Ensino e disciplina juntos: o Colégio Militar Dom Pedro II

Entre as instituições de ensino públicas brasilienses, os colégios militares encabeçam o ranking de resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2018. A liderança ficou com o Colégio Militar Dom Pedro II (CMDP II, na 19ª posição na listagem geral). Em seguida, aparecem o Colégio Militar de Brasília (CMB, na 22ª colocação) e o Colégio Militar Tiradentes (29º lugar). Fundado em 2000 e com um total de 2,8 mil alunos, dos quais cerca de 750 são de ensino médio, o CMDP II é ligado ao Corpo de Bombeiros do DF.

Em muitos anos, o CMB ficou à frente da unidade em avaliações como o Enem. A diferença para o Dom Pedro II ter tomado a frente e apresentar resultados de ponta pode estar, além da disciplina, num ensino com relação direta com a realidade e baseado no formato de prova do Enem e do Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS/UnB). Claro que os 340 funcionários — dos quais 40 são professores de ensino médio — também fazem a diferença.

O valor do respeito às regras

“O resultado positivo é fruto de empenho muito grande dos professores, dos monitores, do comando”, avalia Ronnie Pires, capitão e subchefe do Departamento de Ensino. A atualização dos profissionais também é importante, e a equipe participa de congressos e feiras dentro e fora de Brasília. “Aqui, os educadores não precisam se preocupar com a disciplina, só com a parte pedagógica. Tem um regulamento a parte para isso, e o professor não precisa se desgastar.”

A parceria entre a família e a escola é outro ingrediente do sucesso, como define o sargento Welinton Ricardo da Silveira Porto, coordenador do último ano do ensino médio. “É um conjunto: os pais, a questão psicológica, ensino com disciplina, a qualidade dos profissionais… E, o aluno estando disciplinado, o resultado vem com mais facilidade”, analisa o graduado, mestre e doutorando em filosofia. Inclusive, o lema da escola, gravado no uniforme dos alunos, é “ensino e disciplina juntos”. O colégio tem professores civis e militares, assim como estudantes filhos de civis e militares.

O sargento Edeilson Cavalcanti dá aulas de matemática e trabalha na escola há 12 anos. Para ele, o militarismo faz a diferença para resultados de excelência. “O ensino militar cria nos nossos alunos uma vontade de vencer, de competição mesmo. Eles são ranqueados… Há uma série de mecanismos para que os meninos não estudem apenas o básico e deem algo a mais”, afirma.

O sargento pondera que as provas são feitas de modo a preparar também para vestibulares. A rigidez existe de mesmo modo nas seleções dos professores: o teste para os educadores é rigoroso. O CMDP II aplica ainda processo seletivo como forma de ingresso de alunos no 6º ano do fundamental e no 1º ano do médio. Mas há ainda outras duas maneiras de entrar: sorteio na educação infantil e lista de espera, à medida que forem abrindo vagas.

Existe uma reserva para filhos de Bombeiros, mas os métodos de entrada são os mesmos para eles também. Reconhecido pela qualidade, o colégio é disputado: há cerca de 2,5 mil alunos na fila de espera. Com amplo espaço, a unidade educacional é equipada com ar condicionado, televisão e projetores na sala. Não é de se estranhar uma estrutura tão boa: diferentemente de escolas públicas regulares, o Dom Pedro II cobra mensalidade. Para o ensino médio, o valor mensal de 2019 é de R$ 1.088,81.

Aulas que fazem sentido

Caio Sayão e Thalyta Sousa são alguns dos que, além de professores civis, são ex-alunos. “Estudei aqui praticamente minha vida toda. O ensino sempre foi de qualidade, com disciplina, hierarquia e respeito”, conta Thalyta, que dá aulas de biologia. Voltar para o colégio como docente foi um desejo natural.

Questionada sobre o motivo de os alunos se saírem bem em avaliações como o Enem, ela avalia que isso tem a ver com o fato de eles verem sentido no que aprendem. “Nós abordamos o que é importante. Não perdemos muito tempo falando de coisas que não serão aplicadas na vida dos alunos. Na aula de biologia, por exemplo, vemos doenças e questões ambientais”, afirma a filha de um bombeiro e de uma técnica administrativa.

Por exemplo, os incêndios florestais que atingem a Amazônia serviram de norte para ensinar conceitos, como biodiversidade, fotossíntese, respiração celular. Thalyta está sempre atenta às atualidades ao preparar as aulas, o que ajuda os alunos a verem sentido no que é ensinado. Trailers de filme também servem de base. “O de Jurassic Park eu uso para falar de alterações genéticas, por exemplo. Trago o que eles estão vendo e vivendo para a sala de aula.”

Professor de química, Caio Sayão sonhava em voltar ao colégio como docente. “É a chance de retribuir o que me foi dado. Tenho vários colegas que foram meus professores”, conta ele, que estudou ali da 3ª série do ensino fundamental até o ensino médio. Quando entrou no colégio, sentiu certa dificuldade com a disciplina, mas, depois, se tornou grato por ter aprendido isso na escola.

Caio avalia que o nível dos estudantes ali é muito alto. “Eles estão sempre me desafiando, fazem perguntas inteligentes, que fazem com que nós, professores, precisemos buscar algo mais. Tem alunos se preparando para academias militares, o que aumenta o nível”, afirma. A rigidez nos estudos e o foco em avaliações, até para ingresso em universidades no exterior, são diferenciais da escola segundo ele.

“Nossas provas preparam para Enem, por exemplo. Mas o foco não é esse. Aqui não é um cursinho, é uma escola. Então, trabalhamos isso também, mas não só”, diz. Muitas vezes, nos testes regulares do colégio, os alunos respondem a questões retiradas de vestibulares, do PAS e do Enem. Assim, acostumam-se com o modo de cobrança dos conteúdos. No entanto, o link com a realidade é muito forte. “Fazemos provas temáticas de cada grupo de disciplinas. Na de ciências, fizemos uma toda em volta da Copa Feminina de Futebol”, exemplifica.

Rogério da Silva Pacheco, professor de redação e coordenador de linguagem do ensino médio, atribui as boas notas no Enem dentro da área ao fato de os docentes trabalharem as competências previstas no exame. A escola também já está de olho nas mudanças que precisam ser implementadas no ano que vem. “A gente vê o que foi aplicado em avaliações e o que está previsto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) na hora de passar conteúdo”, diz.

A visão dos alunos

“Estudo aqui desde o 6º ano, entrei pelo concurso. Meu pai é militar do Exército e minha mãe trabalha com administração. Somos trigêmeos e meus irmãos também estudam aqui. As provas com as quais mais me importo são as do colégio mesmo, mas também participei de olimpíadas de física e matemática e do concurso de redação da Marinha. Aqui é um colégio muito bom e, em comparação com outros, tem mais disciplina.”

Brigitte Iosca, 15 anos, aluna do 1º ano do ensino médio, sonha ser neurocirurgiã

“A minha mãe trabalha na parte administrativa do colégio, ganhei bolsa para estudar aqui desde o 5º ano. O ensino daqui é de muita qualidade. O sistema é rígido, mas é bom para nós, que ainda estamos amadurecendo. Meu irmão entrou aqui e não se adaptou a isso. Eu preferi ficar, vejo a importância das regras. A interação com os professores nas aulas é o melhor ponto do colégio. Eles não só passam o conteúdo, querem que a gente aprenda mesmo.”

Guilherme de Sá, 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio, sonha ser engenheiro civil

“Entrei aqui no 7º ano por meio de lista de espera. Meu pai é segundo sargento dos Bombeiros. Eu vim sabendo que precisaria estudar muito mais aqui. Com essa pressão, aprendi a estudar e minhas notas aumentaram. Agora, sou a segunda colocada dentro das turmas do 3º ano. Essa pressão vem de mim mesma, quero fechar tudo com chave de ouro. O que mais gosto aqui é que a gente valoriza a escola em si, a gente se identifica e personifica o colégio. Pela escola, participei de olimpíadas de astronomia, matemática e física.”

Júlia Bitencourt, 17 anos, aluna do 3º ano do ensino médio, sonha ser médica.

“Gosto do estilo de ensino da escola e da valorização que a gente dá para a pátria. No momento, sou o primeiro colocado em termos de nota nos terceiros anos. Eu estudo muito, mas o que importa é a qualidade de estudo, não o tempo de estudo. Minha irmã faz medicina na UnB e estudou aqui no colégio. Talvez eu siga o mesmo caminho. Acho que o colégio vai bem no Enem porque tem um ensino guiado para a aprovação.”

Renato Bruno, 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio, sonha ser médico

Informações do Jornal Correio Braziliense