A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de SP (Semil), divulgou, nesta quarta-feira (23), a primeira parte de seu Relatório de Monitoramento de Sistemas Agroflorestais (SAFs). O estudo analisou, inicialmente, a percepção dos agricultores sobre o impacto que tais sistemas – que associam árvores com culturas agrícolas de maneira simultânea ou sequencial – proporcionam à biodiversidade. O resultado foi positivo, com melhorias significativas no manejo das 14 propriedades rurais participantes.
De acordo com o estudo, houve um aumento notável na diversidade de espécies vegetais cultivadas, bem como no período produtivo das culturas. Os dados evidenciam que as técnicas de manejo estão focadas em reduzir o impacto ambiental, com a diminuição do uso de maquinário pesado após a adoção dos SAFs. No projeto, foram realizadas, ao longo de 36 meses, 150 capacitações para os agricultores, abrangendo temas relacionados ao manejo de SAFs e à comercialização, além de 14 campanhas de coleta de dados de monitoramento em campo.
O projeto “Monitoramento de Sistemas Agroflorestais no Estado de São Paulo para proteção e conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade” é financiado pelo Fundo Estadual dos Recursos Hídricos (FEHIDRO). Seu objetivo geral é monitorar os impactos dessa prática agrícola e ambiental sobre os recursos hídricos e a biodiversidade, bem como avaliar custos e receitas decorrentes da implantação de tais sistemas para posterior obtenção de créditos financeiros.
“Com o estudo, é possível avaliar a importância das políticas públicas promovidas pela Semil na promoção da melhoria da qualidade e sustentabilidade ambiental”, afirma a diretora do Centro de Projetos, da Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade (CFB), Neide Araújo. “Além disso, o relatório reconhece os produtores que modificam positivamente a paisagem rural ao proporcionar a conservação da biodiversidade e disponibilização de serviços ecossistêmicos. Um resultado que se reflete no comportamento de outros produtores”, acrescenta.
O relatório ressalta um aumento expressivo no número de espécies vegetais e indivíduos arbóreos cultivados, bem como no desenvolvimento de diferentes estratos de vegetação após a adoção dos SAFs. Especialmente em relação à fauna silvestre, a percepção dos produtores rurais revelou não apenas um aumento na frequência de registros dos animais nas áreas produtivas, mas também uma maior diversidade de espécies, destacando a importância de aspectos educacionais relacionados à aceitação e importância da fauna. Nesse sentido, os produtores rurais entrevistados reagiram positivamente à presença de animais silvestres nas áreas produtivas, o que contribui para promover uma coexistência harmoniosa.
“Os aprendizados práticos sobre as SAFs, principalmente nos cursos ministrados, facilitaram o aprendizado e a aplicação do sistema no meu terreno”, confirma o produtor rural José Marques Sobrinho, do assentamento Antônio Conselheiro, em Guarantã. “Ter um projeto como esse nos ajudou a entender e aplicar melhor pautas como conservação de fauna, uso sustentável da água e outros temas que afetam diretamente o desenvolvimento das nossas plantações”, acrescenta.
A abordagem agroflorestal considera processos ecológicos naturais, resultando em maior biodiversidade em comparação com situações anteriores. Esse sistema não está limitado ao manejo de espécies com fins econômicos ou de consumo, mas abrange todos os componentes essenciais para a manutenção dos solos, microrganismos e fauna em geral, garantindo o equilíbrio dos ecossistemas.
O relatório observa, também, impactos positivos na fertilidade do solo e na cobertura vegetal viva e morta nos cultivos. Notavelmente, a implementação dos SAFs contribuiu para reduzir o uso de adubos químicos e agrotóxicos, o que resulta em benefícios para a preservação ambiental e para a saúde pública. Adicionalmente, a avaliação social mostrou que, embora não tenha havido diferenças na atuação das mulheres, a participação dos jovens na atividade produtiva aumentou com a implantação dos sistemas agroflorestais.
Os SAFs são internacionalmente conceituados como sistemas de uso da terra e de tecnologias em que plantas de ciclo longo e/ou animais são usados na mesma unidade de manejo de culturas agrícolas. Os resultados desta prática são de extrema importância para a conservação da biodiversidade, proporcionando habitats para animais, formação de corredores ecológicos e fornecimento de serviços ecossistêmicos. Além disso, os SAFs disponibilizam alimentos para muitas espécies, como aves e morcegos, que se alimentam de frutas, néctar, pólen, casca e folhas das árvores. A serapilheira (material vegetal em decomposição sobre o solo) também oferece condições favoráveis para o desenvolvimento de organismos, a chamada fauna edáfica.
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