Nós policiais militares do DF estamos realizando a já famigerada Operação Padrão, também conhecida por Operação Tartaruga. Por lei, assim como em outros países, por prestarmos um serviço essencial à sociedade, somos proibidos de fazer greve. No entanto, para não termos nossos direitos trabalhistas e interesses profissionais olvidados e negligenciados, como tem sido feito ao longo da história deste país, adotamos uma estratégia bem simples para chamar a atenção da população, qual seja: realizar apenas o trabalho que está legalmente previsto, nada a mais, nada a menos. Essa estratégia também é conhecida nos países anglo-saxônicos por “work-to-rule” ou “slowdown”. Na Europa e na maioria dos países latino-americanos, recebe o nome de “greve italiana”. Vejam, os senhores, então, que nós não estamos reinventando a roda. Trata-se de um mecanismo adotado por instituições policiais mundo afora para que os direitos de seus agentes sejam garantidos. Mas como sempre estivemos acostumados a trabalhar mais do que somos obrigados, preenchendo inclusive lacunas deixadas por outros órgãos, esse “plus” que deixará de ser feito com certeza vai gerar prejuízos à sociedade, que logo sentirá a diferença. A criminalidade vai aumentar.
Este post não tem a finalidade de expor as nossas causas, que são muitas e justas. Exporei, no entanto, apenas a causa salarial, que tem sido a mais revoltante, apenas para que tenham uma noção do cenário. O atual governador do DF foi eleito contanto com votação quase unânime entre os policiais e bombeiros militares de Brasília. Para obter esse tal fez 13 promessas de campanha, assinadas em ato público. No entanto, dessas 13, ele cumpriu apenas 3, as mais insignificantes, diga-se de passagem. O salário pago hoje aos policiais e bombeiros militares do DF é o menor da área de segurança pública do DF e não é o maior do país, como leigos e a mídia revanchista insistem em afirmar. Justo nós que somos os que mais expomos nossa saúde e integridade física diariamente nas ruas. A carreira de policial e bombeiro no DF é de nível superior. Porém, rebemos salários menores aos pagos por várias carreiras de nível médio e, até mesmo fundamental, dos três poderes.
Diante desse quadro, recomendo que tenham cuidado redobrado nesse período. Cohen e Felson (1979), por meio da teoria das atividades rotineiras sobre vitimização por incidentes de violência física, afirmaram que o acontecimento de um crime envolve, necessariamente, três fatores: a convergência no tempo e no espaço de ofensores motivados, um alvo disponível, e a ausência de um guardião para prevenir o crime. Ofensores motivados não faltam. Guardiões são poucos e estão desmotivados. O alvo, que é você, tem, então, que se precaver. Evite ficar fora de casa, principalmente a noite, e participar de atividades públicas envolvendo muitas pessoas desconhecidas e se envolver com pessoas que tenham perfil de serem ofensores em potencial.
Infelizmente, o preço de uma sociedade que não dá o devido valor àqueles que arriscam suas próprias vidas para salvar as de desconhecidos é esse, a falta de liberdade! Observem o paradoxo nisso tudo. Somos tão acusados de oprimir, mas, sem nós, as liberdades individuais não são exercidas plenamente, ainda mais num país tão pouco civilizado como o nosso. Criticar a polícia é fácil. Quero ver fazer o que nós fazemos, recebendo tão pouco em retorno, seja em pecúnia ou em forma de apreço e reconhecimento social . Eu tenho minha arma pra me defender. Pra vocês, boa sorte!
(Recebi de um amigo oficial, por enquanto irei preservar a identidade dele, mas estamos todos juntos na luta por uma corporação melhor)