretaria de Estado de Transportes do Rio de Janeiro (Setrans), indica que as recomendações pretendem garantir a sustentabilidade do sistema de transporte, e sugerem a possibilidade de uma compensação financeira aos operadores de transportes, suportada por uma reestruturação financeira de todo o sistema de mobilidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Para os pesquisadores, as medidas implicam custos que, normalmente, não serão cobertos pelas tarifas.

O estudo, coordenado pelos professores Rômulo Orrico e Matheus Oliveira, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, ressalta a preocupação com a garantia da saúde e segurança física dos cidadãos e trabalhadores, destacando a importância das ações de distanciamento social e de higienização dos ambientes, conforme determina a Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras instituições de saúde.

O estudo indica também que é necessário fazer uma adequação no ambiente físico dos principais veículos de média e alta capacidade e assegurar a valorização da mobilidade ativa como uma alternativa eficiente, segura e resiliente para esses momentos. 

Os pesquisadores defendem que as medidas devem ser permanentes. 

Na visão do professor Rômulo Orrico, os veículos de transporte público estão entre os locais de maior potencial de transmissão da covid-19. Por isso, defende uma articulação governamental, de forma que secretários de Transporte do estado do Rio e das prefeituras tenham como orientar os dirigentes dos operadores de transportes.

Segundo o estudo, a estimativa é que, diariamente, mais de 1,4 milhão de pessoas se desloquem entre municípios, por ônibus e vans. No pico da manhã, entre 7h e 8h, são 543 mil passageiros transportados por ônibus intermunicipais. A totalidade das viagens em metrô e a maioria das viagens em trem são dentro da capital.

Em uma avaliação das medidas adotadas em outros países para enfrentar o problema, referentes às boas práticas na mobilidade e de proteção, os pesquisadores verificaram que entre as mais utilizadas nas principais cidades estão a implementação de ciclovias e ciclofaixas emergenciais, melhoria dos cruzamentos em eixos mais movimentados, incluindo automação de sinais para pedestres, antes realizadas por acionamento manual; a redução de áreas na via destinada a veículos, como forma de aumentar os espaços para pedestres; e ainda a suspensão de tarifas no transporte público para todos ou para alguns segmentos específicos da sociedade.

Segurança

A pesquisa sugere, ainda, como medidas de proteção, o uso de máscaras nos transportes e dentro dos terminais, acompanhado de fiscalização presente em todos os terminais e plataformas; isolamento do motorista dentro dos ônibus; e medição de temperatura de todos os funcionários das empresas de transporte. No caso dos ônibus, os pesquisadores defendem a criação de instrumentos que deem autoridade ao motorista para proibir o ingresso e permanência de pessoas sem máscaras no transporte, com respaldado pelos agentes de segurança quando necessário.

Rômulo Orrico indicou ainda que a testagem é um instrumento importante para garantir mais segurança nos transportes. “O distanciamento do motorista de ônibus também é garantido com barreira física em material plástico, isolando o assento do motorista, bem como com a proibição de uso de assentos próximos ao motorista, também isolados com fita e cartazes. Outra ação importante para controlar a propagação do coronavírus, é a testagem e isolamento dos infectados. Como há dificuldade de realização de testes, a União Internacional de Transporte Público (UITP) propõe que se realize, ao menos, a aferição da temperatura dos funcionários que trabalham em contato com a população”, informou.

Conforme os pesquisadores, é necessária a disponibilidade de álcool em gel para todos, higienização e medidas de distanciamento no interior dos veículos e nas plataformas. Além disso, pedem a sinalização dentro dos veículos, com demarcações alternadas e em diagonal, determinando os assentos que devem ficar vagos, seguindo recomendações da UITP. Nos metrôs e trens, o correto é que tenha marcações no chão para passageiros em pé, respeitando a distância mínima de um metro.

Compensação

A partir da constatação da perda de receita em consequência da redução da demanda por transportes públicos, desde o dia 16 de março, quando começaram as medidas de restrição das atividades em escolas, espaços públicos, nas áreas de lazer, os pesquisadores avaliaram que o setor levará um longo tempo para ter condições de restabelecimento, principalmente em função da queda de renda e emprego da população e, também, pela necessidade de respeitar espaços adequados entre os usuários de forma a evitar um forte e persistente surto dentro do sistema de transportes.

Segundo o professor Matheus Oliveira, mesmo que as restrições à circulação sejam, imprudentemente, suspensas, a severa crise econômica decorrente da pandemia afetará a renda e os empregos da população, e o patamar do orçamento será insuficiente para se permitir o nível de mobilidade do período pré-pandemia. “A esses, somam-se aqueles que, por prudência, continuarão evitando deslocar-se, numa tentativa de evitar a propagação da infecção para si e para os outros. Por isso, a nota propõe algumas formas de compensação financeira aos operadores de transportes, que pode ser por etapas”, observou.

Uma das propostas de apoio financeiro, que para os pesquisadores pode ser tomada dentro de 30 dias, está a definição de medidas de liberação de recursos por meio de subsídios condicionados à comprovação de real desequilíbrio, bem como de compromissos de garantia e melhoria dos serviços oferecidos. O estudo propõe ainda no período inicial, a liberação de linhas de crédito de rápido desembolso, oferecendo empréstimos garantidos e com juros mais baixos para atender às necessidades de capital de giro no curto prazo.

Também fazem parte da equipe, os pesquisadores Bruno Coelho, Gabriela Binatti, Ígor Maranhão, João Melo, José Paiva Neto, Júlia Fagundes, Mariana Carneiro, Priscila Carvalho, Ycaro Batalha e Dario Almeida.