“A Defesa Civil somos todos nós, equipes que colocam as vidas em risco para salvar outras pessoas” – coronel PM Henguel Ricardo Pereira
Na noite de um domingo, dia 29 de janeiro, tudo parecia tranquilo para o capitão PM Vagner Martins da Silva, agente do Sistema de Defesa Civil do Estado de São Paulo, que estava em casa descansando com sua família. No entanto, por volta das 23h, ele recebeu um chamado que mudaria sua vida: integrar uma equipe de agentes da Defesa Civil do Brasil em uma missão desafiadora na Turquia, após um terremoto devastador que causou mortes e destruição.
Foram 17 dias de trabalho intenso em meio ao caos, frio e comunicação limitada. No entanto, a equipe brasileira não se intimidou e fez 46 operações de busca e salvamento, além de 74 atendimentos médicos. O capitão Vagner relembra o momento em que ocorreu um segundo tremor e todos foram lançados ao chão:
“Estávamos ao lado de um prédio, e eu estava próximo a uma cerca de metal quando ocorreu o segundo tremor. É inacreditável a força do evento. Mas estar nesta profissão e vestir este colete é um sacerdócio. Onde nos encontramos aqui é servindo às pessoas e prestando apoio”, disse o capitão Vagner.
Relatos como esse mostram a dimensão do grau de humanização, agilidade e compromisso no trabalho dos agentes da Defesa Civil do Estado de São Paulo, que celebrou 47 anos em uma solenidade com a presença do governador Tarcísio de Freitas nesta segunda-feira (17).
Criada em 9 de fevereiro de 1976 após os incêndios nos edifícios Andraus e Joelma e as fortes chuvas em Caraguatatuba, a Defesa Civil estadual desempenha um papel relevante para toda a população paulista em situações de desastres naturais ou decorrentes de intervenção humana. Por meio de um centro de gerenciamento de emergências, a instituição monitora condições climáticas e emite alertas para todas as regiões do estado.
“A cada dia que passa, eu admiro mais os integrantes do nosso Sistema de Proteção e Defesa Civil, essa turma de colete laranja a quem eu quero pedir uma grande salva de palmas”, afirmou o governador Tarcísio de Freitas.
Com 35 anos como policial militar, o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel PM Henguel Ricardo Pereira, trabalha com emergências há mais de duas décadas e ressalta o papel da instituição na defesa da vida.
“A Defesa Civil somos todos nós, a comunidade. São equipes muitas vezes pequenas, mas compostas de profissionais abnegados que diuturnamente colocam suas vidas em risco para salvar vidas de outras pessoas”, afirma o coronel.
A atuação da Defesa Civil em 2023 foi ainda mais importante com o trabalho de resgate e salvamento após as chuvas extremas no Litoral Norte durante o carnaval. O maior temporal já registrado no país deixou um rastro de mortes e destruição em São Sebastião, mas a resposta do Governo de São Paulo ajudou a retirar mais de mil pessoas das áreas de risco, ação em que os agentes da Defesa Civil foram decisivos para proteger vidas e auxiliar a cidade a restabelecer serviços essenciais.
O capitão PM Caique Ramos Amaral, de 39 anos, foi o primeiro a chegar à região. Em pleno feriado de carnaval, ele integrou a primeira equipe de apoio da Defesa Civil do Estado, dando suporte para as vítimas da tragédia em São Sebastião. “Era madrugada do dia 19 quando fomos avisados. Ao chegar em São Sebastião, não tínhamos ainda a dimensão do que tinha acontecido”, disse.
O trabalho da Defesa Civil foi então pautado em tentar organizar o cenário de caos estabelecido no município. “As pessoas estavam muito assustadas, e a cidade estava muito cheia por conta do feriado e sem nenhum dos serviços básicos funcionando. Nós não tínhamos acesso aos locais dos deslizamentos”, relembra.
Durante quase um mês trabalhando na reestruturação dos serviços básicos locais e apoiando a gestão dos serviços fúnebres, entre outras iniciativas, dezenas de situações foram presenciadas. “Estruturando a gestão de crise, a gente presencia muita coisa. Um caso que me marcou muito foi o relato do salvamento de uma mãe que, soterrada, ouvia a filha pedir por ajuda e não conseguia alcançá-la. A mãe foi resgatada com vida, e a criança, não”, conta.