O mercado financeiro aposta que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anuncie nesta quarta-feira (5/2) mais um corte da taxa básica de juros, levando a Selic para nova mínima histórica, de 4,25% ao ano. A redução é vista como um estímulo adicional à atividade econômica, mas deve ser visto com cautela por pequenos investidores e consumidores. É que a mudança deve reduzir o rendimento da aplicação preferida dos brasileiros e não deve derrubar os juros que são cobrados dos consumidores a patamares tão baixos quanto esse.
A recomendação de cautela é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Segundo a entidade, caso os juros básicos cheguem aos 4,25%, o rendimento da poupança vai passar dos atuais 3,15% para 2,98% ao ano, já que a caderneta rende 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), que está zerada. Seria, portanto, um rendimento inferior à inflação prevista para este ano, que é de 3,4%.
Da mesma forma, investimentos que são referenciados à taxa básica, como vários papéis de renda fixa, títulos do Tesouro Direto e certificados de depósito bancário (CBD), devem ter seus rendimentos achatados com a possível decisão do Copom. Se a ideia for investir em fundos de renda fixa, a recomendação é procurar aqueles com taxa de administração de, no máximo, 1%. Quando a taxa é de 0,5%, por exemplo, esses fundos podem ter rendimento de 3,29% ao ano — um pouco mais que a poupança, mas ainda inferior à inflação projetada para 2020.
Por conta disso, analistas dizem que quem quer ver o seu dinheiro rendendo mais vai ter que aprender a assumir riscos e partir, por exemplo, para a renda variável, isto é, para ações listadas na Bolsa de Valores e fundos imobiliários. “O Banco Central vem seguindo a linha de redução dos juros, dado que a economia está trabalhando muito devagar. Por isso, as taxas baixas devem durar mais que o habitual. Nesse cenário, ações e fundos imobiliários tendem a se valorizar”, explicou Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos.
É por isso, diz Silva, que o número de pessoas que investem na Bolsa de Valores de São Paulo vem crescendo. Essa, entretanto, ainda é uma cultura pouco radicada na sociedade brasileira. O economista dá dicas para quem quer entrar no mundo das ações. “É importante procurar um gestor de recursos e buscar investir em ações de empresas equilibradas e sólidas, de setores mais resilientes, como os de utilidade pública (energia e telefonia, por exemplo), que devem se beneficiar da recuperação econômica”, orientou.
O economista lembrou, também, que é importante dividir os investimentos em mais de uma aplicação. Na renda fixa, uma boa saída ainda pode ser o Tesouro Direto. “É um título seguro, porque está guardado no Tesouro Nacional. E você tem a vantagem de não pagar taxa de administração ao comprar um título público”, afirmou.
Apesar de a Selic ter caído de 14,25% para 4,5% ao ano desde 2014, os juros cobrados por bancos e financeiras nas principais linhas de crédito ainda estão muito longe desse patamar. Segundo a Anefac, hoje, a média desses juros é de 113,43% ao ano, ou 6,52% ao mês, por conta do alto custo que instrumentos como o cheque especial (272,02%), o cartão de crédito (265,28%) ainda têm no Brasil.
A Anefac afirma que o corte de 0,25 ponto percentual da Selic pode até estimular a economia, mas não terá impacto tão relevante nos juros cobrados ao consumidor final. Segundo a entidade, a redução da taxa básica deve provocar uma diminuição de até 0,42 pontos nos juros médios de mercado, que, entretanto, ainda vai continuar acima dos 100%. A projeção da Anefac é de um juro médio de 112,95% ao ano, o equivalente a 6,5% ao mês. No cheque especial e no cartão de crédito, os encargos devem continuar acima de 200% ao ano.
“Há um descolamento muito grande da Selic das taxas de mercado. E tirar 0,25 ponto percentual de um juro de mais de 100% é muito pouco. Então, os custos financeiros devem continuar elevados”, afirmou o diretor executivo da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira. Ele atribui esse descolamento ao fato de a economia brasileira se recuperar a passos lentos. “Os bancos mantêm o spread alto por conta do risco de inadimplência. Para mudar isso, dependemos de crescimento mais consistente”, afirmou.
A recomendação é de cautela para quem quer fazer uma compra ou um investimento de médio ou de longo prazo, pois as reduções nos encargos podem ser pouco expressivas com a mudança da Selic de 4,5% para 4,25%. Segundo a Anefac, num empréstimo pessoal de R$ 5 mil, dividido em 12 meses no banco, o custo pode chegar a R$ 1.165 — redução de R$ 7,28. E o financiamento de um carro de R$ 40 mil em 60 parcelas pode ser afetado por um juro mensal de 1,44%, que no final vai custar R$ 20 mil — R$ 300 menos do que se paga hoje.
Informações do Jornal Correio Braziliense