Manicure há 17 anos, Graziele Rosa Cândida, moradora do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, atendia cerca de oito clientes por dia. Desde o início da quarentena no estado de São Paulo, decretada no dia 24 de março, ela tenta manter a renda da família atendendo apenas uma pessoa por dia.
“Nessa época de quarentena estou mais em casa mesmo, mas pedi uma ajuda para todas as minhas clientes fixas para que mantivessem o pagamento do pacote, pelo menos. Quem quer fazer a unha estou indo atender, mas é esporadicamente, uma cliente por dia, duas no máximo. Estou mantendo a casa dessa forma. Meu marido é músico, também depende de renda, mas a área dele vai ser a última a se restabelecer. Então, no momento, sou eu mesma”, lamenta.
Como ela, a manicure Nubia Andrade, também do Tatuapé, não atende em salão, e trabalha na própria casa fazendo as unhas das clientes. Mas a procura pelos serviços caiu e ela já não tem renda para sustentar sozinha a casa em que mora com o filho de 12 anos.
“Estou há mais de 20 dias sem atender ninguém, a maioria das minhas clientes são senhoras, elas não querem e não podem me receber e assim não estou trabalhando. O pouco do dinheiro que eu tinha já gastei com comida. A minha irmã me deu uma ajuda financeira, mas também não pode me ajudar muito”.
Nubia está ansiosa pelo fim do período de isolamento social. “Espero que a partir do dia 22 de abril, a gente possa voltar a trabalhar sem medo e todo mundo em paz”. Núbia pediu a renda básica emergencial de R$ 600 oferecida pelo governo. “Mas ainda está em análise, não recebi o valor da ajuda.”
Em situação semelhante está a manicure Claudineia Souza, da Vila Matilde. “Atendo em domicílio e na minha casa, a maioria das clientes não está vindo, estou atendendo uns 20% do habitual. Estou vivendo de doação e ajuda de familiares e amigos. Meu aluguel e minhas contas estão atrasados”. Ela também espera pelo rápido fim do período de isolamento. “Espero que melhore logo porque cada vez que passa o tempo a situação vai ficando cada vez mais difícil né?”.
Já a manicure Rosana de Lima Ferreira, de Muriaé, no interior de Minas Gerais, disse que, em 14 anos de profissão, nunca passou por um período semelhante. “Para quem atendia das 7h às 20h, de segunda a sábado, mudou muito. Tem dia que eu atendo uma cliente, tem dia que não aparece nenhuma. A minha renda caiu muito. Até agora, tenho me segurado com o que tinha recebido. Agora, para o mês em diante, não sei o que vou fazer se continuar”.
Impulsionado pelo hábito das brasileiras de frequentar salão de beleza semanalmente, o mercado de estética vinha crescendo a uma média anual de 4,1% nos últimos dez anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), Para este ano, a previsão da entidade era de crescimento de 6%, mas a realidade de uma pandemia acompanhada das medidas de isolamento mudaram o cenário.
“Acredito que o futuro vai começar do zero para muitos de nós, autônomos, que trabalham nessa área. Acho que o ano inteiro já quebrou, para muitos”, lamenta a manicure Tatiana Petrovic. “Espero que descubram logo um remédio, porque o vírus não vai evaporar, ele vai existir e para a gente que trabalha com o público em um contato bem físico, nós precisamos ter cuidado, sempre um ‘pé atrás’ daqui por diante”, destacou Tatiana.
Campanha quer ajudar 2 mil profissionais
Para ajudar essas e tantas outras manicures que sentem, no bolso, os efeitos da quarentena no país, grandes marcas de esmaltes se uniram em uma campanha que pretende apoiar com uma renda mínima 2 mil profissionais da beleza em todo o país.
Idealizada pela 3,2,1 Beauty, empresa que fornece serviços de beleza e bem-estar em escritórios corporativos, a campanha Beleza de Mãos Dadas pretende arrecadar fundos por meio de crowdfunding.
“Com a pandemia de covid-19, as profissionais de beleza autônomas são altamente impactadas, vendo suas demandas de trabalho e faturamento zerarem em meio a quarentena decretada. Em sua grande maioria, são mulheres, chefes de família, que não têm uma reserva de caixa e se encontram em uma situação vulnerável. Por isso, idealizamos este movimento e unimos nomes importantes do setor para ajudarmos as profissionais neste período difícil”, conta Cecilia Ribeiro, fundadora da 3,2,1 Beauty.
“Já que não podemos dar as mãos fisicamente, vamos ajudar virtualmente” – é o convite que o movimento faz ao público, por meio do financiamento coletivo, que já está disponível na plataforma Catarse. A meta é chegar a R$ 1 milhão até o dia 7 de maio de 2020. Qualquer pessoa pode doar.
Além da contribuição do público, a campanha Beleza de Mãos Dadas conta com o apoio das marcas de esmaltes: Risqué (patrocinadora) e O.P.I – ambas pertencentes ao Grupo Coty; Dailus, Vult, Impala e Colorama; além da marca Beauty Fair.
Para garantir repercussão e mobilização, as marcas apoiarão o movimento por meio da divulgação em suas redes sociais. Os sindicatos ProBeleza e Beleza Patronal também apoiam a iniciativa.
Para ter direito ao benefício, a manicure precisa se cadastrar no site da campanha e ser microempreendedora individual (MEI) com atividade de manicure – criado antes do dia 03/03/2020. A organização da campanha fará uma checagem dos dados e irá confirmar a elegibilidade. Ao final da campanha, o valor arrecadado será distribuído para as manicures cadastradas por meio de uma conta digital. A manicure pode transferir para sua conta bancária ou sacar o valor em qualquer lotérica. Para mais informações, acesse o site da campanha Beleza de Mãos Dadas.
Edição: Lílian Beraldo