Elites não querem polícia eficiente, diz especialista

A face mais visível do combate à violência é a das forças de segurança do Estado, em especial a polícia, da qual se esperam soluções imediatas para o problema.
Mas em diversos países da América Latina – e o Brasil não é exceção à regra – a polícia não é conhecida nem pela sua eficiência nem pelo respeito aos direitos dos cidadão.
O americano Paul Chevigny, um especialista em forças de segurança na América Latina da Universidade de Nova York, adverte porém que, se a polícia não responde aos anseios dos cidadãos, isso em grande medida se deve ao desinteresse de setores influentes de uma sociedade.
”Um tempo atrás, um delegado brasileiro disse que as classes privilegiadas não querem uma polícia eficiente, e sim uma que aja com dureza contra os mais pobres”, afirma Chevigny. “Eu acho que há muita verdade nesta afirmação.”
Cultura
Chevigny segue o raciocínio de outros analistas que estudam o desempenho das polícias latino-americanas e vêem uma corporação nem sempre preocupada em proteger todos os cidadãos de uma forma eqüânime.
Ele vê problemas tanto na cultura da polícia quanto em setores mais amplos da sociedade que acabam se refletindo no comportamento dos homens da lei.
“Enquanto houver tanta corrupção nos países latino-americanos, os problemas da polícia não têm como ser resolvidos”, diz Chevigny.
“A incapacidade da polícia de combater o crime de uma forma efetiva em grande parde se deve a um sistema em que políticos querem que crimes de grande expressão não sejam investigados.”
Por esse motivo, segundo Chevigny, antes de cobrar uma postura mais correta das forças de segurança, o que a sociedade deve fazer primeiro é olhar para si mesma.
”Os policiais brasileiros não são estúpidos, eles podem ser treinados para fazer seu trabalho muito bem. Mas o sistema inteiro encoraja a polícia a agir de uma forma violenta.”
Primeiro passo
Mas Chevigny, autor de estudos sobre as polícias do Brasil, da Argentina e da Jamaica, reconhece que não é possível esperar a solução de todos os problemas que afligem um país antes de reformar a polícia para torná-la mais eficiente.
Ele diz que é possível tomar algumas medidas imediatas para melhorar a situação. No caso brasileiro, Chevigny recomenda, como primeiro passo, o fim da organização militar das diversas forças policiais.
“A polícia no Brasil fuciona como se fosse um exército”, diz Chevigny.
“Esse é o jeito errado de organizar a polícia porque não existe um inimigo. O povo não é o inimigo.”
Na opinião de Chevigny, esse tipo de organização faz com que os policiais sejam premiados por bravura até quando cometem violações aos direitos humanos – chegando a extremos como premiar os agentes que matam mais pessoas quando estão trabalhando.
Já o sociólogo venezuelano Roberto Briceño-León afirma que, para se tornarem mais eficientes e confiáveis, os policiais precisam receber treinamento e ser tratados com mais respeito, o que inclui o pagamento de melhores salários.
Caso contrário, a população vai perdendo a confiança nas forças de segurança e começa a chamar para si mesma as responsabilidades da polícia.
“A classe média olha para a polícia e, se não fica satisfeita, pensa em se armar, em privatizar a segurança”, afirma Briceño-León.
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