O Caminhos da Reportagem faz algumas reflexões sobre a vida em quarentena em tempos de pandemia do novo coronavírus. Com a pandemia, empresas, empregados e autônomos, quando possível, testam o trabalho remoto. Nossa equipe de produção e reportagem também experimentou esse formato para colocar no ar a edição Vidas em Quarentena. As jornalistas Flavia Peixoto e Gracielly Bittencourt conduziram a reportagem, cada uma em sua casa. O episódio Vidas em Quarentena vai ao ar neste domingo, às 10h, na TV Brasil.
A arqueóloga portuguesa Joana Freitas nos lembra que esse tipo de epidemia e pandemia tem ao longo dos séculos assustado e feito parte das vivências do homem. Nessa experiência, que é histórica, recebemos vídeos de pessoas que estão vivendo este momento de formas diferentes.
Marcella Martins é trans e trabalha como taxista em São Paulo. No início da pandemia, Marcella seguiu trabalhando. Em um dos dias de trabalho, foi de madrugada buscar no aeroporto de Guarulhos uma família que chegava de viagem da Europa. “Eu fiquei com medo. Mas eu também não poderia deixar eles na mão porque são pessoas que estão comigo no dia a dia”, explicou, se referindo aos passageiros. No decorrer dos dias, porém, o medo aumentou e a procura por taxi caiu bastante. Marcella decidiu se confinar em casa.
Quem também não pode ficar o tempo todo em casa é Paula Braga, uma jovem de 23 anos que mora no interior de Minas Gerais. Ela tem um problema renal crônico e precisa fazer hemodiálise três vezes por semana. Para fazer o tratamento, ela sai de Guimarânia, onde mora, e vai a uma cidade vizinha, Patrocínio. “Eu já estou na fila do transplante renal, desde agosto de 2019. Meu pai se ofereceu para ser um doador renal para mim e a gente estava fazendo exames, procurando saber se a gente conseguiria fazer esse transplante o mais rápido possível. E por conta da epidemia foi tudo parado”, lamenta.
Do Pará, recebemos vídeos de pessoas que estão saindo de casa para ajudar quem está mais vulnerável: a população de rua, os refugiados, autônomos e aqueles que perderam empregos em decorrência dos reflexos da pandemia na economia. Sofia Paz é voluntária da ONG Pará Solidário. Ela explica que após a pandemia, muitos grupos que ajudavam as pessoas em situação de rua param de atuar e a ONG começou a oferecer apoio também a esse público. Elthon Costa é autônomo e, junto com a esposa, organiza ações solidárias na região metropolitana de Belém.
Se há quem precise trabalhar e sair de casa; há quem pode ficar em casa. A quarentena em família, dentro de casa, também é um tema que aparece no nosso programa. Fizemos contato com várias famílias que nos mostram como está a rotina (há uma rotina?) dentro de casa, com filhos pequenos e adolescentes. Como a família Imhoff em Florianópolis. A pequena Luísa completou 3 anos de idade e a festinha, que antes seria com as colegas da escola, foi feita com as bonecas da menina.
A psicanalista Vera Iaconelli reforça que precisamos nos lembrar de que tudo isso vai passar.
“Com perdas e ganhos, mas a gente vai ultrapassar, a gente já ultrapassou guerras mundiais, a gente já ultrapassou depressão econômica mundial de 1929, a gente já ultrapassou muito sofrimento e a gente vai ultrapassar isso, sim, e depois vai ter que correr atrás de um monte de perdas, mas também de um monte de ganhos”.
A advogada Daniela Teixeira recebeu diagnóstico da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Daniela foi a primeira paciente do Distrito Federal que se curou da doença.
“Eu estou doida para abrir a porta e sair de casa, né? A gente ainda está em isolamento e como o mundo mudou em 20 dias. O mundo mudou, o país mudou, tudo mudou. É importante que a gente mude também”.