Eles tinham um único objetivo: proteger a sociedade goiana. Profissionais que, por vezes, colocaram as próprias vidas em risco para garantir a paz. Pessoas de bem, que tinham como fonte de dedicação o cuidado e o amor ao próximo. Servidores da Segurança Pública que aliaram boas idéias, com a boa vontade, planejamento e muita ação.
As nossas homenagens, hoje, vão para os integrantes da Segurança Pública do Estado de Goiás. que foram vítimas da COVID-19. Essa doença que é a inimiga em comum de toda população mundial e que está causando muita dor e sofrimento em milhares de famílias espalhadas pelo mundo todo.
Fizemos questão de conversar com os familiares desses profissionais que são tão valiosos para uma sociedade. Entramos em contato com a família do Subtenente da Polícia Militar de Goiás, Elvis Silva de Araújo. A filha do policial, Tuany Araújo, de 27 anos, engasgou quando tocamos no assunto e explicamos o motivo da ligação. Mas ela não hesitou em descrever o pai.
“Era um excelente policial, excelente marido, excelente pai e excelente pastor. Não vivia nada para além disso. Ele colocava as pessoas em primeiro lugar. Ele dedicou a vida para tudo isso, e quem o conheceu sabe e diria o mesmo”.
Com nó na garganta, Tuany nos contou das boas lembranças e falou da saudade que aperta o peito. Durante mais de 29 anos, o Subtenente Elvis Silva de Araújo fez parte da Polícia Militar de Goiás. A luta era tarefa diária no cotidiano do policial. Respeitado na carreira militar, nunca se curvou para a criminalidade. E ele batalhou até o último suspiro, mas acabou sendo vítima da Covid-19 no dia 11 de julho de 2020 em Luziânia, Entorno do Distrito Federal. Faleceu com 49 anos e deixou a esposa e 3 filhos.
Com o coração apertado, após ouvir os relatos da filha do Subtenente da PM Elvis, ligamos para o familiar de outra vítima. A reação foi a mesma. Era possível ouvir, mesmo que por telefone, que a pessoa do outro lado da linha estava com o choro engasgado.
“Ele era dedicado em tudo que fazia”, contou Roseli Piedade de Lima Silva. Muito emocionada, ela falou que ‘dedicação’ era a palavra que melhor definia o marido, o perito criminal de classe especial, Valdinei da Silva.
“Em todos os lugares que trabalhou ele se preocupava e procurava fazer tudo da maneira correta e honesta. Tinha um senso profissional ímpar e era um excelente pai e marido”, disse.
Valdinei, que trabalhava para a Polícia Técnico-Científica desde 1999, foi gestor da Regional de Ceres por muitos anos e ali fez a diferença para Segurança Pública. Na última quarta-feira, 15/07, foi comunicado o falecimento de Valdinei à família. Ele tinha 51 anos e deixou a esposa, filhos, muitas histórias e saudades irreparáveis aos familiares, amigos e colegas de profissão.
Também nos despedimos de Vantuir Pinto Camargo, auxiliar de Autópsia da Superintendência de Polícia Técnico-Científica. Ele dedicou 16 anos da vida à sua paixão: Polícia Técnico-Científica. Sua competência sempre foi a principal característica apontada pelos colegas de trabalho. Profissional dedicado que nunca se curvou a qualquer limitação. Sempre esteve a postos para servir a população goiana.
Welcia Queiroz da Silva foi pra quem ligamos logo que terminamos de conversar com Roseli. Welcia é esposa do Sargento da Polícia Militar, Nilson João Ananias, de 48 anos, com quem teve dois filhos. Ele estava na ativa e trabalhava na assistência da PM no Tribunal de Justiça de Goiás. No último dia 15, Welcia recebeu uma das piores notícias que já recebeu na vida. O marido, que ela descreveu como “inigualável” tinha acabado de perder a guerra para a Covid-19. Entre um suspiro e outro, ela esboçava algumas frases.
“Tudo que ele fazia era com muita perfeição e capricho. Como homem, pai, marido e profissional, uma pessoa de caráter, justo, íntegro e que ajudava os outros”, relatou.
Welcia dividiu conosco uma das mais angustiantes situações que foi a de não poder despedir do marido. Nilson virou mais uma estatística. Ironia do destino. Justo ele, como os demais servidores da Segurança Pública, que tanto trabalhou para que as estatísticas em Goiás não se elevassem, preocupando durante boa parte da vida com a proteção de 7,2 milhões de goianos. Nilson dedicou 28 anos da vida à Polícia Militar.
Nós também falamos com a senhora Aureliana de Oliveira Sales, e com Ana Lúcia, Paula e Fernanda, respectivamente mãe e irmãs do Soldado da Polícia Militar Ubirajara Luis de Sales, de 38 anos, que trabalhava para a Segurança do Estado há mais de 6 anos. Ele foi o primeiro policial da corporação a morrer em decorrência do coronavírus em Goiás – no dia 1º de junho. Dona Aureliana sequer conseguiu falar sobre sua perda, tamanha dor tem sentido desde que o filho se foi. As irmãs de Ubirajara conseguiram conversar conosco. Entre elas foi consenso: o irmão era um grandioso profissional e era muito admirado por toda família. Ele não tinha esposa, não tinha filhos. Mas o que ele tinha de sobra eram sonhos a serem realizados.
Outras perdas irreparáveis e que jamais serão esquecidas são a do 2º Sargento da Reserva Remunerada, Eurípedes Ferreira de Brito, e do 1º Sargento da reserva remunerada, Antoninho Martins Rodrigues. Eurípedes e Antoninho eram do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. O 2º Sargento Eurípedes tinha 64 anos e faleceu na última quinta-feira (16/07). Ele era natural de Goiás e entrou no Corpo de Bombeiros em 1983. Ele estava na reserva remunerada desde 2004 e, em 2018, havia sido promovido por ato de bravura pela prestação de trabalho no acidente radioativo do Césio 137, em Goiânia. Já 1º Sargento Antoninho, estava na Reserva Remunerada desde 2011. Nasceu em Itumbiara, tinha tinha 63 anos, entrou na corporação em 1982 e trabalhou nos quartéis de Goiânia e Senador Canedo.
Nossas homenagens também são dedicadas a Eurípedes Barsanulfo Tavares de Brito, servidor do Estado desde 1985. Ele estava aposentado. Até 2018, Eurípedes esteve a serviço da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária. Muito querido entre os colegas e amado pelos familiares, se despediu da vida em função de complicações da Covid-19.
Outra perda que está sendo sentida com muita dor e pesar é a do Subtenente da Polícia Militar Luís Fernando Ferreira. Ele prestava serviços ao Estado há quase 30 anos. Por vezes, deixou o afago familiar para lutar contra a criminalidade e garantir a paz dos goianos. Amante da farda militar, Luís Fernando foi mais uma grande perda da Segurança Pública.
O Sargento Wagner Luiz de Almeida da Polícia Militar também é um dos nossos heróis que passou, durante 26 anos, diversas datas comemorativas em patrulhamento nas ruas goianas, ao invés de estar com a família. Porque tinha assumido como missão proteger a população do Estado de Goiás. A Covid-19 o levou. Ele deixou a esposa, dois filhos e muitas histórias de natais dedicados ao povo goiano.
Edmilson José de Souza, também Sargento da PM, profissional ativo há mais de 25 anos, agora faz parte da nossa triste estatística. Pior do que estar em meio aos números trágicos do nosso Estado, é não tê-lo mais para fazer o que mais amava na vida: ser policial. Ele deixou esposa e uma filha.
Outra perda que registramos é a de José Aparecido Borges, Subtenente da Reserva Remunerada do Corpo de Bombeiros que trabalhou mais de 30 anos dedicados a segurança de Goiás. Não foram poucas as vezes que esses profissionais não puderam abraçar as mães no domingo de maio, porque o cumprimento do dever não permitia. E agora, partiram vítimas de uma doença que está batendo na porta das casas do mundo inteiro.
Apenas em Goiás, no dia 17 de julho, foram contabilizadas mais de 1000 mortes por Covid-19. Destes, o número de servidores da Segurança chegou a 10 em menos de três meses. O Estado de Goiás perdeu profissionais da Segurança Pública que estavam na ativa, trabalhando na linha de frente no combate à criminalidade e que não puderam ficar em casa. E também teve perdas de profissionais aposentados, que já estavam na reserva, mas que dedicaram toda a vida à missão de garantir a proteção ao povo goiano.
Todas estas pessoas precisam ser lembradas para que os cidadãos goianos façam sua parte no combate a propagação do novo coronavírus. Neste momento, é preciso responsabilidade e empatia. O isolamento social é a melhor profilaxia. Sinta as dores dessas famílias e evite aglomerações. Ajude a minimizar dor e sofrimento. Faça a sua parte, use máscara, lave as mãos com água e sabão e, quando não for possível, utilize o álcool gel. Fique em casa e salve vidas.