Nove em cada dez animais vítimas do tráfico morrem antes de chegar às mãos do comprador. O dado da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) mostra a crueldade deste tipo de crime. O tráfico de animais é tema do programa Caminhos da Reportagem, que vai ao ar neste domingo (14), às 20h, na TV Brasil.
“O traficante ganha na quantidade de animais, então, ele captura muitos. Coloca, às vezes, seis, sete passarinhos numa caixinha. E ele não dá água, não dá comida pro animal. O animal morre pisoteado e ele não se importa porque joga fora e pega outros”, explica a coordenadora de Gestão, Destinação e Manejo da Biodiversidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Raquel Sabaini.
Riqueza ambiental
O comércio ilegal pode atingir mais de 38 milhões de animais todos os anos, segundo informações da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas). Mas as dimensões exatas do crime são difíceis de serem estimadas porque falta no país uma maior estrutura de investigação e combate, afirma uma das autoras do relatório da organização Traffic, que mapeia o tráfico de animais no Brasil. O documento aponta que 80% dos animais vítimas do tráfico são aves.
Por sua grande riqueza ambiental, o país sempre foi atrativo para os traficantes e, nos últimos anos, também passou a importar animais ilegalmente para alimentar a sanha dos colecionadores.
Caso naja
Um exemplo dessa tendência é o caso da cobra naja que picou um estudante de medicina veterinária em Brasília em julho do ano passado. A Polícia Civil do Distrito Federal descobriu que ele criava dezoito serpentes em casa sem autorização dos órgãos ambientais. O universitário responde, em liberdade, a um processo por tráfico. “Inclusive as investigações também demonstraram que ele fazia a reprodução dos animais para vender os filhotes”, diz o delegado do caso, Ricardo Bispo.
Os envolvidos faziam negociações pela internet, para onde está migrando o tráfico de animais. Em São Paulo, a Polícia Federal, em conjunto com outros órgãos, conseguiu prender uma quadrilha que anunciava várias espécies abertamente nas redes sociais. O traficante conhecido como Zé do Bode já havia sido preso várias vezes. Segundo o delegado Sebastião Pujol, ele vendia macacos usando notas falsas de um comerciante legalizado do Sul do país.
Penalidades
Fazer com que os responsáveis paguem pelo crime ainda é um desafio. Especialistas ouvidos pelo programa afirmam que a penalidade é baixa – de um a seis anos de prisão – e, geralmente, os juízes optam por aplicar penas alternativas. As multas quase nunca são pagas, de acordo com o coordenador-geral da Renctas, Dener Giovanini.
Perigo à saúde
O comércio ilegal gera impactos negativos tanto para o meio ambiente como para a saúde da população, uma vez que os animais silvestres podem ser transmissores de vírus aos humanos. A veterinária Sandra Charity lembra que a pandemia de covid-19 provavelmente começou pelo contato com morcegos ou pangolins na China.
Quando são resgatados, os animais vão para centros de reabilitação do Ibama ou de parceiros, como o Instituto Vida Livre, no Rio de Janeiro, que adota o lema “quem ama liberta”. Segundo o presidente da ONG, Roched Seba, o processo é demorado e, infelizmente, nem todos os bichos conseguem voltar à natureza.
A íntegra do Caminhos da Reportagem fica disponível no site do programa.