À Queima Roupa
Arthur Trindade
Sociólogo, ex-secretário de Segurança Pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
“Se os conteúdos se confirmarem, Moro perderá as condições políticas para aprovar leis no Congresso Nacional e propor acordos com os governadores e prefeitos”
O que é mais grave: invadir o telefone de autoridades públicas ou o conteúdo do que essas autoridades tratavam?
As duas coisas são graves. Hackear mensagens é crime. Em se tratando de autoridades é mais grave ainda. Mas não podemos fingir que desconhecemos o conteúdo das mensagens.
Pelo que o site The Intercept publicou até agora, houve uma conduta ilegal entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato?
Aparentemente os conteúdos divulgados configuram desvio de conduta. Mas creio que ainda é cedo para vereditos. O que chama atenção até agora é que o ministro e o procurador não desmentiram as mensagens.
Essa conduta compromete a credibilidade da Lava-Jato?
Haverá muita discussão sobre isso. Mas creio que o volume e a robustez das provas utilizadas na grande maioria dos casos não deixam dúvidas sobre os crimes cometidos.
Acha que as condenações, inclusive do ex-presidente Lula, podem ser revistas?
Os conteúdos divulgados no domingo levantaram uma grande dúvida sobre a imparcialidade do julgamento do caso do tríplex.
E a permanência de Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública? Ele deve se afastar?
Se os conteúdos se confirmarem, Moro perderá as condições políticas para aprovar leis no Congresso Nacional e propor acordos com os governadores e prefeitos. Em suma, perderá autoridade política.
É possível descobrir quem invadiu os telefones?
Sim. A Polícia Federal tem condições técnicas para descobrir a fonte. Mas há também a hipótese que as informações foram vazadas por alguém.
Acha que o trabalho do The Intercept é correto, independentemente da fonte?
O trabalho de jornalismo investigativo tem sido muito útil para revelar casos de desmandos e corrupção. Por conta do seu trabalho, o jornalista Glenn Greenwald recebeu os prêmios Pulitzer nos Estados Unidos e Esso no Brasil.
Informações do Jornal Correio Braziliense – CB Poder