Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal nesta quinta-feira (17), o diretor do departamento de combate à corrupção e ao crime organizado da Polícia Civil, Leonardo de Castro Cardoso, revelou que os golpistas presos pela corporação no dia 8 de janeiro foram autuados pelo crime de tentativa de golpe de estado. A declaração do policial contradiz a narrativa defendida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro de que os manifestantes apenas faziam um protesto pacífico.
“Foram 206 presos pela Polícia Civil. A grande maioria foi autuada pelo crime do artigo 359M do código penal, que tipifica o crime de tentativa de golpe de estado”, afirmou o diretor aos deputados integrantes da CPI. Questionado pelo presidente da comissão, deputado Chico Vigilante (PT), se as pessoas presas se resumiam a senhoras de idade que estariam apenas rezando durante a invasão dos palácios da República, o diretor da Polícia Civil foi claro.
“Avaliamos a conduta daquelas pessoas e de acordo com os depoimentos dos policiais militares, os interrogatórios, as imagens veiculadas e o contexto, nossa convicção foi de que essas pessoas tiveram participação no crime de tentativa de golpe de estado e por isso foram autuadas. Havia jovens, idosos, pessoas de baixa renda, de alta renda, de vários estados. Mas nós avaliamos os fatos, e não as pessoas”, explicou Leonardo de Castro.
O diretor da Polícia Civil também deu detalhes dos depoimentos colhidos no dia da prisão dos golpistas. “Alguns declararam o motivo de estarem ali. Diziam que não aceitavam o resultado das urnas, queriam impedir o comunismo no país, queriam intervenção militar. Eles usavam palavras de baixo calão para se referir ao novo governo”, afirmou. Leonardo de Castro também contou que as investigações revelaram que mais da metade dos presos teriam passado pelo acampamento em frente ao QG do Exército.
O depoimento do diretor da Polícia Civil também lançou luz sobre tentativas de atos terroristas na capital federal para desestabilizar o governo recém eleito e provocar uma intervenção militar. “Recebemos denúncia anônima sobre um plano de colocação de explosivos em subestações de energia de Taguatinga para causar interrupção do fornecimento de energia em Brasília e provocar o caos”, contou. Segundo Leonardo de Castro, bolsonaristas também teriam planejado explodir um viaduto que dá acesso à Rodoviária do Plano Piloto.
Em relação à tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília na véspera de natal, o diretor da Polícia Civil comentou sobre a fuga de Wellington Macedo, ex-assessor da senadora Damares Alves (PR-DF) quando ela ocupava o posto de ministra da mulher, família e direitos humanos. “Wellington Macedo continua foragido. Ele retirou a tornozeleira eletrônica e se deslocou para o Mato Grosso do Sul, mas neste momento não está mais no país segundo informações que temos. Também sabemos que Wellington Macedo frequentava o acampamento em frente ao QG”, disse Leonardo de Castro à CPI.
Questionado pelo relator substituto da comissão, deputado Iolando (MDB), sobre a individualização das condutas dos autuados pelos atos do dia 8 de janeiro, o diretor da Polícia Civil garantiu à CPI que todos os presos cometeram crimes. “Nenhuma das pessoas foi presa injustamente. Essas pessoas escolheram estar nos prédios no momento da invasão. Vários declararam depois dos fatos que estavam lá porque não aceitavam o governo eleito. Algumas pessoas no depoimento, inclusive, disseram que iriam permanecer acampadas dentro dos prédios até a mudança de governo”, explicou.
Fonte: Agência CLDF