A morte cerebral da menina Sarah Raíssa Pereira de Castro, de apenas 8 anos, após inalar gás de desodorante durante um suposto desafio divulgado no TikTok, reacende um alerta urgente sobre os riscos ocultos que rondam o ambiente digital. O caso, que comoveu moradores do Distrito Federal e mobilizou a Polícia Civil, revela uma triste realidade: o acesso irrestrito à internet pode ser tão perigoso quanto o mundo real — ou até mais.
Sarah foi encontrada desacordada em casa, em Ceilândia, ao lado de um frasco de desodorante aerossol e do celular, onde, segundo os investigadores, ela teria acessado o conteúdo que incentivava a prática perigosa. O vídeo integraria um “desafio” viral, que, aparentemente inofensivo à primeira vista, tem se mostrado potencialmente letal. Levada ao Hospital Regional de Ceilândia, ela teve uma parada cardiorrespiratória e, após ser reanimada, não apresentou mais sinais neurológicos, tendo a morte cerebral confirmada dias depois.
A 15ª Delegacia de Polícia está à frente das investigações. O delegado-adjunto Walter José de Sousa afirmou que o inquérito busca não apenas esclarecer as circunstâncias da tragédia, mas identificar o criador e os disseminadores do conteúdo. A rede social também poderá ser acionada judicialmente para colaborar com as apurações.
“Crianças precisam ser supervisionadas. O simples fato de estarem dentro de casa não garante que estejam protegidas. A internet oferece acesso a conteúdos perigosos, muitas vezes disfarçados de brincadeiras”, alertou o delegado.
Casos como o de Sarah revelam que a infância contemporânea, cada vez mais conectada, está exposta a um universo de influências que os adultos nem sempre conseguem acompanhar. O uso de redes sociais por menores de idade, ainda que muitas plataformas tenham idade mínima para cadastro, é uma realidade amplamente ignorada ou contornada com facilidade.
Especialistas em comportamento infantil apontam que a ausência de mediação no consumo digital pode levar crianças e adolescentes a reproduzirem comportamentos arriscados em busca de aceitação, curtidas ou simplesmente por curiosidade. Desafios perigosos, vídeos com apelo emocional e conteúdos inadequados têm se espalhado com rapidez nas plataformas mais populares.
O episódio envolvendo Sarah não é isolado. Nos últimos anos, diversas tragédias envolvendo jovens e desafios virtuais foram registradas em diferentes partes do mundo, evidenciando um padrão preocupante. A combinação de acesso precoce à tecnologia, ausência de orientação e a viralização de conteúdos nocivos cria um ambiente propício para tragédias silenciosas.
A morte de Sarah Raíssa representa um grito por vigilância, orientação e responsabilidade — tanto por parte das famílias quanto das empresas que gerenciam redes sociais. Enquanto não houver um compromisso mais firme com a segurança digital de crianças e adolescentes, situações como essa poderão se repetir.