Conta uma lenda lusitana, que existia um jovem, chamado Gustavo
Da Fonseca que havia herdado uma “holding” com quatro empresas, cada qual
com o nome de seus fundadores:
1) Padaria do Manoel: fundada há dois séculos, produzia
TODOS os tipos de pão;
2) Boloteria do Manoel: que produzia todos os tipos de bolos.
Seus trabalhadores recebiam os mesmos valores da Padaria do Manoel;

3) Padaria do Carlos: que fazia praticamente vendas no balcão,
dos pães e confeitos produzidos pela Padaria do Manoel; seus trabalhadores
recebiam vencimentos duas vezes maiores que os da Padaria do Manoel e da
Boloteria do Manoel;
4) Doceria do Ernan: vendia as “muchas” coisas produzidas pela
Padaria do Manoel.
Aconteceu que o novo dono, ao saber das diferenças salariais nas
empresas tomou uma atitude inusitada (acredita-se que por inexperiência),
prometeu aos funcionários da Padaria do Manoel, que iria equiparar os salários
de todos os empregados em todas as empresas. Isto criou uma expectativa
geral, afinal, diferente da Padaria do Carlos e da Doceria do Ernan, os
trabalhadores da Padaria e da Boloteria do Manoel estavam sem aumento há
mais de quatro anos. Poderiam mandar consertar o telhado de casa, voltar as
crianças para a escola, consertar o carro, pagar um empréstimo atrasado…
Passado um tempo, tal aumento não aconteceu, e o novo proprietário
veio a todos os empregados dizendo que “- Não posso aumentar o salário para
nenhum de vocês!”. Acontece que no dia anterior, o jovem equiparou o salário de
todos os trabalhadores da Doceria do Ernan aos da Padaria do Carlos. Justificou
que pagaria tal diferença com as “muchas” coisas que eram vendidas, mas se
esqueceu que quem produzia noventa por cento (90%) destas “muchas” coisas,
eram os funcionários da Padaria do Manoel.O sentimento que assolou os trabalhadores da Padaria do Manoel foi
um só. Passaram a se questionar se ainda gostavam de trabalhar na padaria… A
verdade é que a grande maioria ama trabalhar na padaria, faz porque gosta. Daí
ocorreu o pior: os mesmos ficaram desmotivados… RESULTADO: passaram a
produzir os pães franceses, único tipo de pão que eram contratados para
produzir.
No primeiro dia, nada mudou… Mas com o passar do tempo, as
pessoas começaram a reclamar. Estavam acostumadas a ter o pão quentinho o
dia inteiro, e as fornadas saíam agora, apenas quando eram solicitadas…
Começaram a faltar opções na Padaria do Carlos e as “muchas” coisas na
Doceria do Ernan.A falta de brioches, roscas, pães-palito, biscoitos, pães-de-queijo,
entre outros, tomou conta dos jornais. Acusavam os trabalhadores da Padaria do
Manoel de serem os verdadeiros algozes. Chegaram a dizer que quem não
estava satisfeito que saísse da padaria, fosse tentar uma vaga na Padaria do
Carlos, enfim… Mas “quando se está insatisfeito em um casamento, a atitude
mais correta, e porque não até nobre, é primeiro buscar resolver o que lhe deixa
insatisfeito, e não abandonar um casamento, pois a única pessoa que pode
melhorar esta instituição, que é o casamento, é quem faz parte dele.”
Esqueceram-se que, ainda que fossem trocados, TODOS os trabalhadores da
Padaria do Manoel, os novos trabalhadores, em pouquíssimo tempo, sentiriam o
peso da desmotivação, por produzir e vender as diversas iguarias, mas não
serem valorizados pelo senhor proprietário.

Os problemas estavam se agravando quando os Produtores,
responsáveis pela fabricação de toda matéria-prima de todo o material
consumido pela sociedade, questionaram seu valor. Curioso que todos querem
matéria-prima de qualidade, mas não querem que os produtores recebam à
altura. Assim, as pessoas interessadas em ser produtores estavam, cada mais
raros e insatisfeitos.
Ora, o senhor Gustavo Da Fonseca precisava agora, melhorar as
áreas de plantio, os salários dos produtores, bem como promover um plano de
equilíbrio salarial entre os trabalhadores da “holding” que herdou.
O senhor Gustavo Da Fonseca promoveu um novo gerente da Padaria do
Manoel, que tomou todas as medidas para que fossem produzidos os pães
franceses quentinhos, durante o dia inteiro… O novo gerente garantiu a produção dos pães franceses… Ofereceu melhorias na Padaria, mas não podia obrigar os
trabalhadores a produzir pães-carteira, pães-careca e outros, pois só quem
sabia como fazê-los era quem os fazia. Todos seus esforços frutificariam, caso fossem cumpridas as promessas feitas pelo senhor Gustavo da Fonseca…
O que dizer dos trabalhadores que são pagos para fazer pães
franceses? Estão assim, tão errados em não conseguir ter ânimo para produzir o
algo mais? Não competiria ao senhor Gustavo buscar uma forma de incentivar
seus empregados? Incentivar os produtores? Ainda que seus empregados
estejam motivados, sem os produtores não haverá meios para se produzir o que
se quer…
Após quase um ano… Os trabalhadores da Padaria de Carlos, mais uma vez, questionaram suas condições salariais… Já os da Padaria do Manoel, impedidos de qualquer questionamento ou paralização, apenas observam e aguardam um incentivo que lhes restitua a dignidade e reconhecimento da profissão… uma fantasia como a lenda descrita…