Em virtude da pandemia do novo coronavírus, a organização não governamental (ONG) Saúde Criança decidiu manter, em ambiente virtual, o atendimento psicológico prestado há mais de 20 anos a famílias em situação de vulnerabilidade social no Rio de Janeiro, por meio do programa Aconchego Família.
Os encontros virtuais ocorrem em aplicativos de reuniões (como zoom e hangout) e são facilitados por psicólogos, assistentes sociais, advogados e voluntários, a depender do tema em debate.
A fundadora e presidente do Conselho de Administração da ONG, Vera Cordeiro, conta à Agência Brasil que o atendimento mediado é um aprendizado conjunto para quem participa. “As mães têm muito a ensinar umas para as outras. Às vezes, o tema é gravidez na adolescência. Aí, mães da Maré, do Vidigal, da Rocinha trocam informações sobre o que é ser mãe de uma grávida de 13 ou 14 anos”.
Segundo ela, o Aconchego Família é um dos programas mais procurados da organização e muito popular entre as mães. “Com essa covid-19, a gente conseguiu manter isso através da internet. Elas falam por ‘zoom’, por celular. Elas conseguem fazer um grupo no qual continuam trocando informações cruciais entre si sobre a vida”.
Entre os assuntos mais abordados nos atendimentos estão cuidados para evitar o contágio pelo novo coronavírus, desenvolvimento infantil, saúde, alimentação alternativa, higiene, relacionamentos familiares, violência, acidentes domésticos, entre outros. O objetivo dos encontros é confortar, acolher e aproximar
Campanha
Em paralelo, diante da pandemia do novo coronavírus e com a perda de antigos patrocinadores, entre os quais companhias aéreas, a ONG lançou a campanha #UmaMãoLavaAOutra, para arrecadar fundos e manter o atendimento às famílias assistidas pelo projeto Aconchego Família. As doações podem ser feitas no site da organização.
No período de 25 de março a 7 deste mês, a organização arrecadou mais de R$ 800 mil, o que permitiu recarregar o cartão-alimentação de 267 famílias atendidas. “São famílias vulneráveis e com filhos doentes, abaixo da linha da pobreza. Mais drama impossível”, disse Vera.
A campanha #UmaMãoLavaAOutra continua e a prestação de contas é feita a cada 15 dias. A assistência oferecida é multidisciplinar, com doação de remédios, apoio psicológico e jurídico, doação de cestas básicas e de materiais de limpeza e de higiene.
“Como a pobreza é multidimensional, a gente age de forma multidisciplinar, para não fazer maquiagem na pobreza mas, sim, para realmente dar autonomia e autossustento às famílias”, conta Vera.
Replicação
Ana Carolina, moradora no município de Quatis, situado na microrregião do Vale do Paraíba Fluminense, perdeu a filha Valentina, de 3 anos e sete meses, no ano passado, e à época encontrou conforto no programa.
Agora, com a pandemia e o isolamento social, resolveu compartilhar o carinho e conforto que recebeu no Aconchego Família com outras mães de sua comunidade, promovendo encontros online. “Depois que o Saúde Criança passou pela minha vida, eu entendi a importância de escutar e ter um olhar enfático para outras mães. Isso seria muito necessário onde eu vivo. Então, resolvi criar uma rede chamada Aplan, que atende mães e famílias de pessoas com deficiência. Eu vi a importância desse aconchego aqui no meu município”, contou Ana à Agência Brasil.
Na última roda de conversa online que organizou, cerca de 11 mães participaram, algumas inclusive de outros municípios vizinhos. “A gente tem, por exemplo, cadeira de rodas para emprestar, muleta, andador; a gente consegue cesta básica. É um projeto que acabou sendo ampliado”. Ana pretende dar continuidade ao projeto e está em busca de novas parcerias. “Ainda é um projeto super pequeno. Acabei de tirar ele do papel. Escrevi ele com um olhar muito enfático para as outras mães, porque eu também passei por esse problema”.
Fez questão de frisar que tudo que pensou foi inspirado no Saúde Criança. “Porque é um apoio emocional que o Saúde Criança dá para a gente. Diante de tudo que eles já ajudam a gente, o apoio emocional vale muita coisa. Eu ficava na ansiedade de chegar na quarta-feira para conversar com os psicólogos, aprender com as outras mães porque, muitas vezes, a gente só quer falar, só quer um abraço. E o Saúde Criança é muito acolhedor”.