A mudança na composição em um lote de gasolina de aviação (GAV) importada vendida no país este ano pode ter afetado peças de aviões e causado corrosão e vazamentos. A hipótese foi levantada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e divulgada nesta segunda-feira (17).
Os problemas detectados em alguns aviões que usam o combustível, notadamente pequenas aeronaves, foram registrados no início de julho deste ano, quando imagens divulgadas na internet mostraram vazamento de gasolina em alguns aviões, o que colocaria em risco a aviação desse tipo no país.
As denúncias foram oficializadas junto aos órgãos competentes, pela Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Aopa Brasil). Na época, a Petrobras determinou a suspensão do lote suspeito.
A ANP, por meio de seu Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas, analisou amostras de GAV que estavam custodiadas em três aeródromos no interior do estado de São Paulo (Jundiaí, Bragança Paulista e Piracicaba) e que haviam sido coletadas nos tanques de aeronaves. A previsão de conclusão dos ensaios para verificação da conformidade com a especificação do produto está prevista para a primeira quinzena de setembro.
Em laudo publicado dia 10 de agosto, a agência detectou que todas as 24 amostras analisadas atendem à especificação da GAV disposta em resolução de 2009, para os ensaios realizados, e que nenhuma das amostras apresentou resultado positivo para marcador, o que descarta a possibilidade de adulteração da GAV por solvente. Além disso, os demais ensaios também não identificaram a presença de qualquer outra substância corrosiva.
Porém, segundo a ANP, a maioria das amostras coletadas nos revendedores de aviação possui massa específica abaixo de 700 kg/m3 a 20ºC e teor de aromáticos menor que 2%, valores atípicos quando comparados aos lotes de GAV produzidas pela Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC), no período de 2014 a 2018, e das importações realizadas até fevereiro de 2020.
Compostos aromáticos fazem parte da gasolina, incluindo benzeno, xileno, etilbenzeno e tolueno. A GAV consumida no Brasil era produzida na RPBC, que atualmente está parada para reformas, o que força a importação do produto.
“A massa específica abaixo de 700 kg/m3 a 20ºC não se caracteriza como não conformidade frente à especificação do produto. Constitui-se indicativo de possível alteração de composição química típica. No caso específico, o baixo teor de aromáticos causou redução da massa específica, ainda que a GAV esteja de acordo com a especificação”, destacou a agência.
A hipótese de uma diferença maior na quantidade de compostos aromáticos no lote importado de GAV ter causado corrosão em peças de vedação dos aviões está sendo cogitada pela ANP.
“Avaliação preliminar sugere que a variação abrupta do teor de aromáticos em relação aos teores anteriormente presentes na GAV comercializada pode ter afetado as vedações e peças elastoméricas, tendo como possível consequência a ocorrência de vazamentos do combustível dos tanques de aeronaves. Tal hipótese, entretanto, precisa ser necessariamente aprofundada pela ANAC, ANP, fabricantes de aeronaves, órgãos internacionais da aviação civil e, se possível, da American Society for Testing and Materials (ASTM), instituição de referência mundial no estabelecimento de especificações para combustíveis de aviação”, informou a agência.