Com novos parceiros e patrocinadores e curadoria técnica da organização não governamental (ONG) internacional WWF-Brasil, o Projeto Ilhas do Rio inicia hoje (9) nova fase de pesquisas. Criado em 2010 pela ONG Instituto Mar Adentro, o projeto dá sequência ao levantamento da biodiversidade do Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MoNa Cagarras), com patrocínio da Associação IEP (AIEP) e da empresa de investimentos JGP.
As novidades serão apresentadas na tarde desta quinta-feira), com transmissão ao vivo, a partir das 17h, nos canais oficiais do projeto no Facebook e no YouTube e também nos canais dos parceiros institucionais.
O presidente do Conselho Diretor do Instituto Mar Adentro e coordenador do Projeto Ilhas do Rio, Clerio Aguiar, disse à Agência Brasil que a nova fase englobará pesquisas sobre tartarugas marinhas e mastofauna terrestre, esta visando ao controle das espécies invasoras do local, como morcegos, roedores e coelhos.
Além disso, terão continuidade trabalhos como o acompanhamento de cetáceos (baleias e golfinhos) e a pesquisa para retirada do capim-colonião invasor e recuperação da flora nativa, que vem sendo feita em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e o monitoramento dos peixes recifais, muito importante para avaliar o impacto da poluição na região.
Educação
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apoia o projeto na questão do turismo sustentável, mostrando como promover sua organização e monitoramento.
Serão retomadas também as ações de educação ambiental infantil, por meio de peças teatrais nas escolas da rede municipal de ensino, com foco especial na temática da poluição marinha. “A gente entende que é um público que não tem muito acesso a orientações sobre a questão da poluição marinha, do lixo plástico. Então, a gente trabalha de forma lúdica com as crianças, pelo teatro”, disse Clerio.
As unidades de conservação do país estavam fechadas desde o início da pandemia do novo coronavírus e, neste mês, com os decretos municipais, a visita às Ilhas Cagarras, situadas a 5 quilômetros da praia de Ipanema, zona sul do Rio, foi liberada e os pesquisadores poderão retomar seus trabalhos.
Clerio Aguiar estimou que, a partir de agosto ou setembro, as pesquisas deverão ser retomadas nas Ilhas Cagarras, principalmente. Ele disse que, como se trata de uma área de proteção integral, tanto visitas quanto o desembarque dos próprios pesquisadores do projeto exigem autorização prévia do ICMBio, que é parceiro do Ilhas do Rio desde sua criação. Os visitantes terão que respeitar as regras estabelecidas pelo município para evitar contágio pela covid-19, como o distanciamento de 2 metros entre as pessoas.
O Projeto Ilhas do Rio tornou-se muito sólido ao longo desses dez anos “e nos orgulha muito”, acrescentou Aguiar.
Novas pesquisas
O estudo da mastofauna será coordenado pela pesquisadora Julia Lins. O objetivo é identificar os mamíferos terrestres presentes nas ilhas. “Até o momento, foram registradas espécies das ordens Chiroptera (morcegos), Rodentia (roedores) e Lagomorpha (coelhos). Porém, os dados ainda são muito imprecisos, daí a necessidade de aprofundar os estudos, incluindo espécies nativas e exóticas”, disse Julia.
O estudo das tartarugas marinhas terá coordenação da pesquisadora Suzana Guimarães, que, desde 2008, com o Projeto Aruanã, vem fazendo o levantamento da ocorrência desses animais na Baía de Guanabara e adjacências, além de monitorar alguns indivíduos residentes na região de Niterói.
Segundo o Projeto Ilhas do Rio, a espécie mais comum que pode ser observada no MoNa Cagarras é a tartaruga-verde. “Existem sete espécies de tartarugas marinhas no mundo, sendo que cinco ocorrem no Brasil, entre elas, a tartaruga-verde. Todas estão incluídas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para Conservação da Natureza e do ICMBio.O levantamento de sua ocorrência e o monitoramento a longo prazo trarão informações importantes para a unidade de conservação e ajudarão a despertar interesse e conscientização da sociedade em prol da região”, afirmou Suzana.
Apoiadores
O sócio-diretor da Associação IEP, um dos patrocinadores do projeto, Philippe Prufer, garantiu que a continuidade do Projeto Ilhas do Rio é prioridade. “O Mona Cagarras é um símbolo da cidade do Rio de Janeiro. Com o patrocínio, queremos que o projeto prossiga com suas atividades para que a grande biodiversidade do MoNa Cagarras seja conservada e que mais e novas pesquisas científicas sejam realizadas na região, ajudando, principalmente, na conscientização dos problemas causados pelo lixo e esgoto que afetam as praias do Rio.”
Guilherme Bragança, um dos sócios da JGP, empresa patrocinadora, destacou que o Projeto Ilhas do Rio tem três pontos fundamentais que vão ao encontro dos valores da empresa, uma das pioneiras no Brasil na adoção de critérios que aliam meio ambiente, área social e governança (ESG, do inglês environmental, social and governance). Bragança disse que, além da seriedade e profissionalismo dos pesquisadores, chamou a atenção da empresa a importância científica dos estudos que vêm sendo realizados e as ações de educação ambiental voltadas para o público infantil, “que constitui a base para a conscientização ecológica de uma sociedade”.
A gerente do WWF-Brasil para Marinho e Mata Atlântica, Anna Carolina Lobo, ressaltou o compromisso da ONG de apoiar a saúde e a sustentabilidade do oceano, promovendo a conservação da biodiversidade costeira e marinha no Rio de Janeiro, com base na ciência e na ampliação de parcerias com a sociedade civil.
O Projeto
Há dez anos, o Projeto Ilhas do Rio iniciou suas atividades no MoNa Cagarras, unidade de conservação situada no Rio de Janeiro. Na época, pouco se conhecia sobre a biodiversidade da região, formada pelas ilhas Cagarra, Filhote da Cagarra, Palmas, Comprida, Redonda e Filhote da Redonda, totalizando área de 91,20 hectares. Hoje, através do trabalho desenvolvido pelo projeto, mais de 600 espécies de animais e plantas foram registradas, entre as quais, algumas raras, endêmicas e também inéditas para a ciência.
De acordo com o Instituto Mar Adentro, houve descobertas curiosas ao longo desse período, como uma espécie de perereca que só existe no MoNa Cagarras; e uma espécie de árvore, a Gymnanthes nervosa, que não era encontrada no município desde 1940. Também foram catalogadas esponjas do mar com propriedades medicinais, como a Petromica citrina (ou esponja-dourada), e outras ameaçadas, como a esponja-carioca Latrunculia janeirensis, uma das espécies marinhas que constam na categoria vulnerável do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio (2018).
Além disso, pesquisadores encontraram um sítio arqueológico tupi-guarani na Ilha Redonda, onde também foram contabilizadas mais de 5 mil fragatas, tornando oficialmente o MoNa Cagarras um dos maiores ninhais da espécie do Atlântico do Sul.