A chefe da Ouvidoria da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Maria do Socorro Ferreira da Silva, conquistou a medalha de bronze na categoria Women’s Physique do 49º Campeonato Sul-americano de Fisiculturismo e Fitness IFBB, ocorrido em Assunção, no Paraguai, na semana passada. Além de subir ao pódio, o bom desempenho também rendeu a ela uma vaga para o Campeonato Mundial de Santa Susanna, na Espanha, em novembro.
Aos 66 anos, a medalhista de bronze competiu com mulheres de diferentes faixas etárias, uma vez que a disputa não separa as participantes por idade. Para Socorrinho, como é conhecida na Novacap, saber que estaria enfrentando adversárias fortes e, em sua maioria, mais jovens, chegou a assustar um pouco na hora de subir ao palco e quase afastou a expectativa de uma medalha.
“Eu tinha consciência de que estava bem. Todos me falavam que a coreografia estava boa, que o encaixe estava legal. Me falaram que nunca estive tão bem em todos esses anos competindo, mas eu não acreditava. Sempre pensei que diziam só para me agradar. Eu tive muito medo subindo aquele palco. A primeira competição fora do meu país e já enfrentar mulheres que são verdadeiras gigantes, gente que já compete há muito tempo, que já foi para Mundial, já teve várias classificações no Sul-americano… Realmente, é uma experiência única”, contou.
O bronze internacional não foi a única realização inédita da atleta. Foi a primeira vez na vida que a ouvidora teve a oportunidade de viajar para fora do Brasil. “Eu até brinco que o único passaporte que eu tinha era para Samambaia, para andar no metrô. Eu nunca imaginei que um dia sairia do meu país, que eu amo de paixão, para competir. Eu nunca quis sair daqui, nunca tive vontade, mas sair para competir foi uma experiência única. Quando eu saí do palco e os atletas estavam cantando a música com a qual eu fiz a coreografia, muita gente chorou. Eu fiquei sem acreditar, fiquei emocionada e, ao mesmo tempo, muito grata a Deus por estar vivendo aquela experiência”.
Em busca de patrocínio para participar da competição, ela ainda vê a possibilidade como um sonho distante. “O custo financeiro é muito alto. A passagem é mais de R$ 6 mil, assim como a inscrição, além dos custos com a competição. Por baixo, seriam entre R$ 15 mil e R$ 20 mil ー isso porque eu poderia ficar no hotel de atleta que eles disponibilizam. E aí, realmente pesa para este ano e o sonho deve ficar adiado”, diz Socorrinho, mas sem perder a esperança.
Ela se classificou para o Sul-americano após participação no Campeonato Brasileiro de Fisiculturismo, em julho, no Pará, no qual conquistou três troféus — terceiro lugar na categoria Women’s Physique Master até 1,62 m, terceiro lugar na categoria Women’s Physique Sênior e segundo lugar na Dupla Mix Pairs. As conquistas recentes incluem, ainda, dois troféus no Campeonato Brasiliense, em junho, quando ascendeu ao segundo lugar na categoria Women’s Physique e primeiro na categoria Fit Pairs.
Forte para vencer todas as dores
Empregada da Novacap há 48 anos, Socorrinho começou no fisiculturismo aos 50 anos. A perda do filho, em 2008, abalou as estruturas da vida dela e foi no esporte que encontrou as forças necessárias para seguir em frente. “Comecei a competir logo em 2009 e me dei superbem. Todas as minhas classificações foram excelentes, só não peguei muitos primeiros lugares por conta da idade. Competia com meninas de 18, 20 anos e eu com 50”.
Além da partida do filho, ela teve de lidar com uma série de perdas consecutivas e continuar buscando forças. “Perdi ele, depois minha mãe, dois irmãos, em seguida um companheiro com quem eu morava junto há quatro anos. Isso fora dois pets, que são família também. Eu acho que, na mesma proporção em que eu ia tendo essas perdas, eu fui acrescentando ao meu foco, a disciplina, a vontade de vencer todas essas dores”.
Socorrinho precisa conciliar a rotina no trabalho com a disciplina nos treinos e no planejamento alimentar. Além disso, ainda divide tempo para cuidar do irmão mais velho, de 70 anos, que tem Alzheimer e Parkinson. As dificuldades enfrentadas não são impeditivos para a ouvidora, que encontra satisfação em continuar seguindo e sendo útil àqueles que ama e que pode ajudar. “Amo cuidar dele também e faço com paixão, não tem problema nenhum. Tem outras pessoas da família que poderiam ajudar, mas faço com carinho. E não quero nunca deixar de cuidar dele”, diz.
Fonte: Agência Brasília