Momentos antes de descer a rampa que dá acesso à sala de eventos do Palácio do Planalto ao lado do ministro da Justiça, Sergio Moro, na quinta-feira passada (29/08/2019), em um gesto simbólico da reaproximação, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro tiveram uma dura conversa. Segundo interlocutores dos dois lados, o encontro quase resultou na saída de Moro do governo.
A situação foi contornada, no entanto, a tempo de evitar esse desfecho, após o presidente ser convencido de que teria muito a perder com uma eventual demissão do ex-juiz da Lava Jato, idolatrado por grande parte dos eleitores.
Durante o evento, que marcava o lançamento de um programa da pasta de Moro, o presidente elogiou – que chegou a ter o status de “superministro” –, a quem se referiu como “patrimônio nacional”.
Um dos ingredientes que azedou a conversa de horas mais cedo foi justamente a insistência do presidente em fazer alterações no comando da Polícia Federal (PF). Bolsonaro repetiu que foi eleito para alterar a forma como o país vinha sendo conduzido e que, se não for para fazer isso, não valeria a pena ocupar o cargo.
Essa posição de Bolsonaro foi explicitada em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira (04/09/2019), em que o presidente disse ser necessário dar uma “arejada” na PF e que já conversou com Moro sobre a troca do diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo.
O atual diretor-geral é ligado ao grupo de Leandro Daiello, mais longevo a ocupar o cargo máximo da PF. Ele ficou no posto por sete anos, de 2011 até 2017. Apesar de ter chefiado a corporação durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), foi em sua gestão que a PF deflagrou operações que atingiram a alta cúpula do PT, como a Operação Lava Jato.
Valeixo comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) na gestão Daiello e foi Superintendente da PF no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado por Moro para assumir a diretoria-geral.
Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.
O nome que tem sido ventilado para o cargo, de Anderson Gustavo Torres, atual secretário de Segurança do Distrito Federal, é próximo do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), de quem foi chefe de gabinete na Câmara dos Deputados. Embora aliado, Francischini se afastou de Bolsonaro na campanha eleitoral e abriu mão de tentar se reeleger deputado federal para dar espaço ao filho, deputado Felipe Francischini (PSL-PR).
A intenção de Bolsonaro não é só mexer na PF. Ele já sinalizou que vai fazer mudanças também na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e na Receita Federal.
Militares com cargos no governo concordam com a atitude de Bolsonaro de fazer trocas na PF, mas discordam da forma como o presidente age, com declarações públicas para demonstrar força, repetindo que quem manda é ele.
Trégua
Antes da conversa ríspida da última quinta-feira, Moro já havia se encontrado a sós com Bolsonaro na mesma semana para tentar aparar as arestas. O desgaste entre os dois começou após o presidente anunciar, no mês passado, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio por “questão de produtividade”.
A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”.
Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que “quem manda é ele” e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome de confiança de Moro. Internamente, as “ameaças” do presidente foram vistas como uma tentativa de interferência política no órgão responsável por investigações.
Moro tem negado que tenha pedido demissão e fez demonstração de apoio a Valeixo recentemente, ao elogiar publicamente o seu trabalho. Agora, a expectativa na PF é saber se ele vai acatar o pedido de demissão feito por Bolsonaro.
Informações do Portal Metrópoles