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Uma academia improvisada na garagem foi a saída que os principais judocas do Benfica, tradicional clube português, encontraram para continuar treinando em meio à quarentena obrigatória no país europeu, por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Entre eles, duas brasileiras que, há pouco mais de um ano, passaram a defender Portugal em competições internacionais: a carioca Bárbara Timo e a gaúcha Rochele Nunes.

“Estávamos todos em uma casa de quarentena voluntária. Quando ela (reclusão) passou a ser obrigatória, viemos para esse outro imóvel, mais confortável, e montamos uma espécie de ginásio com tatame”, conta Rochele à Agência Brasil. “Foi a maneira mais fácil de manter o foco sem nos preocuparmos tanto com o vírus e sem deixar a quarentena abalar muito, tomando medidas preventivas. Só saímos de casa se necessário, para ir ao mercado ou farmácia”, emenda a judoca, que, hoje, estaria garantida na Olimpíada de Tóquio (Japão) pelo ranking mundial da modalidade.

O “jeitinho” encontrado para treinar, claro, não é a circunstância ideal. “Eu estava tratando o joelho com fisioterapia. Infelizmente, como não tenho um fisioterapeuta aqui comigo, isso pode fazer o processo de recuperação demorar um pouco mais. Mas, continuo focada”, garante, aliviada com o adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021. “Acho que está todo mundo sofrendo com o coronavírus e penso no bem-estar. A gente se prepara por muito tempo para isso, mas não seria justo se a Olimpíada ficasse na data prevista. Assim, todos os atletas podem ter uma preparação melhor”.

Saber improvisar também foi necessário para Erica Sena não ficar parada. A principal brasileira da marcha atlética vive há oito anos em Cuenca, no Equador, terra natal do marido e treinador Andres Chocho. Até domingo (22), o país sul-americano registrou 14 mortes e 789 infectados. É menos, por exemplo, que os 43 óbitos e quase três mil casos confirmados em Portugal até quarta-feira (25). Mas, pelo lado equatoriano, a quarentena também tem sido compulsória.

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A brasileira Erica Sena mora  em Cuenca (Equador), país que registrou 14 mortes e 789 infectados. – Rede do Esporte/Divulgação/Direitos Reservados

 

“Podemos sair três vezes por semana (de casa) para comprar alimentos e medicamentos. Não esperávamos passar por isso. Estamos tentando adaptar nossos treinos da melhor maneira possível. Tenho uma esteira em casa e posso adaptar, mas, é complicado ficar apenas nela. São sensações diferentes”, descreve a pernambucana, medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima (Peru) no ano passado e que teve um período de treinamentos e competições na Europa cancelado por causa da pandemia.

Novo epicentro

Em 2017, Eric Pardinho assinou um contrato de US$ 1,4 milhão (R$ 4,6 milhões, na cotação da época) com o Toronto Blue Jays, franquia da Major League Baseball (MLB), liga norte-americana, tornando-se o brasileiro mais caro da história da modalidade. O paulista de 19 anos está em recuperação de uma cirurgia no cotovelo e só deve voltar a jogar no ano que vem. Mas, há outro motivo pelo qual o retorno aos treinos poderá demorar. Segundo alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), os Estados Unidos (EUA) devem se tornar o novo epicentro da covid-19.

A temporada 2020 da MLB deveria começar nesta quinta-feira (26), mas, após ter adiado o início em duas semanas, a liga estendeu o prazo em mais dois meses. O país tem, atualmente, mais de 53 mil casos confirmados do novo coronavírus – cerca de 1,4 mil na Flórida, estado onde Pardinho vive. “A cidade em que moro (Clearwater) é famosa pelas praias, vem bastante turista. No sábado (21), decidiram fechá-las. Quando você precisa ir à rua, vê o pessoal de máscara, luva…”, relata o arremessador, à Agência Brasil.

Segundo ele, o time o contata diariamente e orienta sobre como proceder na pandemia. “É para evitarmos de sair muito. Eles mandam mensagens, perguntam se temos sintomas. De fato, evito de sair. Às vezes, dou uma caminhada em volta do hotel, vou ao mercado, algum restaurante que esteja aberto ainda”, conta o brasileiro, que convive com outros atletas no local, a maioria venezuelanos. “Meus pais tinham vindo para cá no início do mês, pegaram o pessoal indo embora e tiveram que voltar (ao Brasil) também, porque a situação estava ficando ruim nas companhias (aéreas)”, completa.

Por enquanto, a rotina de Pardinho é a fisioterapia. Depois, talvez, acompanhar os colegas de time em treinos improvisados no estacionamento do hotel. Só que adaptar as atividades esportivas não é o único desafio para outro brasileiro nos Estados Unidos. Pivô da seleção de basquete, Anderson Varejão vive em Cleveland, Ohio, estado que registrou oito mortes pela doença. Na terça-feira (24), ele sentiu na pele o impacto da pandemia.

“Eu e minha esposa estamos esperando um bebê. Estou há um tempo fora das quadras, sem jogar, porque é um momento que decidi ficar do lado dela, acompanhar, fazer parte de tudo, das consultas. Fomos ao hospital para um exame de rotina, mas, chegando lá, não pudemos entrar”, declara Varejão, campeão da última temporada do Novo Basquete Brasil (NBB) pelo Flamengo.

Diferente de Portugal e Equador, a quarentena não é obrigatória nos EUA como um todo. Em Ohio, porém, a determinação está em vigor desde segunda-feira (23). Por isso, o pivô pede uma reflexão além das fronteiras dos países. “Fiquem em casa. Se não por vocês, façam por alguém. Sei que não é fácil. Tenho feito meus treinos (em casa), mas sei que é muito tempo. Aproveitem para fazer o que sempre ficava para depois. O dia que você tiver alguém da família passando por algum momento difícil, vai lembrar disso e de muitas coisas que têm sido faladas”, conclui.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues