O início da vacinação contra a covid-19 no Brasil em 17 de janeiro e a mudança de governo no município do Rio de Janeiro, que tem a maior carga na economia fluminense e estava puxando para baixo o resultado do estado, explicam o maior otimismo demonstrado pelo consumidor fluminense na nova pesquisa do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ). O levantamento divulgada nesta sexta-feira (29).foi realizado com 566 moradores do estado do Rio de Janeiro, entre os dias 19 e 21 deste mês.

“A mudança de ares na prefeitura e o início da vacinação certamente tiveram influência na expectativa das pessoas, embora haja um patamar de 43% que têm muito medo de perder o emprego, percentual relativamente alto em relação ao menor percentual visto no ano passado, que foi em outubro [32,3%]”, disse, em entrevista à Agência Brasil, o diretor do IFec Rio, João Gomes.

Segundo Gomes, os resultados surpreenderam positivamente, mas, ao mesmo tempo, levantaram algumas questões. “Houve melhora recente em relação a dezembro na questão da perspectiva, mas em alguns aspectos você está ainda em um patamar abaixo do que vinha anteriormente. É um otimismo, mas que traz cautela.”

Confiança

O estudo revela que 38,2% dos fluminenses estão confiantes ou muito confiantes na retomada da economia brasileira, superando o resultado registrado em dezembro (35,2%). Para 20,5%, a situação se manterá inalterada. Cerca de 21,7% dos entrevistados não acreditam na recuperação da economia e 19,6% estão muito pessimistas. O índice de confiança para a economia brasileira alcançou 96,8 pontos, em janeiro, contra 90,1 em dezembro.

Indagados sobre as expectativas para a retomada da economia do estado no próximo trimestre, 30,9% manifestaram-se confiantes ou muito confiantes, enquanto 23,5% disseram que não haverá mudanças e 45,6% mostraram-se pessimistas ou muito pessimistas. O índice para o estado alcançou 85,3 pontos, situando-se 8,2 pontos acima do resultado de dezembro.

Para o economista, a sondagem mostra um janeiro otimista em termos de expectativa, de organização financeira, de redução da inadimplência. Gomes destacou, entretanto, que, quando se olha para a compra de bens duráveis, por exemplo, “tem-se um percentual abaixo do de dezembro, mas bem maior do que foi o de agosto de 2020, na intensificação da crise na questão econômica”, explicou.

Emprego e renda

João Gomes observou que, em janeiro, há impacto de gastos comuns do início de ano, como os impostos sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e Predial e Territorial Urbano (IPTU) e a compra de material escolar. Por isso, é de se esperar uma desaceleração na confiança do consumidor., explicou

A pesquisa revelou aumento de sete pontos percentuais no número de fluminenses que não estão com medo da demissão: foram 39,4% em janeiro, contra 32,1%, em dezembro.

Já o número de cidadãos com medo ou muito medo de perder o emprego caiu de 67,9%, em dezembro, para 60,6%, em janeiro. Os que têm medo extremo de perder o emprego ficaram em 43,3% em janeiro, abaixo dos 47% de dezembro, mas muito acima dos 32,3% registrados em outubro do ano passado. Na fase aguda da pandemia, em julho de 2020, o medo extremo de ficar desempregado atingiu 53,4%.

João Gomes lembrou que, de julho de 2020 a janeiro de 2021, houve queda de 10 pontos percentuais entre as pessoas que estavam com extremo medo de perder o emprego, com o menor patamar (32%) atingido em outubro. “Ou seja, caiu 10 pontos em relação à fase mais aguda, mas subiu 10 pontos em relação à melhor fase.”

De acordo com o economista, por isso, ainda existe cautela porque não se sabe o que vai acontecer com o auxílio emergencial e os efeitos no mercado do trabalho, ném como os níveis de preço vão ficar. “Então, é uma condição momentaneamente cautelosa”.

Para 44,7% dos entrevistados, a renda familiar permanecerá estável. O percentual é 4 pontos maior do que o apurado em dezembro (40,7%). Já os que estão pessimistas ou muito pessimistas em relação ao orçamento familiar foram 35,2% dos consultados. Para 15,2%, a renda será aumentada e apenas 4,9% creem em melhora significativa. O índice alcançou 85 pontos, ficando 10,9 pontos acima do observado em dezembro passado.

Endividamento

A pesquisa sinaliza também que muitos consumidores diminuíram seus gastos, tendo em vista que o endividamento extremo caiu – os endividados passaram de 21,3%, em dezembro para 16,6%, em janeiro. Isso ocorreu também com os endividados, que passaram de 25,5% para 24,9%. O número de consumidores com poucas dívidas, por outro lado, aumentou de 18,9% para 24,2% e o de consumidores sem dívidas manteve-se em 34,3%.

Houve também queda na inadimplência, revelou o levantamento. Os muito inadimplentes passaram de 10,5% para 9,5% e os que têm contas atrasadas caíram de 19,1% para 17,7%. O percentual dos que estão pouco inadimplentes passou de 20,2% para 19,8%. A pesquisa constatou ainda aumento dos consumidores sem restrições de 50,1% para 53%.

O cartão de crédito continua na primeira colocação entre os vilões da inadimplência, com 54,9%, seguido de contas de luz, água, telefone, gás e internet (37,3%); crédito pessoal (25,5%); e cheque especial (24,7%).

Bens e serviços

Do total de consumidores entrevistados, 92,7% afirmaram que os preços dos bens e serviços que consomem estão aumentando. Para 3,7%, os valores se estabilizaram e, para apenas 1,1%, diminuíram; 2,4% não souberam responder. Sobre os gastos com bens duráveis no próximo trimestre, 38,6% disseram que pretendem manter, 32,1% aumentarão as compras e 29,3% gastarão menos. Para João Gomes, com o fim do auxílio emergencial, o que se verá, daqui para frente, é um ímpeto um pouco menor na compra de bens duráveis.