O Indicador de Clima Econômico (ICE) na América Latina subiu no terceiro trimestre de 2020, saiu de 59,9 pontos negativos para 43,2 pontos negativos. Apesar disso, o índice se mantém na zona desfavorável do ciclo econômico, embora na comparação com o trimestre anterior, tenha alcançado um ganho de 16,7 pontos. O ICE divulgado, hoje (20), pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é calculado com base na média geométrica do Indicador da Situação Atual (ISA) e do indicador de Expectativas (IE).

Entre o segundo e o terceiro trimestres o ISA passou de 89,6 pontos negativos para 98,0 pontos negativos. Já a variação do IE é de 22,3 pontos negativos para 41,1 pontos positivos. Para a FGV, a reversão nas expectativas que passaram de pessimistas para otimistas explica a melhora no clima econômico, enquanto as avaliações da situação atual pioraram.

Os pesquisadores destacaram que a diferença de 139,1 pontos entre os dois indicadores é a maior da série histórica. Avaliaram ainda que a crise teria chegado ao seu pior momento e daqui para a frente a economia da região entraria numa fase de recuperação.

Nesta edição, a Sondagem da América Latina incluiu uma enquete especial que ajuda a explicar os resultados e a pergunta principal foi Além da pandemia da Covid-19 e das medidas de distanciamento social, que fatores mais influenciaram a sua revisão para o crescimento do PIB? De acordo com a FGV, a origem da pergunta é uma outra enquete onde, com exceção do Equador, todos os especialistas consideraram que a previsão para o crescimento do PIB em 2020 realizada no 3º trimestre era pior do que a do final de 2019.

Países

Ainda que com a permanência na zona desfavorável, com percentual de respostas negativas acima das positivas, o ICE subiu em todos os países selecionados para análise menos no México, onde o recuo foi de apenas 2,5 pontos. Os maiores avanços no ICE nos outros países, na comparação entre o 3º e 2º trimestres de 2020, ficaram com a Argentina (alta de 39,7 pontos), seguida do Brasil (28,9 pontos) e do Paraguai (28,5 pontos). O início do processo de renegociação da dívida da Argentina e o desempenho relativamente favorável no combate à pandemia podem ter influenciado no cenário econômico do país, onde o ICE é de 27,5 pontos negativos no terceiro trimestre.

Já nos indicadores de situação atual houve piora e se mantiveram negativos em todos os países. No Uruguai o ISA ainda é muito desfavorável com 88,9 pontos negativos. A maior diferença na comparação entre o 2º e o 3º trimestres foi registrada no Paraguai. Lá o ISA saiu de 80,0 pontos negativos para 100 pontos negativos. Os especialistas consideraram de forma unânime que a situação atual é desfavorável no Brasil, no Chile, no Equador e no México. A conclusão é de que a situação econômica corrente teria piorado entre o segundo e o terceiro trimestre do ano.

Ainda que avaliem a situação atual como desfavorável para todos os países selecionados para análise, os pesquisadores avaliaram que o cenário será favorável num horizonte de seis meses.

PIB

A pesquisa mostrou também que as respostas dos governos da Bolívia, Brasil e Equador em relação à crise causada pela pandemia tiveram um maior efeito para a piora da previsão do crescimento do PIB do que as respostas em relação à crise econômica. De acordo com os pesquisadores, o clima econômico desfavorável nos países antes da pandemia não foi o fator de maior influência, com exceção da Argentina, da Bolívia e do México. Já a instabilidade política foi apontada como relevante para a Bolívia e o Brasil, mas no Chile, na Colômbia e no Peru, a elevada incerteza em relação ao futuro foi destacada como quesito importante.

“A enquete mostra uma relativa diversidade no peso atribuído a cada quesito do questionário, mas resposta à crise sanitária e/ou à crise econômica lideram os fatores que mais contribuem, em média, para a retração econômica dos países”, apontou a Sondagem.

Protecionismo

A pesquisa mostrou que muitos países, em resposta à pandemia, adotaram medidas protecionistas relacionadas aos equipamentos e insumos utilizados no combate à covid-19. A crise provocou o debate sobre a vulnerabilidade em setores estratégicos que operam na dependência de um número reduzido de fornecedores estrangeiros.

Mais da metade dos especialistas na América Latina (59,8%) concordam parcialmente que o protecionismo deverá continuar pós-pandemia, enquanto 25,5% concordam plenamente. Apenas 3,1% discordam parcial ou plenamente. No Brasil, 25% dos especialistas responderam que concordam plenamente e 56,3% parcialmente sobre o protecionismo no comércio mundial.

Sondagem

A Sondagem Econômica da América Latina é uma pesquisa trimestral destinada a acompanhar e antecipar tendências econômicas da região. O estudo é feito com base em informações prestadas por especialistas econômicos, com a aplicação simultânea da mesma metodologia nos países da região: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.