Com a intervenção federal e a escolha de um militar para comandar as polícias no estado do Rio de Janeiro, há um movimento dos políticos em convidar profissionais do Exército para cargos responsáveis pela segurança pública nos estados. A solução de colocar generais em postos-chaves no combate à violência ocorre há anos, mas ganhou força nos últimos meses. Em 2005, esse posto na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará foi ocupado pelo general Théo Espíndola Bastos. Em 2002 e 2006, no Distrito Federal, nas gestões Roriz e Arruda, os generais Athos Costa de Faria e Cândido Vargas de Freire, respectivamente, também chefiaram a pasta.
Em caso mais recente, de 2015, o estado do Pará nomeou o general de brigada Jeannot Jansen como secretário de segurança. Este ano, foi a vez de o Rio de Janeiro passar o cargo para um general durante a intervenção federal. O general da ativa do Exército Walter Souza Braga Netto assumiu em fevereiro. A decisão retoma a discussão sobre o papel das Forças Armadas na segurança do estado, e levanta questionamentos a respeito da expansão militar dentro dos cargos civis. Para especialistas e candidatos, no entanto, a pasta não é função do Exército, e o governo deve investir de forma eficaz para que esse trabalho continue sendo da polícia.
Em trabalho intitulado de “Origens profissionais dos secretários estaduais de Segurança Pública”, publicado em 2016, a pesquisadora Fábia Berlatto mostra que a principal fonte de recrutamento para a Secretaria de Segurança Pública de um estado passou a ser a Polícia Federal, entre 2003 e 2015. Isso porque as polícias civis e militares vivem em constante conflito e uma maneira de unificar as forças é chamar um “chefe” da polícia federal.
E isso ainda cresce mais porque a aceitação pública pela PF também aumentou no período em análise, devido às operações policiais que investigam políticos e empresários. Mas, segundo Fábia, independentemente dos resultados práticos trazidos pela intervenção federal, a expectativa é de que ela alimente tantos os discursos eleitorais como as indicações para o cargo da pasta. “No caso das secretarias estaduais de segurança, penso que a Polícia Federal, que conquistou a hegemonia nos últimos três mandatos, vá perder espaço para o Exército. Será preciso levantar os dados no futuro”, comentou.
Segundo a especialista, a segurança pública, colocada como pauta principal do Congresso neste ano, será um dos maiores influenciadores nas campanhas eleitorais de 2018. “A partir do que observei durante minha pesquisa, que na verdade serviu como um indicador das disputas por poder entre instituições estatais no setor da segurança pública, posso dizer que a intervenção federal no Rio representa uma reconquista de espaço por parte das forças armadas, do Exército”, afirmou Fábia.