A seleção feminina de futebol se despediu da Granja Comary, em Teresópolis (RJ), nesta terça-feira (22). Sem poder realizar amistosos internacionais ou contar com atletas que atuam no exterior por causa da pandemia do novo coronavírus (covid-19), Pia Sundhage aproveitou o período, iniciado no último dia 14, para observar jogadoras que jogam no Brasil. A técnica aprovou, principalmente, a vontade demonstrada pelas convocadas que não conheciam sua maneira de trabalhar.
“O que vi é a energia delas, o quanto estão curiosas em relação ao que está acontecendo. O estilo sueco é um pouco diferente [do brasileiro] e acredito que isso seja legal. Se mantiverem a energia, essa curiosidade sobre os próximos passos, e tiverem boas performances, elas voltarão”, diz Pia em entrevista coletiva. “Foram dias muito efetivos e dinâmicos. As jovens atletas fizeram perguntas às mais experientes e é muito boa essa mistura. Também acredito que ficamos mais coesas. Algumas jogadoras, se comparadas ao primeiro dia, melhoraram muito, especialmente no 11 contra 11 [jogo-treino]. Mudamos algumas jogadoras de posição e foi interessante”, completa a técnica.
Entre as 24 atletas que estiveram na Granja Comary, a zagueira Tainara (Santos), as meio-campistas Carol (São Paulo), Maria Eduarda e Vanessa (ambas do Cruzeiro) e a atacante Ary Borges (Palmeiras) foram chamadas pela primeira vez à seleção principal. Já a meia Camilinha (Palmeiras), a zagueira Pardal e a atacante Adriana (ambas do Corinthians) receberam a primeira convocação com a treinadora.
Com as oito novidades, a sueca chegou a 54 jogadoras observadas em pouco mais de um ano na seleção. “Esses dias foram importantes para relembrarmos nossa ideia de jogo e não tomarmos nada por garantido. Tivemos um período sem treinos devido ao coronavírus e voltamos, todas com muita energia. Para algumas, foi um desafio, porque foi a primeira vez conosco. Outras estavam mais acostumadas. O mais importante: entendo que elas estão jogando mais rápido, e isso é algo que, provavelmente, levarão para seus clubes”, destaca Pia.
Velocidade e polivalência, porém, não foram as únicas características que a técnica trabalhou na Granja Comary. “Não é segredo que gosto de times que desafiam as linhas. Para você criar mais chances, tem que desafiar as linhas. Também gosto de compactação, no ataque e na defesa. Nos jogos que vi na liga [brasileira], os times começam bem taticamente, mas, eventualmente, perde-se um pouco da compactação no desenrolar do jogo. É importante, na atitude da jogadora de ataque, que ela saiba que vai atacar, mas que precisa defender com o time”, descreve a técnica do Brasil.
A impossibilidade de as brasileiras atuarem, em razão da pandemia, contrasta com a realidade das seleções europeias, que têm disputado jogos pelas eliminatórias da Eurocopa feminina. “Isso é uma vantagem, se comparado ao que temos hoje. No entanto, não podemos fazer nada sobre isso. O que podemos fazer é o que temos feito, que é competir entre nós, como um time. Se você realmente gosta de competir, você evolui o seu jogo. Sempre que formos jogar contra uma seleção e quando isso for acontecer, precisamos estar preparadas”, resume Pia.
Tu vens, tu vens
No fim de semana, o vídeo no qual Pia Sundhage aparece interpretando uma paródia da música “Anunciação”, de Alceu Valença, ganhou destaque na internet. A sueca canta a letra em português e, no refrão, adapta o trecho “Tu vens, tu vens” para “set pieces, set pieces” (bola parada, em inglês). A técnica conheceu a canção durante uma reunião da comissão técnica. Segundo ela, a música adquiriu um significado especial para a seleção feminina.
“Acredito que essa música se tornou algo a mais, como se dissesse que alguma coisa está acontecendo agora. Consigo sentir isso. É como abrir os olhos, ver que temos meninas e mulheres jogando futebol neste país, abraçando o jogo e levando a palavra adiante. Não se trata apenas de [buscar] uma medalha de ouro ou qualquer outra medalha. Mas, trata-se de atitude, de termos sonhos. Acho que essa música visa tornar o sonho realidade”, conclui.