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O Observatório do Futebol do Centro Internacional de Estudos de Esporte (CIES, sigla em inglês) ranqueou o Campeonato Brasileiro como o terceiro, entre 87 ligas de primeira divisão do mundo, em que os clubes mais utilizam jogadores diferentes numa mesma temporada. Segundo o levantamento, que considera as edições de 2015 a 2019, cada time que disputou a Série A nacional no último ano mandou a campo, em média, mais de 35 atletas (35,55). A rotatividade no Brasileirão só é superada pelas registradas nas ligas paraguaia (38,72) e jamaicana (36,40).

Entre os clubes brasileiros, o Goiás é o que mais teve jogadores diferentes atuando no período: 143. O Esmeraldino é o 10º da lista, liderada pelo Deportivo Pasto (Colômbia), que levou a campo 176 atletas nos últimos cinco anos. Os times sul-americanos encabeçam o ranking: são 14 entre os 20 primeiros – Bahia (132) e Avaí (131) também integram esse top-20.

“O relatório mostra, claramente, quem é quem no ecossistema de cada país e no futebol mundial”, explica à Agência Brasil o professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), Ary Rocco Júnior. “Esses clubes que lideram a lista não são de grande poderio econômico, mas são menores do ponto de vista financeiro. A rotatividade nos elencos é alta porque são times que fornecem atletas a clubes mais ricos do próprio país, e até do resto do continente, no caso específico da Colômbia, ou para outros centros esportivos. Europa, de forma geral”, descreve.

De fato, Palmeiras (91), Flamengo (92) e Corinthians (93) – justamente os campeões das últimas cinco edições do Brasileirão – são os clubes do país que menos jogadores diferentes utilizaram no período. “A gente vê que os times de maior rotatividade são os que não têm uma clara pretensão de ganhar campeonatos nacionais, então, sobrevivem da venda de atletas. Um atleta aparece e rapidamente é vendido. Isso justifica Palmeiras ou Flamengo terem uma variação menor. Reflete o posicionamento das agremiações”, avalia Rocco Júnior, que também é diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Gestão do Esporte (Abragesp).

A rotatividade nas principais equipes brasileiras, porém, ainda é bem superior a de clubes grandes, ou mesmo medianos do futebol europeu, que estão na outra ponta do estudo. “O Brasil, hoje, é exportador de jogadores para a Europa, que é muito mais estruturada em gestão e que vê o futebol como negócio há bem mais tempo. Mesmo Flamengo ou Palmeiras ainda precisam vender atletas para recompor as finanças”, analisa o professor. Ele destaca aindao Shangai SIPG (China) que apresentou menor alternância no elenco entre 2015 e 2019: 44 atletas, de acordo com o levantamento do CIES.

“É um caso significativo porque mostra a Ásia como outro mercado comprador de pé de obra, onde o dinheiro começa a circular, permitindo que os atletas fiquem lá por mais tempo. Então, o relatório mostra claramente essa geografia financeira”, conclui o dirigente da Abragesp.

Rotatividade nos elencos brasileiros (2015 a 2019)*

Goiás: 143

Bahia: 132

Avaí: 131

Ceará: 130

Chapecoense: 129**

Vasco: 125

Fortaleza: 123

Fluminense: 121

São Paulo: 120

Internacional: 116

Athletico-PR: 114

Grêmio: 109

Botafogo: 107

Cruzeiro: 104

Santos: 97

Atlético-MG: 96

Corinthians: 93

Flamengo: 92

Palmeiras: 91

 

* O CSA, que no período chegou a ficar sem divisão nacional (2015) e só disputou a Série A em 2019, não entrou na estatística.

** O período engloba a remontagem do time da Chapecoense após o acidente aéreo de 2016 que vitimou 71 pessoas (19 atletas).

 

Edição: Cláudia Soares Rodrigues