Sem saídas, o caminho é se reinventar. Foi o que aconteceu com a depiladora Layane Maria da Conceição, 36 anos, e a designer de unhas Edna Carvalho Silva, 47. As duas traçaram rotas inéditas para as próprias vidas por meio da qualificação profissional oferecida no Empreende Mais Mulher, iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF), e conseguiram alcançar sonhos até então impossíveis, desafiando a sociedade e sendo fiéis a elas mesmas.
“Para vencermos, precisamos abraçar a primeira oportunidade. Não é fácil começar um negócio ou novo trabalho, e nem trocar tudo de uma hora para outra. Mas com muita fé e perseverança tudo é possível. É melhor sofrer por não conseguir do que por não ter tentado”, avalia Layane, piauiense que chegou ao DF em 2000 e, atualmente, mora em Ceilândia.
Em 2020, ela perdeu o emprego na área de serviços sociais e iniciou a procura por uma nova ocupação. Além de lidarem com remunerações mais baixas do que a dos homens, as mulheres demoram dois meses a mais do que eles para conseguirem se realocar profissionalmente. Os dados são do boletim Mulheres e Trabalho Remunerado no Distrito Federal, produzido pelo Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Layane enfrentou inúmeras respostas negativas do mercado de trabalho na área de atuação antes de partir para caminhos desconhecidos. Foi quando, em 2023, soube do curso de depilação na unidade do Empreende Mais Mulher em Ceilândia, na Casa da Mulher Brasileira. “Cheguei totalmente desacreditada. Era uma área em que eu nunca imaginei atuar”, lembra.
Um ano depois da conclusão do curso, ela mantém o próprio espaço de atendimento em casa. A comodidade permite que a piauiense esteja mais próxima dos três filhos e da neta. “Em toda minha vida deixei meus filhos para ir trabalhar, não vi eles crescerem. Hoje eu posso acompanhar o crescimento da minha neta e ainda tirar meu sustento.”
Apesar das conquistas, Layane ainda enfrenta questionamentos recorrentes sobre as decisões pessoais e profissionais. “Já escutei frases como ‘e isso vai dar certo?’ e ‘porque não volta para a CLT?’”, desabafa a depiladora. “Eu vivi a vida toda do jeito que a sociedade me impunha. Hoje eu sei quem a Layane é: uma mulher preta, trabalhadora, lésbica, militante e que tem um coração incrível”, relata.
Recomeço
O encontro de Edna de Carvalho Silva com o Empreende Mais Mulher ocorreu em 2023. À época, ela estava desempregada e, mesmo sem nunca ter trabalhado no ramo da beleza, topou iniciar a capacitação de designer de unhas. “Trabalhei em padaria, posto de gasolina, fui secretária. O curso foi totalmente diferente do que estava acostumada a fazer”, conta.
Edna estava sem ocupação desde 2021, quando foi mãe do quarto filho. No mesmo ano, também perdeu a mãe para o novo coronavírus. “Estava com 45 anos e engravidei de novo depois de nove anos do último filho, além de ter perdido minha maior rede de apoio. Me fechei em mim mesma e coloquei a Edna em uma caixinha. Começar o curso fez com que eu despertasse para a vida novamente. Consegui voltar para o mundo”, afirma.
Atualmente, Edna atende clientes em casa e trabalha, nas horas vagas, como entregadora por aplicativo. A flexibilidade de horários permite que ela organize a rotina com os quatro filhos – de 23, 19, 9 e 3 anos – com maior facilidade e separe momentos para estudar e se atualizar sobre tendências da área.
“Quando eu era gerente, em que escolhia as pessoas, se vinha alguém com mais de 40 anos já pensava ‘ih, não vai se adaptar’. Aí me vi nesse lugar e percebi que estava errada – damos conta sim”, comenta Edna. “Eu meti as caras e comecei a desenvolver o meu trabalho. Foi muito difícil no começo, todo mundo desacredita da nossa capacidade, né? Acharam que eu era doida, mas me encontrei”, diz.
Empoderamento
Edna e Layane planejam grandes feitos para seus negócios. A meta da depiladora é expandir o espaço de atendimento e aumentar a presença para o território nacional e internacional. “Eu não quero, eu serei uma das melhores empreendedoras da área da beleza, isso é um fato, uma meta do meu coração e trabalho todos os dias para isso”, almeja.
Por sua vez, a designer de unhas sonha com novos equipamentos e utensílios, pensados com carinho para a experiência das clientes. “Imagino que será tudo bem delicado e aconchegante, que fará as pessoas se sentirem bem, com paz. Quando vamos a um salão não queremos só nos embelezar, mas sim relaxar e ter alguém nos tratando bem”, exemplifica Edna.
Promoção de conhecimento
O GDF oferece um leque variado de qualificações profissionais direcionadas ao público feminino. Apenas em 2023, 12.987 mulheres participaram dos programas oferecidos pela Secretaria da Mulher (CMDF). O mais procurado foi o Empreende Mais Mulher, localizado na agência do trabalhador do Taguatinga e na Casa da Mulher Brasileira em Ceilândia. Os dois espaços atenderam mais de 4,8 mil mulheres no último ano, com capacitações, oficinas e serviços públicos.
Além disso, as mulheres são maioria nos programas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Renda (Sedet-DF). Desde janeiro de 2023, o RenovaDF formou 6.620 mulheres, equivalente a 69% do total de concluintes. O QualificaDF chegou a 24 mil formandos, sendo 65% mulheres em 2023, enquanto a modalidade móvel do programa alcançou 9.600 qualificados, sendo 75% do gênero feminino. Os saldos se repetem na Fábrica Social, em que a participação delas é superior à 95%, e nos programas Jornada da Mulher Trabalhadora, Mulheres Vencedoras, Tudo por Elas, Mulheres Empreendedoras e Capacita Mulher. Juntos, formaram 6.800 mulheres.
Fonte: Agência Brasília