A ideia do homem na Lua ou em Marte, em futuras colônias, é cada vez mais cogitada por agências espaciais. Mas, para esta exploração, além de tecnologia é preciso estratégia, principalmente quando o assunto é a vivência dos astronautas em missões que podem levar meses e até anos.

Realidade também dos astronautas que ficam por longas jornadas na Estação Espacial Internacional (ISS), que foi construída com investimento coletivo e colaboração de astronautas de vários países.

Rotinas cada vez mais sustentáveis estão em teste e podem garantir o sucesso de futuras missões espaciais.

Já de olho na Artemis, que levará a primeira mulher à Lua em 2024, e em missões para Marte, a Nasa inicia experimentos com um novo protótipo de banheiro que será levado à ISS, na quinta-feira (1º), pela nave espacial Cygnus.

O lançamento inicial da Cygnus – que leva também experimentos científicos e suprimentos – estava previsto para esta terça-feira (29), mas foi adiado devido às condições climáticas.

Gerenciamento de resíduos

Segundo a Agência Espacial Norte-Americana, o novo banheiro, chamado de Sistema de Gerenciamento de Resíduos Universal (UWMS), é 65% menor e 40% mais leve e foi adaptado levando em conta as considerações de conforto e segurança dos astronautas, inclusive das mulheres.

Neste sistema, a urina passará por um sistema de reciclagem e tratamento para uso posterior da água. A meta, segundo a Nasa, é atingir taxas de reciclagem de 98% antes das primeiras missões humanas para Marte.

Já os resíduos sólidos – que não são processados para recuperação de água – ficam em um recipiente removível de armazenamento. Parte é devolvida à Terra para avaliação, mas a maioria é carregada em uma nave de carga que queima ao entrar na atmosfera da Terra.

“O ideal é que nada escape de ser reutilizado. Então, se tiver como aproveitar a água dos dejetos com certeza farão até para deixar isso mais barato e mais eficiente”, diz a engenheira aeroespacial Ana Paula Castro que participou da missão espacial simulada da ESA – Agência Espacial Europeia – EuromoonMars, em dezembro do ano passado.

No experimento no Havaí, que simulava um habitat extraterrestre, foi adotado o sistema de compostagem, em que os dejetos humanos são desidratados.

“É tipo uma caixa que tem um toilet normal e os dejetos vão para um recipiente abaixo. Nesta caixa, adicionam-se compostos secos e um líquido para eliminar bactérias e fazer a compostagem. Tem uma manivela que você roda e dependendo da quantidade de pessoas, essa caixa tem que ser limpa a cada 3 a 5 dias. O ideal seria reutilizar para fertilizar o solo”, diz a engenheira aeroespacial.

Alimentação

Outro desafio para missões espaciais é a alimentação dos astronautas. Como elaborar um cardápio que atenda às exigências da saúde física e mental e ainda seja sustentável?

Pensando nisso, agências espaciais, como a norte-americana e a europeia, já estudam espécies de estufas para plantações de batata doce, couve, soja, entre outros.

Ao longo das décadas, o processamento dos alimentos foi modernizado – passando de tubos com pastas a um cardápio bem próximo do que comemos na Terra, como frutas, atum enlatado e até tortilhas.

Para a nutricionista Juliana Meirelles, além de compor a logística da viagem, os alimentos são importantes para resguardar mudanças que ocorrem no corpo dos astronautas devido à microgravidade.

“Quando a gente pensa em uma missão espacial, além desta questão de planejar a adequação dos micro e macronutrientes, há também as questões ambientais que impactam o nosso metabolismo, mas também a comida que é levada para o espaço. Comida que muitas vezes tem que passar por diversos processos industriais para que suporte a viagem e que dure mais tempo na prateleira, que pode durar até seis anos. Então, toda tecnologia empregada é bastante importante para que isso aconteça”, diz a nutricionista.