Artigo Publicado Originalmente no Jornal O Globo
Muitos gerentes não se consideram responsáveis pela vida de seus subordinados. Penso que aqueles que almejam cargos de gestão raramente levam em conta esse tema. O contexto da liderança exige que a pessoa saiba prever e lidar com situações de emergência. Ou seja, momentos nos quais pessoas correm grande risco de morrer.
Por essa razão que existem os procedimentos de segurança, baseados em análises de riscos e, acima de tudo, no aprendizado advindo das duras experiências do passado.
Entretanto, nenhum procedimento, por mais racional que seja, é capaz de salvar pessoas, se quem deve segui-lo não o faz. Descuidar-se dos processos que previnem acidentes ou ignorar procedimentos em meio a um desastre colocam a vida de muitos em risco. Portanto, não basta que um procedimento exista e que o responsável por ele o conheça: tem de colocá-lo em prática. No caso de um desastre, o indivíduo deve ser capaz de cumprir as etapas do procedimento rigorosamente, mesmo que esteja sentindo frustração, raiva ou medo.
Quando os acidentes acontecem
As consequências de profissionais que não observam os procedimentos de prevenção de riscos e de líderes sem domínio emocional são os acontecimentos que temos visto ultimamente. Do navio Costa Concordia aos desabamentos de prédios no Rio de Janeiro e em São Paulo, o que observamos são líderes que, em algum momento, não cumpriram os procedimentos essenciais para resguardar a vida de pessoas sob sua responsabilidade. Claro que viajar de navio não é uma atividade frequente, mas como imaginar que prédios de escritórios e consultórios médicos estejam com graves problemas em sua estrutura, manutenção e conservação, a ponto de ruir?
O ônus da liderança
Penso que uma boa forma de começar a tratar da questão é se conscientizar do ônus da liderança. Nas organizações, observo pessoas imaturas que desejam ser gerentes o quanto antes. Mas os reais motivos por trás dessa meta são o status, o dinheiro e o poder envernizados por um discurso de realização profissional. Como indivíduos que não dominam sua própria ansiedade e não lidam com a própria frustração serão capazes de liderar e se responsabilizar por outras pessoas?
O sucesso profissional não pode ser visto como uma solução para os problemas da vida. Mesmo para ser bem-sucedida, a pessoa tem de estar preparada em todas as suas dimensões, particulares e profissionais. Ou será esmagada pelo próprio êxito. E, se alguém considera que ser gerente é tão-somente um sinal de sucesso, então está muito distante do preparo necessário para chegar a esse cargo.
O indivíduo que almeja um posto de liderança deve ter, acima de tudo, propósitos elevados. Querer construir algo por meio das pessoas. Responsabilizar-se pelo desenvolvimento delas e zelar por sua segurança. Apesar de possuir muitos aspectos positivos, poucas carreiras são tão frustrantes quanto a de liderança, especialmente a liderança executiva. Afinal, conseguir resultados por meio de pessoas exige resiliência, dedicação, manejar paradoxos e política, só para mencionar algumas das competências necessárias para exercê-la.
Preparar líderes
Quando o líder despreparado ou imaturo enfrenta situações de emergência, é que se perdem vidas. Ele irá transferir responsabilidades, apavorar-se, procurar salvar-se primeiro e irá se descuidar dos demais. Já o bom líder sabe que, nessas ocasiões, tão importante quanto sua fala, é orientar todos sobre o que fazer. Sua postura, mostrando conhecimento, determinação e coragem, é essencial. Nenhuma ação gera mais perdas de vidas do que a ausência do líder no momento de emergência.
Uma liderança responsável começa com a consciência, daqueles que desejam exercê-la, do ônus que a envolve. Amadurecer líderes e desenvolver pessoas são tarefas que exigem tempo, conhecimento, exercícios e experiência. Mas temos de fomentar o propósito de preparar bons líderes e fazê-los se interessar em ocupar posições relevantes nas empresas e no mundo.
Fonte: http://www.silviocelestino.com.br/profiles/blogs/os-lideres-em-situacao-de-emergencia
Os Líderes em situação de emergência
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