Walter Delgatti Neto, que ficou conhecido como o hacker da “Vaza Jato”, foi ouvido nesta quinta-feira (14) pela CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF. O depoimento foi prestado por videoconferência da penitenciária onde ele está detido, em Araraquara – SP. Confirmando o que havia declarado à Polícia Federal e à CPMI do Congresso Nacional, ele contou sobre sua aproximação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e com a alta cúpula das forças armadas.

Segundo Delgatti, Zambelli teria se aproximado dele para que ele invadisse o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserisse informações falsas no sistema. Ele chegou a expedir um falso mandado de prisão ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.

O hacker contou ainda detalhes de sua reunião com Bolsonaro em um café da manhã no Palácio do Planalto em 2022. Além de Zambelli e do ex-presidente, teria participado da reunião o tenente-coronel Mauro Cid.  

Delgatti afirmou que foi chamado porque o ex-presidente queria que ele “comprovasse” a falta de lisura do sistema eleitoral brasileiro. O plano era que ele invadisse uma urna eletrônica, o que comprovaria que o resultado das eleições poderia ser adulterado. O hacker, porém, afirmou que, como o código-fonte das urnas fica em uma sala no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem conexão à internet, não foi possível executar o planejado. “É impossível realizar um ataque externo”, declarou.

 

 

Ele disse ainda que chegaram a planejar disponibilizar uma urna para que ele pudesse invadir seu sistema, em uma exibição que ocorreria no dia 07 de setembro de 2022, mas a urna não chegou a ser colocada à sua disposição. Delgatti contou ainda foi procurado pelo ex-presidente por conta de sua atuação no que ficou conhecido como “Vaza Jato”, episódio em que ele invadiu celulares das autoridades da Lava Jato. “Bolsonaro elogiou minha atuação na lava jato, disse que eu tinha uma missão de dar liberdade ao povo, que iam [a esquerda] implantar o comunismo e que a china iria ter território no brasil caso ele perdesse”, declarou.

 

 

Ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), o depoente afirmou que acredita haver um vínculo entre as movimentações para descreditar as urnas eletrônicas e os ataques do dia 08 de janeiro, e que enxerga uma nítida participação do ex-presidente neste processo. “A ideia era o caos. Desde antes, a ideia dele [Bolsonaro] caso não ganhasse, era causar um caos a ponto de ser refeita a eleição ou então de continuar no poder sem ser por meio democrático, acredito”, afirmou o hacker.

 

“Zambelli pediu para eu atacar o sistema do TSE para acabar com o 2º turno”, disse o hacker

 

Durante o depoimento, em resposta ao deputado Gabriel Magno (PT), Delgatti afirmou que, durante as apurações do segundo turno das eleições de 2022, a deputada Zambelli entrou em contato com ele pedindo para que ele atacasse o sistema do TSE para derrubar a apuração. “No segundo turno, a Carla Zambelli me ligou e perguntou se eu conseguiria fazer um ataque DDoS que derrubasse o sistema que enviava os votos naquele dia. Eu disse que, em cima da hora, eu não tinha ferramentas para executar”, afirmou.

Ataque DDoS é uma invasão hacker com o objetivo de exceder a capacidade que o site tem de lidar com diversas solicitações, impedindo seu funcionamento correto.

Contato com a alta cúpula das forças armadas

 

Delgatti Neto contou que manteve contato com membros da alta cúpula das forças armadas por meio de conversas e encontros presenciais que ocorriam no Ministério da Defesa. Ele citou os nomes de Marcelo Jesus, Coronel do Exército e com que teria contatos frequentes e Freire Gomes, com quem não chegou conversar diretamente. Segundo o hacker, os militares pediam frequentemente para que ele verificasse os relatórios apresentados pelo TSE, para avaliar se haviam sido adulterados. 
Ao todo, teriam sido cinco reuniões no Ministério da Defesa e ele utilizava seus conhecimentos como hacker para realizar testes e instruir os técnicos sobre como poderiam lidar caso houvesse a tentativa de inserir códigos maliciosos no sistema.

 

Quem é Delgatti, o hacker de Araraquara

 

O Hacker ficou conhecido nacionalmente em 2019, quando o portal The Intercept Brasil divulgou conversas entre autoridades da Operação Lava Jato com o então juiz Sérgio Moro. As conversas, obtidas após o hacker invadir os celulares das autoridades, expunham possível parcialidade do ex-juiz com relação ao julgamento dos réus.

Nas mensagens, Moro teria instruído membros do Ministério Público Federal (MPF) sobre como conduzir a operação. O episódio ficou conhecido depois como “Vaza Jato”, em alusão ao nome da operação do MPF e Delgatti foi condenado a vinte anos de prisão, em decorrência das investigações no âmbito da Operação Spoofing, deflagrada pela Polícia Federal.

 

Ele chegou a ser solto em 2020, ficando em liberdade condicional com uso de tornozeleira eletrônica, mas, em junho de 2023, foi preso novamente por violar a determinação judicial que o impedia de acessar a internet. No mês seguinte ele foi colocado em liberdade novamente por decisão da 10ª Vara Federal Brasília. No início de agosto, o hacker de Araraquara tornou a ser preso, agora, pela operação da PF que investiga seu plano para invadir sistemas do Judiciário.

No período em que esteve solto, Delgatti afirma ter se aproximado de políticos de direita, inclusive do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da deputada federal Carla Zambelli. Em depoimentos à Polícia Federal, o Hacker afirmou que recebeu R$ 40 mil de Zambelli para hackear o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A deputada nega as acusações.

Fonte: Agência CLDF