Passado o período de maior retração do crédito no Brasil, durante 2016 e 2017, o saldo de recursos liberados pelas instituições financeiras subiu em 2019 pelo segundo ano consecutivo. Dados divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo Banco Central mostram que o saldo de crédito cresceu 6,5% no ano passado. Apesar disso, as taxas de juros cobradas de empresas e famílias seguiram em níveis elevados.
Os números do BC revelam que o saldo total de operações de crédito feitas com empresas subiu em 2019, atingindo R$ 1,468 trilhão. O montante – que reflete operações realizadas com recursos dos próprios bancos e com dinheiro da poupança e do BNDES – representa uma leve alta, de 0,2%, em relação ao visto no fim de 2018. O valor ainda está longe do recorde de R$ 1,711 trilhão de dezembro de 2015, durante o governo de Dilma Rousseff.
Essa diferença é justificada pela forte retração do crédito direcionado (com recursos da poupança e do BNDES) nos últimos anos. Em meio à avaliação de que o crédito direcionado precisava diminuir no Brasil, dando espaço ao crédito privado, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro alteraram a forma de atuação do BNDES, que se tornou mais seletivo na concessão de financiamentos.
Somente em 2019, o crédito direcionado para empresas recuou 13,6%, para R$ 562,9 bilhões. A baixa nas operações do BNDES foi de 13,9% no ano passado, para R$ 382,55 bilhões.
O Banco Central tem defendido que, apesar do recuo do saldo de crédito para empresas nos últimos anos, o setor privado tem, de fato, ocupado mais espaço no financiamento de longo prazo. Isso porque muitas empresas maiores – que antes eram financiadas pelo BNDES – estão recorrendo a instrumentos do mercado financeiro para obter crédito, como as debêntures.
Os números do BC mostram que o crédito ampliado – que considera os financiamentos convencionais realizados pelos bancos, mas também as emissões de títulos pelas empresas, para financiamento de operações – cresceu 8,3% em 2019, para R$ 5,748 trilhões.
Entre as pessoas físicas, o cenário do crédito convencional é mais favorável. No ano passado, o saldo de crédito para as famílias avançou 11,7%, chegando a R$ 2,003 trilhões.
Entre os motivos para a expansão está a relativa recuperação da economia e do emprego, além do menor endividamento das famílias em relação aos picos vistos em 2014 e 2015. Se os bancos voltaram a demonstrar mais apetite para fechar financiamentos em 2019, os brasileiros também apresentaram maior capacidade para se endividar.
Um dos melhores exemplos disso é a linha para compra de veículos por pessoas físicas, cujo saldo avançou 19,6% no ano passado, para R$ 203,61 bilhões.
Embora os bancos estejam realizando mais operações com empresas e, principalmente, famílias, o custo segue em níveis elevados. A taxa média de juros das operações de crédito, considerando empresas e famílias, encerrou 2019 em 23,0% ao ano. O resultado representa uma queda de apenas 0,2 ponto porcentual em relação a 2018.
No caso específico das empresas, houve recuo de 1,1% ponto porcentual da taxa de juros média no ano passado. Para as pessoas físicas, a taxa média cedeu 0,1% ponto.
O custo permaneceu em níveis elevados a despeito de, em 2019, a Selic, a taxa básica de juros, ter recuado de 6,50% para 4,50% ao ano, o menor valor da história. Em 2016, quando o atual ciclo de cortes começou, a Selic estava em 14,25% ao ano.
Para muitos brasileiros, a sensação foi de que a baixa da Selic nos últimos anos não foi integralmente repassada pelos bancos ao consumidor final. Isso foi verificado principalmente nas linhas emergenciais.
O juro médio do rotativo do cartão de crédito, por exemplo, subiu 33,5% pontos porcentuais em 2019, para 318,9% ao ano. Já a taxa média do cheque especial teve baixa de 10,1 pontos porcentuais no ano passado, aos 302,5% ao ano. Este ainda é um dos custos mais elevados entre todas as modalidades de crédito.
Para combater o alto custo do cheque especial, o BC decidiu intervir diretamente no mercado no fim do ano passado. A instituição anunciou a limitação dos juros do cheque especial em 8% ao ano (151,82% ao ano). A nova regra começou a valer em 6 de janeiro de 2020. Assim, os dados divulgados hoje ainda não refletem a nova dinâmica.
Em suas comunicações, o Banco Central tem defendido que o custo do crédito cairá no Brasil com o aumento da concorrência entre as instituições financeiras. Para isso, o BC aposta na proliferação das fintechs, na expansão das cooperativas de crédito e na implantação do chamado open banking – sistema que prevê o compartilhamento dos dados bancários do cliente entre as diferentes instituições, desde que ele autorize previamente. Com isso, será possível que as instituições ofereçam produtos financeiros a este cliente, seja ele empresa ou consumidor. O BC espera que a primeira fase do open banking esteja em funcionamento até o fim de 2020.
Informações do Jornal de Brasília