Com apoio político em suas regiões, policiais já pressionam 12 Estados por reajuste salarial

Policiais protestam em Sobral

Política se faz com ocupação de espaços de poder. Neste sentido, a segurança pública nunca esteve tão forte nos Estados. O apoio vem desde a Presidência da República, passando pelo Congresso Nacional e pelas Câmaras municipais. Assim, forças de segurança em ao menos 12 Estados pressionam os governos locais por aumentos salariais. Em cinco deles, policiais já realizaram atos ou paralisações neste mês.

A situação é mais grave no Ceará, onde o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado na quarta-feira, 19, ao tentar passar por cima de uma multidão, a maioria familiares de policiais militares, e entrar com um trator em um quartel da Polícia Militar daquele Estado.

Senador tenta passar por cima da multidão é parado com um tiro

Deputados ligados à bancada da bala e ao bolsonarismo apoiam movimentos no Ceará, Espírito Santo e Paraíba, garantindo respaldo político às demandas dos policiais. 

Segundo o Jornal O Estado de São Paulo, em um Levantamento realizado, com base em redes sociais e informações de entidades de classe, em sete Estados policiais civis e militares travam embates públicos com o governo em busca de melhor remuneração, embora não tenham feito atos ou paralisações. 

No Ceará, os protestos de policiais militares começaram com uma série de manifestações por melhor remuneração em dezembro, culminando com a “greve” na última semana. A Associação das Praças do Estado do Ceará (Asprace), entidade que representa cabos e soldados e vinha negociando com o governo, publicou uma nota em seu site informando que, diante de uma decisão judicial contrária à greve, não estava “promovendo atos grevistas”. 

Conforme matéria do Jornal o Estado de São Paulo, os PMs tiveram apoio de políticos locais para ocupar o 3º Quartel da PM. Um dos grandes apoiadores do movimento em Sobral é o vereador Sargento Ailton (SD) que ficou dentro do quartel do início da manhã até o horário do tiroteio, publicando entrevistas em sua página, destacando a paralisação das viaturas e negando a ilegalidade da ação.

Em Fortaleza, os deputados federais Capitão Wagner (Pros-CE), Major Fabiana (PSL-RJ) e Capitão Alberto Neto (Republicanos- AM) registraram boletim de ocorrência contra Cid por tentativa de homicídio. Segundo eles, o senador colocou em risco a vida dos aquartelados ao avançar com o trator. 

Segundo o deputado Capitão Wagner (PROS-CE), associações de classe no Ceará chegaram a entrar em um acordo com o governo e levaram a proposta para a categoria. Líderes das associações e políticos ligados à categoria dos policiais teriam participado das tratativas. 

“Tentaram de qualquer forma fazer com que os militares assinassem um acordo. Havia um medo muito grande dos presidentes das associações de que ocorresse esse movimento (greve), mas os militares não aceitaram”, afirmou Capitão Wagner, que afirmou ter participado das reuniões.

“Todo mundo tentou segurar, mas os ‘militares’ de forma espontânea, sem liderança política e de associação, resolveram tomar o quartel.” 

Ânimos acirrados

evento em Sobral motivou uma videoconferência entre líderes de associações policiais, na mesma noite em que o senador Cid Gomes foi baleado. Presidente da Associação Nacional de Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares (Anermb), o sargento Leonel Lucas se diz preocupado com o acirramento de ânimos nos quartéis.

“Isso causa um frisson na tropa”, afirma. “Os caras ficam revoltados: ‘Olha, temos de fazer a mesma coisa lá do Ceará’.” 

Segundo integrantes de governos que estão negociando reajustes, algumas entidades têm usado o caso de Minas Gerais, que concedeu aumento de 41% às forças policiais. As associações dizem que “se Minas que está quebrada pode dar 41% porque aqui não pode?”. 

Foi o caso no Amazonas, onde a Associação dos Praças compartilhou, nesta quinta-feira, 20, notícia sobre o aumento salarial dos policiais mineiros. “Após diversos protestos, nossos colegas de Minas Gerais conseguiriam os justíssimos reajustes em sua folha salarial”, diz a publicação.

No Espírito Santo e na Paraíba, as entidades têm recusado propostas superiores às oferecidas ao restante do funcionalismo. Os governadores temem que as mobilizações das polícias possam contaminar os demais sindicatos de servidores e gerar uma onda de greves. Nos dois Estados, políticos da bancada da bala também são acusados de inflar os protestos. Outros Estados que tiveram atos são Piauí Sergipe

Protestos

O Espírito Santo já tem histórico de paralisação de policiais – em 2017, PMs se aquarteleram e o governo federal enviou mais de 1,8 mil homens para reforçar a segurança do Estado. Na semana passada, uma manifestação de agentes civis, militares e bombeiros reuniu cerca de 1,5 mil pessoas em Vitória. a Polícia Militar recusou uma proposta do governo de aumentos salariais que somariam 35% em quatro anos de mandato do governador Renato Casagrande (PSB). A proposta representa 4% a mais por ano aos policiais do que o reajuste do restante do funcionalismo. 

“Estamos tentando fazer com que as entidades entendam que não podem ser usadas como massa de manobra”, disse o secretário estadual de Governo, Tyago Hoffmann. “Tem deputados que tentam obter ganhos políticos com isso”, completou o secretário. 

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública capixaba diz que mantém diálogo constante com as categorias e que haveria “um grande esforço para que seja mantido”. 

Uma tabela com salários de praças, divulgada pela Anermb, mostra o Espírito Santo com a pior remuneração no País. A última atualização é de setembro. Muitos dos locais onde há pressão das forças das segurança por reajuste estão entre aqueles com as piores remunerações. No ranking, a Paraíba ocupa o 22º lugar, enquanto o Ceará está na 21ª posição. 

Paraíba

Na quarta, 19, PMs e civis da Paraíba fizeram uma paralisação de 12 horas. Homens mascarados circulavam entre os grevistas ameaçando quem queria trabalhar e furando pneus de viaturas. A principal reivindicação é a concessão de 100% da bolsa por atividade (concedida apenas aos policiais da ativa) aos inativos. Em meio à campanha salarial, atos têm reunido dezenas de manifestantes em João Pessoa

Os protestos são convocados por redes sociais. “Saia do WhatsApp, saia da sua comodidade, junte-se a nós”, diz o coronel da PM Marcos Alexandre Sobreira, em um vídeo divulgado nas redes sociais pela Associação de Cabos e Soldados local. 

A Secretaria de Segurança Pública da Paraíba diz que se articulada com a equipe econômica do governo para manter o diálogo com as categorias, “mesmo a possibilidade de greve e paralisação já ter sido considerada ilegal pela Justiça paraibana”. 

Piauí, Pernambuco e Alagoas

No Piauí, um protesto reuniu cerca de cem servidores da área de segurança pública em frente à sede do governo estadual há três dias. Em resposta, o governador Wellington Dias (PT) aumentou o pagamento de operações especiais de R$ 100 para R$ 150 em dias de semana, e R$ 200 nos finais de semana. “O porcentual de ajuste será acima da inflação”, disse o governo, em nota. 

Em Sergipe, a Polícia Civil parou por 24 horas na última quarta. Segundo o governo, há uma negociação que “não está sendo feita com os líderes das entidades de classe”, e sim com gestores da PM e da Polícia Civil. 

Em Pernambuco e em Alagoas, policiais civis travam embate com o governo e ameaçaram greve durante o carnaval. Já entre os militares, há demandas em Santa CatarinaMato Grosso do SulRondônia Tocantins. Neste último, a Associação dos Praças chegou a convocar assembleia para discutir realização de carreatas e contratação de outdoors, semelhante ao que ocorreu em Brasília há alguns anos.

Material utilizado no DF em 2013 durante a Operação denominada: “Operação Tartaruga”.

Da Redação do Policiamento Inteligente com informações do Jornal O Estado de São Paulo/Estadão.